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Como uma casa bagunçada pode prejudicar sua saúde emocional

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Imagem: Getty Images

Léo Marques

Colaboração para Universa

21/09/2018 04h00

Pilhas de louça suja na pia, documentos espalhados em diferentes gavetas, uma xícara esquecida na sala, roupas jogadas pelos cômodos... Uma casa desorganizada, muito mais que incômodo visual, pode provocar uma série de transtornos, desde estresse, depressão e ansiedade, até doenças físicas como obesidade, diabetes e alergias respiratórias.

"Nossa casa é nosso refúgio, que reflete a nossa vida e como estamos nos sentindo naquele momento. Se ela transmite uma energia positiva, é natural que também nos sintamos bem. Se nosso emocional estiver desequilibrado, muito provavelmente nossa casa também estará uma bagunça", afirma a personal organizer Flavia Taulois, proprietária do Ateliê da Casa Organizers. 

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Glaucineia Gomes de Lima, professora do curso de Psicologia da Anhembi Morumbi, de São Paulo, concorda e complementa: "Casa é sinônimo de abrigo, proteção e um espaço de construção e reconstrução. Quando ela não se mostra acolhedora, impossibilitando que um ou mais membros ocupe seu lugar pode haver efeitos sobre o modo como as pessoas cuidam da sua alimentação, do sono ou de como realizam o cuidado com o corpo e com a saúde".

Um estudo publicado na Environment and Behavior por pesquisadores da Universidade de New South Wales, na Austrália, mostrou que ambientes desorganizados provocam estresse e favorecem escapadas da dieta. A equipe do estudo descobriu que uma cozinha desorganizada faz o que as mulheres comam duas vezes mais.

"Os resultados mostram que ambientes mais organizados levam as pessoas a comerem menos e que, mesmo que o indivíduo esteja em um local caótico, recordar momentos de autocontrole poderá ajudá-lo a resistir melhor à pressão", conta o autor da pesquisa Lenny Vartanian.

A desorganização pode levar até mesmo a uma má alimentação, isso porque a falta de planejamento faz com que a pessoa não seja capaz de organizar suas compras e seu cardápio da semana, gerando problemas de obesidade, diabetes e colesterol alto. 

Bagunça; desorganização - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Baixa produtividade

A falta de organização pode levar, ainda, ao comprometimento da qualidade da vida em diversos outros aspectos. Isso porque a bagunça pode acabar deixando as pessoas confusas, sem foco, o que diminui a capacidade de produção. "Quando se passa uma parte significativa de tempo procurando coisas, inevitavelmente, você perde compromissos, paga conta com multas e até mesmo deixa de usar seu tempo para coisas que lhe dão prazer", alerta Flavia.

Outra questão importante a se levar em consideração é que dificilmente ambientes desorganizados e cheios de coisas são limpos com a frequência que deveriam, acarretando alergias, doenças de pele e até bronquite. 

Bagunça afeta crianças e idosos

Esses aspectos se tornam ainda mais importantes quando há crianças em casa.

"Tanto a organização dos espaços da criança como da própria casa como um todo é fundamental para o desenvolvimento, a aprendizagem e o bem-estar infantil, inclusive por uma questão de integridade física. Especialmente para as crianças menores, uma casa pode apresentar riscos iminentes como tomadas sem dispositivos de segurança, sacos plásticos, produtos de limpeza, remédios e materiais cortantes em locais inadequados", diz Silvana Alves Freitas, coordenadora adjunta do curso de pedagogia das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), de São Paulo. 

Já a psicóloga Glaucineia levanta ainda outro aspecto importante. "A desorganização dos objetos no ambiente pode causar uma certa desestabilização no mundo interno de uma criança, como ser que está aprendendo sobre o ambiente e interagindo com ele", alerta. E Silvana complementa: "Crianças estão o tempo todo em movimento, brincam e, para isso, manipulam e espalham objetos. Nesse sentido, a bagunça é necessária, mas, depois de terminadas essas atividades, a brincadeira seguinte deve ser a organizar e guardar tudo". 

Se a organização influencia no desenvolvimento de uma criança ou na performance de quem ainda está na ativa, o que dizer, então, do público da terceira idade?  As dificuldades de locomoção ou a perda de memória, comum nesse período, acende um alerta para os cuidados necessários, principalmente com a livre circulação nos ambientes. Isso inclui a adequação da disposição dos móveis, iluminação e pisos, evitando possíveis quedas.

O cuidado com objetos pontiagudos ou cortantes, tapetes, quinas de mesas, fios expostos, entre outros, também devem ser levados em conta. "Mesmo que o idoso seja lúcido e ativo, é uma fase em que ele costuma ter mais dificuldade. A família, muitas vezes, não tem disponibilidade para dar esse suporte tão importante", comenta Flavia. 

Organizado, mas sem exagero

Se por um lado a desorganização pode trazer diversos problemas em diferentes fases da vida, por outro, o excesso de organização também pode se tornar um problema quando é causa e consequência de sofrimento psicológico. Pode impedir, por exemplo, o laço afetivo, o trabalho criativo e levar a inibições, impedindo a expressão, ou pode até mesmo ser consequência de algum sofrimento, uma defesa contra a angústia ou uma resposta diante de uma perda ou mal-estar. 

Porém, há quem não se importe muito em viver em meio à bagunça. Para a psicóloga Glaucineia, cada pessoa tem sua forma particular de se relacionar com a própria morada. "Para alguns, um excesso de organização indica o modo possível de lidar com o local em que vive, enquanto que para outros, um espaço extremamente limpo e organizado pode ser asfixiante e angustiante"

Ela complementa: "O que se chama de bagunça, pode ser necessário para a organização psíquica de algumas pessoas. Na adolescência, a bagunça se faz presente por ser um momento de transformação do corpo, da relação com os pais, com a imagem, com a linguagem. Em momentos de crise, muitas vezes, a bagunça também pode aparecer. Entender o espaço de moradia apenas como um lugar de organização da mobília é perder de vista que este espaço reflete aspectos sociais, culturais e psíquicos". 

Quatro dicas da personal organizer Flavia Taulois para uma casa mais organizada:

Menos é mais - Antes de começar a organizar, descarte aquilo que não é mais usado ou não tem mais sentido na sua vida. Isso vai ajudá-lo na organização emocional, a dar importância aos objetos necessários e úteis. 
 
Vá aos poucos - Não deixe para organizar e se livrar de coisas desnecessárias de uma vez. Reserve algum tempo por dia ou na semana para se dedicar a um cômodo. Acumular vai deixá-lo com uma enorme preguiça. 

Processos da organização - Categorize roupas e objetos para que tenha uma melhor noção da utilização correta dos espaços, unindo sempre funcionalidade e conforto.
 
Produtos organizadores - Preste atenção na sua necessidade, cada pessoa tem uma. Algumas têm muitos sapatos, outras bijuterias ou muitos itens na cozinha. A partir daí, busque, por exemplos, organizar os itens em caixas, divisórias nas gavetas, cabides padronizados e pastas para documentos.