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Depois de perder dinheiro em dois negócios, ela fatura R$ 4 milhões por ano

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Marina Oliveira

Colaboração para Universa

25/09/2018 04h00

A empresária Aline Monteiro de Barros Bignardi, 47, é de uma família que, desde o fim da década de 1960, investe no ramo de óticas. Ela tinha 20 anos quando assumiu sua primeira loja e 22 quando teve de encarar a primeira falência. Depois, viria mais uma grande perda financeira. Mas o gosto pela adrenalina de empreender a fizeram tentar novamente e, desta vez, prosperar. 

"O negócio de ótica está na família há mais de 77 anos e se iniciou com meus pais. A Ótica Bebedouro [na cidade de mesmo nome, em São Paulo] foi fundada em 1969 e já tinha 22 anos de história quando eu assumi a gestão, em 1991. Foi meu primeiro desafio na área. 

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Só que, apesar da minha dedicação, o modelo do negócio estava desgastado. As contas da empresa também não iam muito bem. Então, comecei a me questionar se valeria a pena o desgaste físico, emocional e financeiro para reerguer a primeira loja da família. Sem esperança, após 23 anos de funcionamento, sendo dois na minha gestão, resolvi encerrar as atividades. 

A decisão fez eu me sentir péssima, afinal, todo meu esforço não foi suficiente para conseguir reerguer o negócio. Pensei nas horas trabalhadas, nas noites sem dormir, em tudo o que fiz para tentar virar o jogo. É difícil encarar o insucesso. Por outro lado, me senti aliviada. Quando as coisas dão errado por muito tempo, precisamos de um espaço para respirar, organizar as ideias e se preparar para construir uma nova história. 

Breve mudança de área

Aline Monteiro de Barros Bignardi - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Sou formada em Letras-Inglês e, em meu último ano de faculdade, comecei a trabalhar na rede estadual como professora de inglês. Era uma época bastante corrida e eu conciliava o trabalho na ótica com a escola e a faculdade, além de ser recém-casada e ter um filho pequeno (hoje, sou mãe de dois). Ao fechar a loja, decidi me dedicar exclusivamente à carreira de professora, alternando entre escolas públicas e particulares. 

Eu gosto muito de trabalhar com educação. Sempre tive muito sucesso nessa área e, nos últimos anos, coordenava uma escola e também dava treinamentos para professores. Mas, por mais que fizesse, sempre ficava com a sensação de que podia fazer mais. Quando você trabalha para alguém, tem limitações, e nem sempre consegue colocar suas ideias em prática e acaba se frustrando.

Resolvi fazer uma segunda tentativa de investir em ótica, abrindo uma sociedade com meu irmão mais novo. Compramos uma ótica que estava fechando em Bebedouro. O problema aqui é que estávamos em fases diferentes na vida. 

Eu, em uma situação financeira estável, não dependia da loja para viver. Já meu irmão não tinha outra fonte de renda e dependia 100% do negócio, portanto começamos a ter divergências de ideias sobre a condução do negócio e na sociedade. 

Ao trabalhar com família, a linha entre o pessoal e o profissional é muito tênue. É importante saber dividir as coisas. Por fim, para que nossos problemas não afetassem o relacionamento familiar, optei por desistir da sociedade e deixá-lo sozinho no negócio, que funciona até hoje. Perdi tudo o que investi. 

A redescoberta de um negócio

Três anos após a saída da sociedade na ótica, vim morar em Florianópolis. Comecei a trabalhar em uma escola particular de Inglês como professora e, em seguida, coordenadora, onde permaneci até 2016, que foi quando minha história mudou novamente.

Naquele ano, em visita a Bebedouro, conheci uma rede de franquias de óticas, que o meu irmão tinha investido, o Mercadão dos Óculos. Apesar de ser uma ótica, é diferente de tudo o que havia experimentado no ramo --a disposição dos produtos e o ambiente aconchegante, por exemplo. Eu não tinha nada disso em minhas óticas anteriores. 

Voltei para Florianópolis e falei para o meu marido [Fabio Liotti]: 'Até o final do mês assinaremos o contrato da franquia'. Mas não tínhamos todos os recursos financeiros para abrirmos a primeira loja em uma capital com grande concorrência, como é Florianópolis. Decidimos, então, chamar o irmão do meu marido para ser nosso sócio. 

'Falir é só o começo da jornada'

O primeiro ano da loja foi um estouro! A loja nasceu no auge da crise econômica brasileira e quebrou todos os recordes de faturamento da rede e número de clientes atendidos. Ao fim do primeiro ano, havíamos faturado R$ 2 milhões.

Abrimos a segunda loja. No segundo mês, conseguimos, com ela, o primeiro lugar mensal de faturamento na rede, que tem mais de 200 unidades. Com um ano, batemos o recorde da primeira loja, faturando um pouco mais de R$ 2,4 milhões. Atualmente, com as duas lojas, faturamos mais de R$ 4 milhões por ano e já temos planos para abertura da loja 3.

Nossas lojas têm uma identidade muito forte, estabelecemos padrões que têm que ser respeitados, tanto em atendimento, quanto em produtos, ambiente e imagem. Todos são encorajados a celebrar as vitórias do dia a dia, como uma meta batida, um cliente que voltou a comprar, um elogio nas redes sociais. Criamos um ambiente competitivo, mas ao mesmo tempo acolhedor, onde as pessoas sentem-se bem e colaboram umas com as outras.

Fechar duas lojas me ajudou a ter sucesso. Quando você perde dinheiro, logo pensa no tempo e trabalho dedicados para conquistá-lo. Daí você dá mais valor e, na próxima vez que vai investir, enxerga cada centavo de maneira diferente, estuda mais e se questiona: 'Esse investimento vai me trazer o retorno que espero? Vale a pena apostar nisso?'

Para quem empreende, falir é só o começo da jornada. Eu venho de uma família de empreendedores e eu cresci nesse ambiente de altos e baixos, inflação, alta do dólar, escassez de mão de obra... E aprendi a não temer esse cenário. Gosto da adrenalina e da aventura, e o que mais me assusta é a ausência de encantamento e surpresas.

Não é fácil trabalhar lado a lado com o marido, mas sabemos que o sucesso das duas lojas se deve a nossa parceria. Hoje, toda nossa renda familiar vem da empresa. Nos tornamos referência para outros franqueados, e alguns até vieram conhecer nossas lojas e aplicar algumas de nossas práticas de sucesso. Isso tem me inspirado em, finalmente, promover o encontro da professora com a empresária e montar uma consultoria empresarial e coaching motivacional. Quem sabe em um futuro próximo estarei viajando e palestrando Brasil afora!"