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Você sabe o que seu filho faz na web? Especialistas dizem o que monitorar

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Imagem: Getty Images

Carolina Prado e Simone Cunha

Colaboração para Universa

31/10/2018 04h00

Limitar o tempo on-line ou dar uma olhada na tela dos filhos de vez em quando não é garantia de uma supervisão eficiente. De clique em clique, as crianças podem desvendar páginas, vídeos e jogos que não condizem com a idade. Adicionar e bater papo com estranhos é outro grande risco. Por isso, alguns cuidados, por parte dos pais, não são exagerados. "A responsabilidade de filtrar tudo cabe aos pais. Eles devem sentar com as crianças, brincar junto e questionar. Estar realmente atento a cada movimento feito na internet", afirma a psicóloga Dora Sampaio Góes, do Grupo de Dependência Tecnológica do Instituto de Psiquiatria (Ipq) da USP.

De nada adianta proibir a criança de brincar na rua e soltá-lo na Internet. De acordo com a advogada especialista em Direito Digital Alessandra Borelli, coordenadora e autora do "Manual de Boas Práticas para Uso Seguro das Redes Sociais" da OAB/SP, o primeiro passo é observar e fazer valer a classificação indicativa para certos acessos. Também é essencial impor limites e restrições e explicar o motivo pelo qual eles estão sendo colocados. "É preciso participar e conhecer o que mais encanta o seu filho no universo digital. E, sempre que possível, desfrutar desse momento de interação tecnológica junto com ele", reforça.

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Na prática, no dia a dia corrido das famílias, o desafio é imenso. Por isso, reunimos algumas orientações importantes a seguir. As sugestões das especialistas estão baseadas em questões relatadas pelas próprias mães.

Uso limitado

"Meus filhos ficam conectados apenas 40 minutos por dia, quando chegam da escola. Às vezes, eles querem ficar mais um pouco, mas não abro mão. Decidi impor um limite porque percebi que minha filha estava ficando muito ansiosa quando passava mais tempo no celular."

Ligia Bazotti, 33 anos, fotógrafa, mãe de Olivia, 5 e Bernardo, 3

O que diz a especialista: para a psicóloga, crianças com idade entre três e cinco anos devem ficar conectados por, no máximo, uma hora por dia, sempre sob monitoramento. "Só que para impor limites tem que oferecer outras opções para a criança se divertir. Ela precisa realizar outras atividades e sentir prazer com elas", afirma.

Conteúdo adulto

"Minha filha estava na sala e, de repente, foi para o quarto e fechou a porta. Fui atrás e ela escondeu o tablet embaixo do travesseiro. Pedi o tablet e vi uma página com pessoas dançando nuas. Procurei entender como conseguiu chegar nessa página e ela repetiu o caminho, que começou a partir de um desenho da Peppa Pig. Fiquei brava, expliquei que aquele conteúdo não era adequado, que ela só podia ver desenho. Ela chegou a ficar de castigo, umas duas semanas sem mexer na Internet."

Renata Ihanes Cipriano, 36 anos, assistente financeiro, mãe de Rafaella, 6

O que diz a especialista: a criança não tem culpa se foi deixada sozinha navegando por uma plataforma que a colocou em uma posição vulnerável, possibilitando o acesso a algo não indicado para a sua idade. "É preciso fazer da situação uma oportunidade para orientar e ajudá-la a escolher as plataformas que ela utiliza", fala a advogada. Para as especialistas, nesse caso, o castigo poderia ter sido dispensado.

Pessoas estranhas

"Meu filho chegou a ter um canal no Youtube, mas não mexe mais. Agora, ele participa de alguns jogos on-line e interage com os amigos da escola. Converso bastante com ele para não falar com pessoas desconhecidas e fico de olho, porque isso me preocupa."

Debora Ramos Batista, 44 anos, administradora, mãe de Heitor, 9

O que diz a especialista: é importante acompanhar, limitar e até bloquear contatos. Para isso, é preciso entrar em todos os jogos que a criança tem costume de acessar, regularmente. Só abrindo o aplicativo é possível ver as notificações que trazem os pedidos de amizade. Para a advogada, os pais devem conversar sobre o assunto e alertar para a existência de estranhos mal-intencionados que tentam se passar por outras crianças, jogadores de futebol, agenciadores de modelos e até artistas.

Conteúdo inútil

"Meu filho quer acompanhar um youtuber que só ensina coisas idiotas. Não considero o conteúdo adequado, porque o youtuber é mais velho e ensina brincadeiras bobas e fala palavrões. Pedi para meu filho não ver mais. Ele tentou argumentar que era engraçado, mas procurei mostrar que não era bom e decidi proibir mesmo."

Adriana Fogaça, 38 anos, professora, mãe de Mateus, 8

O que diz a especialista: nessa fase, a autonomia da criança, que não tem discernimento suficiente para decidir por si mesma, pode e deve ser limitada. A psicóloga diz que é importante explicar o motivo da proibição, dizer que o conteúdo não é bacana e que não vale perder tempo com ele, justamente como a Adriana fez. "Aproveite a chance para exercitar na sua criança o pensamento crítico, de forma que ela possa, por si só, perceber quão inúteis e irresponsáveis podem ser algumas das mensagens transmitidas na Internet", acrescenta Alessandra.

Sonho youtuber

"Meu filho adora gravar vídeos e pede para postar como se fosse um youtuber. É difícil dizer não, então, deixo ele gravar, mas só posto no Facebook porque consigo limitar quem poderá ver. Também não deixo ele gravar nada com uniforme da escola ou que indique a localização da nossa casa."

Nathalie Laura Soares Vallejos de Oliveira, 33 anos, bancária, mãe de João Vitor, 5

O que diz a especialista: hoje, a questão da exposição é central. Portanto, a dica da psicóloga é deixar a criança fazer os vídeos, mas limitar ainda mais o grupo que tem acesso ao material: mandar no grupo da família no Whatsapp, por exemplo. "Dá para mostrar que as pessoas estão vendo e curtindo. Mas não precisa postar na Internet, melhor preservar a segurança da criança". 

Conversas agressivas

"Meu filho assiste a uns vídeos com palavrões e participa de alguns jogos em que as conversas são bem agressivas. Quando questionei os vídeos, ele disse que sabia que não devia usar esses termos e decidi dar um voto de confiança. Em um jogo específico, desabilitei o bate-papo, mas percebi que o áudio se mantinha e as conversas eram bem agressivas, então, pedi para tirar o volume. Não gosto de vetar sem fazê-lo entender o porquê, quero que ele aprenda a realizar essa seleção por si mesmo."

Debora Rodrigues Caldas, 43 anos, servidora pública, mãe de Fabio, 9

O que diz a especialista: a psicóloga defende que o ideal é evitar ao máximo os conteúdos carregados de violência e agressividade. "Tente fazer escolhas mais interessantes junto com ele, pois isso vai ajudá-lo a desenvolver a personalidade. Melhor não deixar ele ter acesso a conteúdos impróprios, para evitar uma construção equivocada do caráter. É preciso ativar a empatia dele, e não o contrário".