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Mulheres disputam pela primeira vez por melhor direção em "Oscar pornô"

A atriz Mila Spook concorre ao prêmio de melhor diretora em "Oscar" da indústria pornô brasileira Imagem: Divulgação

Marcos Candido

Da Universa

11/09/2018 04h01

O Prêmio Sexy Hot, considerado o “Oscar da pornografia brasileira”, terá pela primeira vez em cinco edições mulheres concorrendo na categoria de melhor direção. Em uma indústria conhecida pelo poderio masculino, as indicadas Mila  Spook, 29, e May Medeiros, 30, são conhecidas por conduzirem enredos e enquadramentos que buscam o prazer feminino no gênero.

“Você não vê uma mulher recebendo um oral na ‘Brasileirinhas’” direto, tá ligado?”, brinca a gaúcha Spook. Há quatro anos no meio trabalhando como atriz pornô, ela decidiu abrir a própria produtora há um ano. “A pornografia me fez conhecer o pior do homem. Pensei em desistir porque muitas das produtoras com as quais trabalhei não se preocupavam com a saúde das mulheres. O pornô nacional ainda é extremamente machista. Foi aí que decidi fazer as coisas do meu jeito”, diz.

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No filme concorrente à categoria mais prestigiada da noite, Mila dirige e contracena com um ator e uma atriz. “É diferente. Começa comigo e o ator acordando juntos. Ele me traz café na cama. A mulher recebe sexo oral. A introdução dos meus filmes não demora muito. Se eu quisesse enredos longos demais eu assistiria novela da Globo, mas não é só chegar e dar uma ‘estocada’. Há todo um carinho com a mulher”, explica.

A diretora May Medeiros: 'Comecei como contestação dos corpos' Imagem: Divulgação

Diretora há nove anos, a ex-BBB 12 Mayara Medeiros começou na carreira há nove anos e já assinou 14 direções. “Comecei como parte de um movimento de questionamento do corpo. O que víamos - e ainda se vê - são estereótipos de corpos femininos. A mulher de unha grande, do bronzeamento artificial. Não existia uma variedade de corpos e somente uma forma de sexo”.

As duas diretoras são parte de um movimento para incluir mais mulheres e novos formatos na indústria pornográfica. Nome mais famoso da iniciativa, Erika Lust se tornou famosa em 2013 ao criar um selo e estilo próprios de produções direcionadas à mulher. E, claro, por se dizer abertamente feminista e contrária ao modelo clássico de pornografia.

A mesma linha de pensamento ganhou ainda mais força no Brasil com a criação do selo “Sexy Hot Produções”, em 2017. A matemática é simples: as produtoras fazem os filmes; o selo compra essas obras e veicula a mais de 300 mil assinantes na TV por assinatura. Assim, marcas como a Xplastic, que há vinte anos cria conteúdo fora do mainstream, conquistaram um público mais amplo e mais liberdade para explorar novos formatos.

O salto definitivo se deu quando uma pesquisa Playboy do Brasil, grupo que controla o Sexy Hot, concluiu que 54% dos assinantes de canais adultos são mulheres. Em resposta, Mayara já assinou em abril a direção de “O Encontro”, filme da Xplastic financiado pelo selo Sexy Hot Produções. A equipe da produção é formada por mulheres da maquiagem à direção de fotografia.

Pornô feminista?

Não raro, manchetes apontam os filmes de May e Spook como feministas. As duas preferem não utilizar o termo -- mas usam a atitude do movimento.

“Não gosto do rótulo”, explica Mayara. “As pessoas são feministas. Não existe produto assim. Você não vai ao mercado e compra isso. Há pessoas feministas fazendo pornografia. E isso é maravilhoso”, rebate May.

Mila também se encontrou na força coletiva das mulheres. Além da Xplastic, decidiu que vai atuar só nos próprios filmes. “Quando disse que iria abrir minha produtora, fui criticada pelos homens do meio. E eu disse que iria ser indicada, que iria ganhar prêmio. Preciso mostrar que nós mulheres vamos e somos capazes de fazer qualquer coisa”.

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