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Thales: o primeiro transexual a participar do MasterChef

Thales, avaliado por Fogaça, antes de começar o Masterchef - Divulgação/ Band
Thales, avaliado por Fogaça, antes de começar o Masterchef Imagem: Divulgação/ Band

Camila Brunelli

Colaboração para Universa

22/08/2018 04h00

Goiano do interior, formado em psicologia e gastronomia em Brasília e professor universitário. Esse é o perfil de Thales Luiz Alves dos Anjos, 25 anos, cozinheiro profissional e um dos candidatos a participar da edição do MasterChef Profissionais, na Band, que estreou nesta terça (21). Ele é o primeiro competidor transexual do programa. Na primeira fase do programa, ontem à noite, ele se destacou por uma sobremesa que misturava bolacha de água e sal, goiabada e queijo, se aventurando na confeitaria, área em que não costuma trabalhar. Mas a montagem agradou os jurados e Thales passou para a próxima fase.

Thales saiu de Formosa, em Goiás, para estudar Psicologia em Brasília. Mas depois de formado, sentia falta de alguma coisa. “Parti para a análise e consegui me aceitar como pessoa trans. Precisei tomar uma decisão entre continuar vivo ou não viver mais. Eu não me reconhecia no espelho”, contou.

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Começada em 2013, a transição foi tranquila. Apesar de estudar em uma universidade religiosa na época, disse que não enfrentou preconceito por parte dos professores ou colegas.

“Falar que é trans é um peso muito grande, mas ao mesmo tempo é muito libertador. É importante que as pessoas saibam que quem você aparenta ser não é quem você é por dentro, seu caráter. Se eu conseguir salvar a vida de uma pessoa que seja - como eu fui salvo - eu estou feliz.” 

Guinada na carreira 

Na época, já havia deixado de fazer “o que agradava aos outros” e resolveu seguir o que lhe deixava feliz: cozinhar. As comidas das festas ou eventos de família sempre ficavam por sua conta porque ele sempre foi do ramo.

Terminou a segunda graduação, em gastronomia, pela Universidade Católica de Brasília em 2016, e durante o curso passou a dar aulas como monitor. No ano seguinte, especializado em Educação Profissional Superior, lecionou em diversas faculdades.

Além disso, Thales ministra palestras e cursos livres por todo o Brasil. “Eu pesquiso muito, ando pelo país e busco ingredientes que só temos aqui.” Atualmente, ele dá consultoria em restaurantes e tem uma empresa de eventos. Até se inscrever no MasterChef, era bancário durante o dia e dava aulas à tarde e à noite.

“Quando ministro palestras ou aulas eu peço para as pessoas fecharem os olhos e imaginarem um espelho que reflete uma pessoa que você não reconhece. Essa é a vida de todos os transexuais. Eu tento fazer com que as pessoas se coloquem no meu lugar”, contou.

“O Brasil é o país que mais mata pessoas trans e o que mais consome pornografia desse gênero, então tem alguma coisa errada aí.”

Subir de cargo não é fácil

Sobre as dificuldades que enfrentou por ser um profissional transexual, ele diz que subir de cargo não é fácil. “Eu desconheço um chef executivo que seja uma pessoa trans.” Revelou também que dificilmente restaurantes têm chefs transsexuais.

“Ele [trans] acaba sendo sous chef, e outra pessoa acaba assumindo como chef. Se tiver que aparecer a cara de alguém, é sempre de outro.”

Thales se inscreveu pelo site, caminho regular que os aspirantes trilham. Com a participação, tem a expectativa de auxiliar no aumento da representatividade para transexuais.

“Muitos não achavam o ambiente da TV seguro para elas. Mas a aceitação se dá pelo seu trabalho e não pelo que você faz na sua vida. Eu quero mostrar que é possível. Quero que vejam alguém que saiu do interior, estudou, se especializou e virou um chefe de cozinha muito bom e que agora é só ascender”, ele diz.

E completa: "Tudo que eu faço, é meu corpo trans que faz. É preciso se acostumar com corpos trans andando na rua. Meu sonho é ser referência como gastrônomo e professor. Quero poder ocupar todos os espaços. Me considero um sonhador. Sonho com um país melhor, onde cada pessoa possa viver a própria realidade bem”, diz.