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Janaína Paschoal apoia "brincadeiras" de Bolsonaro e adoção ante o aborto

Danilo Fernandes/FolhaPress/Arte UOL
Imagem: Danilo Fernandes/FolhaPress/Arte UOL

Luiza Souto

Da Universa

17/10/2018 04h00

Deputada estadual mais votada na história do país, com mais de 2 milhões de votos, a advogada paulistana Janaína Paschoal, que se elegeu pela sigla de Jair Bolsonaro, o PSL, diz que seu líder é mal-interpretado nas “brincadeiras” que faz (uma dessas brincadeiras, segundo a deputada, é chamar de “fraquejada” o fato de ele ter tido uma filha mulher), e que "qualquer coisa é melhor do que eleger alguém com partido sabidamente corrupto”, referindo-se ao petista Fernando Haddad. Professora do departamento de Direito Penal, Medicina Forense e Criminologia da USP, e dona de um escritório de advocacia, ela diz que vai se licenciar ao assumir a carreira pública. Única doadora da sua campanha (R$ 44 mil), “porque acredito que é a forma correta, sem dinheiro público ou particular”, ela pretende apresentar na Assembleia projetos voltados para a mulher.

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Você disse que abandona Bolsonaro se ele se mostrar autoritário. Na sua opinião, ele é autoritário?
Não. Todos os sinais que ele me deu foram de uma pessoa democrática, tolerante. Não concordo com algo que venha a ser autoritário, mas não falei sobre nada específico. Fui criticada por causa dessa fala, mas foi uma pergunta que me fizeram de forma genérica. Tenho minha história e convicções, e se o apoio é porque entendo que é a melhor opção. Não estou perdendo minha consciência crítica, conforme aconteceu com os petistas. Tudo que o líder deles fala eles dizem amém.

Em quais pontos vocês dois divergem?
A gente converge na convicção de que o PT não pode voltar. Prefiro não falar sobre nossas diferenças porque depois vai se fazer a manchete em cima disso.

Você fala que votar em Bolsonaro “é dizer não à corrupção”. O Ministério Público Federal de Brasília, entretanto, investiga a possibilidade de o guru dele, o economista Paulo Guedes, ter cometido fraude à frente de fundos de investimentos (FIPs) administrados por ele.  Não é contraditório?
Que se investigue. Mas contra o Bolsonaro não tem nada. Ninguém tem um senão sobre o comportamento ético dele, nenhum escândalo de corrupção envolvendo esse homem. Melhor do que colocar alguém com partido sabidamente corrupto.

Ele tem seu apoio quando fala que uma mulher não merece ser estuprada porque é feia --o que fez com a deputada Maria do Rosário (PT) --, e quando coloca uma criança para fazer gesto de arma, conforme fez com duas crianças, recentemente?
Não me agrada esse comportamento, mas por outro lado, tem um monte de esquerdista que coloca a criança para dançar funk em posição sexualizada e acha ok. Acho que a criança tem que ser preservada. Quanto à fala do estupro, tem que contextualizar. Ele estava defendendo a vítima e ela, o estuprador. Isso precisa ser dito. Claro que prefiro que as pessoas não se xinguem. Mas quem estava defendendo a mulher era ele. (Em 2003, um adolescente estuprou e matou a jovem Liana Friedenbach, além de matar seu namorado, Felipe Caffé, em São Paulo. Durante entrevista sobre o tema, Bolsonaro defendeu a redução da maioridade penal, e Maria do Rosário teria dito, segundo Bolsonaro, que o acusado era “apenas uma criança”. Os dois discutiram e ele disse que a deputada não "merecia ser estuprada". Onze anos depois, em 2014, Bolsonaro repetiu a agressão. Por esse episódio, foi condenado a pagar à Maria do Rosário uma indenização de R$ 10 mil).

Ele faz críticas a homossexuais (já disse que “ter filho gay é falta de porrada”, e que “seria incapaz de amar um filho homossexual”), e falou que sua única filha mulher foi uma “fraquejada”. O que acha dessas falas?
Ele faz essas brincadeiras e acaba sendo mal-interpretado, porque a boa vontade com ele não é tão grande. Não gosto de brincadeira assim, mas não vi nele nenhum ímpeto de fazer alguma coisa contra conquistas já alcançadas pela população LGBT, por exemplo. Senti que o que o incomoda, e também a mim, é a erotização. Não pode colocar na capa de uma revista uma menina trans, por exemplo. Está expondo uma criança como bandeira.

Qual proposta pretende apresentar quando chegar na Assembleia Legislativa de São Paulo?
Quero apresentar projeto de lei garantindo à mulher o direito de escolher o tipo de parto que terá nas maternidades públicas. Pode ser normal ou cesariana, por exemplo. Já existe um conjunto de regras do Conselho Federal neste sentido, desde que já esteja na 39ª semana; entretanto, já peguei casos em que a mulher quis a cesárea mas teve que esperar para fazer o parto normal. Isso é uma prioridade.

Quais são suas propostas para diminuir a violência contra a mulher?
Quanto à violência doméstica, fortalecer o trabalho de mediação de conflitos. Há casos em que tem que prender o agressor mesmo, mas às vezes a mulher quer refazer a relação, e para esses casos a mediação do conflito acaba sendo mais efetivo, até como forma de prevenção. E melhorar as casas de acolhimento voltadas para esse público.

E como combater o estupro, crime que em São Paulo só aumenta?
Fortalecendo o banco de perfis genéticos. O estupro deixa vestígios como esperma, pelo, pedaço de pele, e com exame de DNA fica mais fácil identificar autores do delito, além de evitar que se repita. Já tem legislação prevendo coleta do material dos condenados presos, mas ela não está sendo observada. Primeiro vou verificar se é necessário ter uma lei nova para aprimorar a legislação, ou se é preciso apresentar um projeto nesse sentido. Meu papel pode ser também o de conversar com autoridades sobe essa necessidade.

Você já se pronunciou contra o aborto. Por que, na sua opinião, a mulher não pode fazer o que quiser com seu corpo?
O problema é que tem outro ser na parada. É claro que a mulher é livre. Somos donas dos nossos corpos, assim como os homens, mas quando entra outro ser é diferente. Ela não tem direito sobre o outro. Tem que se tomar um pouco de cuidado com esse discurso. Por isso, pretendo ajudar a fortalecer o programa da entrega legal, em que a mulher que não pode cuidar da criança e a entrega para adoção; e também fortalecer orientação com relação aos métodos contraceptivos.

Na sua opinião, qual a melhor forma de discutir a sexualidade nas escolas?
Acredito que o professor, para esse tema, tem que ser aquele que recebe a dúvida, não o que instiga a discussão. As perguntas surgem, principalmente, quando o professor de ciências dá aula sobre sistema reprodutivo. O que acho que aconteceu, nos últimos tempos, foi uma antecipação indevida do debate de determinados temas. Meu sobrinho acabou de fazer 13 anos e fez um trabalho sobre aborto na escola como se fosse direito da mulher. Recebi relatos de que o menino é obrigado a pintar a princesa e a menina a pintar o carrinho como exercício de tolerância. Ouvi pessoas dizendo que ninguém nasce menino ou menina. Desculpa, mas nasce menino ou menina, sim. Criaram verdades e estão ensinando isso a crianças com seis, sete anos. Mas se o aluno chegar e falar que é homossexual, o professor vai ter que debater e acolher. Não pode ter extremismo para nenhum lado.