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Marcos Mion: "Os homens estão se saindo mal como pais de meninas"

marcos mion - Divulgação
marcos mion Imagem: Divulgação

Talyta Vespa

Da Universa

12/08/2018 04h00

Desde que cortou o cordão umbilical da filha Donatella, de nove anos, o apresentador Marcos Mion trabalha duro para conquistar todos os dias da filha. Na terça-feira (7), ele lançou o livro “Pai de Menina”, pela editora Planeta (R$ 44,90), em que conta toda a jornada para criar uma relação de confiança, amizade e respeito com a pequena.

À Universa, Mion afirma que não imaginava que ser pai de uma garota era diferente de ter filhos meninos – ele também é pai de Romeo, de 13 anos, e Stefano, de 7. “Eu precisei me descobrir para ser pai de menina. Tenho muita disponibilidade para amar minha filha e seu universo, por mais desconhecido que ele seja", ele contou.

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Em que momento que sua relação com sua filha renderia um livro?

Tomei um susto quando percebi que, sempre que fazia algum post sobre ela nas redes sociais, a repercussão era enorme. As pessoas me paravam na rua e me perguntavam muito mais sobre a minha relação com ela do que sobre meu programa. Eu não entendia, me perguntava: “Será que não é todo pai que faz essas coisas?”. E aí descobri que não, que os homens estão mal mesmo nesse quesito.

Vocês sempre foram próximos?

Sim, e sempre foi muito natural. Nunca forcei a barra, sabe? Essa construção se deu desde o primeiro dia, quando cortei o cordão umbilical. E, ainda assim, preciso me esforçar diariamente para sustentar nossa relação. Não adianta achar que criar um elo forte com uma filha é algo que se faz sem dedicação. É preciso estar perto, entender que ela precisa de um pai presente, dedicado e sensível por perto para se tornar uma mulher forte, autoconfiante e segura. Estou trabalhando nisso.

Além de ser presente, o que você recomenda que pais façam para conquistarem a confiança de uma filha?

Ter um ritual é algo muito importante e cria certa referência. Que pai não quer ser lembrado e ter sua história contada aos netos? Mas, para que isso possa acontecer, é necessário fazer por onde. Cada pai deve criar seu ritual, é algo muito individual. Eu a acordo todos os dias com a mesma música. Durante esse processo, eu a encho de carinho. À medida que ela vai despertando, coloco uma música mais animada. É nosso momento.

Qual a diferença, na prática entre processo de educação dos seus meninos e o dela?

Na minha casa, não tem diferença. Sei que é uma exceção, sei que na maioria dos lares, há. Muitos pais têm dificuldade de lidar com as filhas porque não se permitem entrar no mundo delas.

Quais os principais erros que os pais cometem?

Quando tentam se aproximar, acabam confundindo ser pai e amigo. Não é assim. A ideia é estar presente e ser pai de verdade, e não querer ser o amigão. Claro que tem horas em que a gente vira criança com as filhas, mas tem que educar – e essa é a parte que mais me fascina. Eu me dedico muito. Boto limite e falo não. Ela me respeita.

Rola esse papo machista de que homem quando tem filha mulher paga os pecados. Você tenta ensinar sua filha a se livrar de estigmas machistas? Como?

Rola, mas eu cortei relações com caras que falavam esse tipo de coisa. Dá até vergonha pensar nesse tipo de comentário, ser “fornecedor”, “pagar os pecados”. Não empodero minha filha, só a trato com a normalidade, ensinando-a que ela pode tanto quanto um menino. 

Por que você não a empodera?

Eu acho que quando se trata de mulheres que sofrem preconceitos há décadas simplesmente por serem mulheres, tem que ter um tratamento de choque, uma postura de luta, com o intuito de mudar a realidade a qualquer custo. Mas, quando se trata de uma criança que ainda não sofreu por isso, prefiro fazê-la crescer sabendo que ela não é menor nem pior que nenhum menino.

Você acha que pais de meninos podem contribuir para essa igualdade?

Claro. A normalidade deveria ter existido sempre. Faço um apelo para que todos os pais criem seus filhos assim, e aí teremos uma chance real de acabar com essa desigualdade, sem a necessidade de luta.

Você se diz contra estimular a sexualidade precocemente. Há uma idade para começar falar do assunto?

Não há idade, o que não pode é perder o timing. Se o pai espera a menina vir até ele perguntar sobre sexo, ele já perdeu o timing porque ela já vai ter ouvido falar sobre na escola ou de algum amigo. Nenhuma dessas fontes vai introduzir o assunto da forma que o pai considera melhor. Aí o estrago já está feito.

Não falar é uma opção?

Nunca. Deixar o tempo passar sem falar sobre sexo é pior ainda. A menina pode crescer sem instrução e o pai ser surpreendido por comportamentos dela. E aí, se tentar introduzir o assunto, vai ouvir um “sai daqui, pai”.

Qual seu conselho para introduzir o tema?

Pais, comecem a introduzir o assunto quando as curiosidades começarem a surgir. As explicações precisam ir até onde a menina já entende. Comecem cedo, cada um com seu método, com fantasias... Eu introduzi o assunto por meio da religião, mas cada um deve seguir o que acredita.