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Diafragma está em alta: conheça os prós e contras do método contraceptivo

Diafragma é um método contraceptivo não-hormonal - iStock
Diafragma é um método contraceptivo não-hormonal Imagem: iStock

Letícia Rós e Marina Oliveira

Colaboração para Universa

08/08/2018 04h00

Na Alemanha, o primeiro protótipo de diafragma foi desenhado ao fim dos anos 1800, depois se espalhou para Holanda e Inglaterra. Já na década de 1920, começou a ser fabricado nos Estados Unidos. No Brasil, chegou na década de 1940, mas era pouco acessível por ser importado. Com a chegada da pílula, na década de 1960, perdeu força. Recentemente, porém, mulheres cansadas de colocar hormônios para dentro do corpo redescobriram o diafragma.

Há um ano, a psicóloga Mariana Galesi  Bueno, 33, utiliza o método com o qual ela só tinha tido contato nas aulas de educação sexual do colégio. A escolha se deu na busca por uma proteção que não afetasse a libido. “Comecei a usar pílula aos 17 anos e tinha muita dificuldade para ter orgasmos e pouquíssimo interesse sexual", conta"

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Há alguns anos, eu tentei trocar por um DIU, mas não me adaptei, tinha muita cólica e um fluxo aumentado. Desisti depois de um ano e voltei para a pílula, mas a libido continuava baixa. Dessa insatisfação cheguei no diafragma e, desde então, não tenho mais esses efeitos colaterais", explica a psicóloga.

O diafragma é um capuz de silicone, com borda flexível, que cobre o colo uterino, impedindo que o espermatozoide chegue até lá. É um método de barreira, assim como a camisinha, mas que oferece autonomia para a mulher se proteger. “Ela mesma coloca e retira. Além de ser uma proteção discreta”, fala a ginecologista Débora Oriá, da Clínica FemCare, em São Paulo.

Para a ginecologista do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, Halana Faria, a adesão de mulheres ao coletor menstrual ajudou na redescoberta do diafragma “O copo coletor fez com que as mulheres passassem a não achar mais desconhecido o próprio corpo e percebessem que se tocar não é nojento, como sempre disseram”, fala.

Contra o método está a taxa de falha, considerada alta: 6%. O que significa que, em um ano, entre 100 mulheres usando o diafragma corretamente e em todas as relações, seis vão engravidar, de acordo com o manual Planejamento Familiar para Profissionais e Serviços de Saúde, da OMS (Organização Mundial da Saúde), de 2007.

A taxa de falha da camisinha na proteção contra gravidez, em comparação, é de 2%. Por isso, a recomendação é o uso concomitante com o preservativo masculino, até porque o capuz de silicone não protege contra doenças sexualmente transmissíveis.

Como usar e escolher

O diafragma deve ser inserido na vagina antes da relação e retirado, no mínimo, oito horas depois, quando os espermatozoides não estão mais vivos dentro da vagina. Também pode ser usado de modo contínuo, desde que seja retirado a cada 24 horas para higienização (durante a menstruação também deve ser retirado).

O espermicida não é mais usado junto, como no passado, já que deixou de ser vendido no Brasil. “Foi retirado do mercado por causar microfissuras no colo do útero e na vagina e por, supostamente, aumentar riscos de infecções sexualmente transmissíveis”, explica Halana Faria.

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Escolher o tamanho correto do diafragma é imprescindível para não aumentar a taxa de falha. Além do mais, os muito grandes ou inadequados ao corpo aumentam o risco de infecção urinária, pela pressão que faz na vagina em direção a uretra, explicam as ginecologistas. A recomendação é que essa medição seja feita por um profissional de saúde, seja médico, enfermeiro ou obstetriz.

Mas é preciso dizer que encontrar um especialista apto à medição não é fácil, como relata Mariana. “Eu telefonei para a UBS [Unidade Básica de Saúde] de referência na minha cidade, mas a pessoa que me atendeu sequer sabia o que era diafragma. Acabei optando por comprar o kit de medição e depois falei sobre o método com a minha ginecologista, para ela conferir se medi correto. Ela admitiu não ter prática nisso, mas aceitou buscar a informação e conferir. Depois ela confirmou a medida que eu tinha encontrado sozinha”, fala.

“Os motivos para isso são vários: existe uma predominância dos métodos hormonais na prática médica por influência da indústria farmacêutica e também porque, durante muito tempo, as mulheres acharam mais fácil tomar pílula todos os dias, que ainda é o método mais popular no Brasil”, fala a ginecologista do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, que realiza a medição.

No consultório

O kit citado por Mariana é vendido pelo Laboratório Semina, o único fabricante de diafragma do Brasil, que produz o capuz em seis tamanhos. O profissional de saúde vai fazer um exame de toque, com a mão em posição de “L” invertido – o dedo indicador entra na vagina e o polegar levantado fica para fora – para saber o comprimento vaginal. E, depois, provar diferentes tamanhos do diafragma e descobrir qual melhor se adequa.

A artista visual Lívia Coelho Pedrosa de Souza, 18, recebeu a indicação de uma ginecologista por meio de um grupo fechado no Facebook sobre métodos contraceptivos não hormonais. “Fomos colocando e tirando os diferentes tamanhos de diafragma até ela achar o que era o adequado e perguntar para mim o que eu achava também. Quando entramos em consenso, a médica pediu para eu tirar e colocar algumas vezes, para ver se eu fazia certo. Como eu já usava coletor menstrual, foi superfácil”, fala.

O tempo de duração do diafragma, de acordo com o fabricante, é de cinco anos. Mas se for constatado qualquer desgaste no material antes, é preciso descontinuar o uso. A higienização é feita ao colocar o capuz em um copo de água fervente com uma colher de sopa de água sanitária por 25 minutos. Depois deve ser enxaguado em água corrente, lavado com sabão neutro e secado.