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"Pensei que meu ex me mataria", diz mulher agredida após celebrar separação

Tatyana Araújo afirma ter sido agredida pelo ex-marido - Arquivo Pessoal
Tatyana Araújo afirma ter sido agredida pelo ex-marido Imagem: Arquivo Pessoal

Talyta Vespa

da Universa

31/08/2018 04h00

Em 18 anos de casamento, a dona de casa Tatyana Araújo, de 32 anos, afirma ter sido agredida diversas vezes. “Ele quebrou meu nariz, colocou uma faca no meu pescoço e quase quebrou meu braço. Foram vários tipos de agressão”, conta à Universa. Mas, há pouco mais de um ano, a paraibana decidiu dar um basta e se separar. O alívio foi tanto que, para comemorar o aniversário da separação, ela fez uma festa, em julho. O evento foi divulgado por veículos de mídia, o que, segundo Tatyana, incomodou o ex.

A dona de casa afirma que o ex, de 41 anos, foi até a casa dela, na terça-feira (28), para tirar satisfações. “Nossa filha mais nova, de 13 anos, mora com ele. Ele a levou até a minha casa e disse que, a partir daquele dia, ela moraria comigo. Eu não queria mudá-la de escola, mas ele foi incisivo. Gritou comigo, me chamou de puta e de piranha. Quando começou a chegar mais perto de mim, senti que ia me machucar e pensei: ‘Se eu gritar alto, os vizinhos vão escutar e virão me ajudar’. Gritei, mas não adiantou”, afirma.

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“Peguei o celular para filmar, para ter alguma prova contra ele. Quando percebeu, me deu um tapa e o celular voou longe. Continuou me batendo e, por fim, atirou uma pedra em direção ao meu rosto. Ele disse: ‘Já que você quer tanto aparecer na televisão, vai aparecer com a cara deformada’. Por sorte, coloquei o braço na frente”, conta. Tatyana correu para fora do portão, ainda com a expectativa de ser socorrida pelos vizinhos, e preocupada com o que ele poderia fazer lá dentro. “A todo momento, achei que me mataria".

Segundo Tatyana, arremessou uma pedra em direção ao seu rosto. Ela se defendeu com o braço - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Segundo Tatyana, arremessou uma pedra em direção ao seu rosto. Ela se defendeu com o braço
Imagem: Arquivo Pessoal

Ao empurrar o ex, Tatyana afirma ter conseguido fechar o portão de casa – o que irritou ainda mais o homem. “Ele começou a chutar o portão. Eu pensei: ‘Se ele entrar aqui agora, me mata’. Estávamos eu, minhas duas filhas e uma amiga pedindo socorro. Depois de meia hora, finalmente, os vizinhos o expulsaram dali. Eu chorei aliviada, mas corri para a delegacia para denunciá-lo".

A denúncia de Tatyana foi rejeitada em três delegacias. Moradora de Irajá, na Zona Norte do Rio de Janeiro, a paraibana garante que ouviu de duas unidades que não poderiam registrar o boletim de ocorrência. “Quando cheguei na delegacia de Vista Alegre, ouvi que ali não era a área onde moro, por isso não poderiam registrar a queixa. Fui encaminhada para a delegacia de Vicente de Carvalho, e, ao chegar lá, me falaram que eu deveria ir à DP de Pavuna. Fui, mas vivi um pesadelo”, conta.

tatyana araújo - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Tatyana celebrou o fim do relacionamento em julho
Imagem: Arquivo Pessoal

De acordo com Tatyana, o delegado da unidade tentou convencê-la de que denunciar não era uma boa opção. “Ao explicar que havia sido agredida pelo meu ex-marido, ele perguntou se eu tinha certeza de que queria prestar queixa. E complementou. ‘Você pode se arrepender, já que tem filhos com ele. Você pode prejudicá-lo, imagina como ficariam suas filhas? Vá para a casa, pense direito, esfrie a cabeça e volte no fim da noite’. Eu não acreditei no que ouvi”, afirma. “Insisti e disse: ‘Ele é o pai das minhas filhas, mas eu sou a mãe e posso morrer. Vou fazer a denúncia agora’. Então, ele falou que teria que sair naquele momento e não poderia dar continuidade ao processo. Repetiu que eu voltasse no fim da noite”.

Tatyana foi orientada por um amigo a procurar a Delegacia da Mulher, que fica em Duque de Caxias, na baixada fluminense. “Finalmente fui atendida. Fiz o Boletim de Ocorrência e o exame de corpo de delito. Também dei entrada na medida protetiva, que deve sair em cinco dias. Saí de lá às 22h. Foram nove horas desde a agressão até eu ser atendida. É desesperador”.

Evolução de um relacionamento abusivo

Tatyana se casou com ele quando tinha apenas 14 anos, e ele, 23. Ela afirma que, no início do casamento, as agressões eram leves. “Quando brigávamos, ele puxava meu cabelo. Depois, chorava, se arrependia, dizia que jamais me agrediria novamente”, conta.

Os puxões de cabelo se transformaram em tapas no rosto, evoluíram para socos no nariz e ameaças de morte. “Ainda assim, acho que a pior parte foram os abusos psicológicos”, diz.

Segundo Tatyana, ele tinha relacionamentos extraconjugais. “Descobri duas traições e, quando fui tirar satisfações, ele me bateu, me ameaçou. Tentei denunciar, mas fui desencorajada, como dessa última vez. Só que naquela época, eu tinha medo dele. Agora, percebi que ele pode me matar de qualquer forma”.

“Eu sentia que era dependente dele, por isso insisti tantas vezes nesse relacionamento. Ele fazia com que eu me sentisse assim. Quando percebi que estar sem ele era um alívio, decidi fazer a festa e comemorar. Espero encorajar outras mulheres a denunciarem maridos agressores. Sei que é difícil, principalmente pela burocracia que é tentar prestar queixa. Mas, é necessário persistir. Precisamos viver”.

A Universa tentou, por três horas, contatar a delegacia de Pavuna, mas não foi atendida. Procurou também contato com o ex dela, mas não teve sucesso. Este link será atualizado, caso consigamos contato com os citados na matéria.