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"Achei meu 1º amor no Facebook, nos casamos e vivemos viajando numa Kombi"

Ana Rita da Costa Dutra Vesco e Claudinei Dutra Vesco - Arquivo pessoal
Ana Rita da Costa Dutra Vesco e Claudinei Dutra Vesco Imagem: Arquivo pessoal

Bárbara Therrie

Colaboração para Universa

31/07/2018 04h00

Ana Rita da Costa Dutra Vesco, 54, nunca esqueceu o namorado da adolescência. Após se casar, ter filhos e se separar, ela reencontrou Claudinei Dutra Vesco, 60, quase 40 anos depois. Eles voltaram a namorar, ele a pediu em casamento e, hoje, eles moram numa Kombi, ano 1979, e vivem viajando pelo Brasil. Leia o depoimento dela:

“Eu tinha 13 anos e o Claudinei 19 quando começamos a namorar. Nós morávamos na mesma rua. Era um namoro bem infantil. Só podíamos ficar juntos na sala, na presença da minha mãe ou de alguém mais velho. Namoramos por nove meses. Não houve um rompimento, mas nos afastamos. Depois de um tempo, eu e minha família mudamos de bairro e eu perdi o contato. Nunca mais soube dele. 

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O tempo passou, eu casei e tive três filhos. Fiquei casada por 16 anos, até me separar. Eu sempre pensava no Claudinei. Imaginava como ele estaria e o que teria acontecido na vida dele.

Em 2014, resolvi procurá-lo nas redes sociais. Achei o perfil dele no Facebook e começamos a conversar. Eu morava em São Paulo e ele em Bragança Paulista, no interior. Fui à casa dele e nos reencontramos após 37 anos sem nos ver. Ele continuava o mesmo homem atencioso e romântico. Passamos o fim de semana colocando o papo em dia. Ele me contou que era divorciado e que tinha quatro filhos.

Ana Rita da Costa Dutra Vesco e Claudinei Dutra Vesco - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Voltamos a namorar: dessa vez eu tinha 50 anos e ele 56

Naquele dia, voltamos a namorar. Eu estava com 50 anos e ele com 56. Durante o namoro, o Claudinei manifestou o sonho que tinha de transformar a Kombi dele numa casa e viajar pelo Brasil, quando se aposentasse. Ele me convidou, me pediu em casamento e eu aceitei.

Eu larguei o meu emprego como babá, nos casamos e eu fui morar na casa dele. No período de um ano, fizemos as adaptações na Kombi. Nossa primeira viagem aconteceu em 2016: fomos de Bragança Paulista até o Rio Grande do Norte, na casa da minha mãe. Demoramos mais de dois meses e meio para chegar lá. Paramos em várias cidades.

Tomamos banho com uma garrafa de 20 litros de água

Tudo é adaptado dentro da Kombi. Nosso chuveiro é uma garrafa de 20 litros de água, que fica em cima do carro. Acoplamos uma mangueira de chuveiro a esse galão. Se a região em que estamos está ensolarada, aproveitamos o aquecimento natural da água para tomar banho quente. Improvisamos o box com uma lona sobre um biombo. Quando está frio, pagamos em torno de R$ 3 a R$ 5 para tomar banho em postos de gasolina ou em locais turísticos. Teve uma vez que fomos para o Sul, estava chovendo muito. Não achamos nenhum lugar para nos banhar. O jeito foi tomar um ‘banho a seco’ com sabonete e lenço umedecido.

Não temos vaso sanitário na Kombi. Geralmente, usamos banheiros de shoppings e de restaurantes. Em casos de emergência, fazemos nossas necessidades em dois baldes, que forramos com jornal e sacola plástica. Depois descartamos e lavamos. Também não temos estrutura para cozinhar. A única coisa que coisa que dá para fazer é um cafezinho, com o auxílio de um pequeno botijão e um fogareiro de camping. No almoço, dividimos um marmitex. No jantar, tomamos caldo, comemos lanche ou vamos a restaurantes.

Kombi do casal - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Para lavar roupa, deixo as peças de molho com água, sabão e amaciante num balde enquanto pegamos a estrada. Na parada, esfrego, enxáguo e coloco para secar num varal que montamos na lateral da Kombi. Dentro do carro, temos duas camas, a do Claudinei vira uma mesa. Nossas roupas ficam dentro de duas caixas plásticas de verduras. Não temos televisão, rádio, nem computador, só celular. Nosso orçamento é de R$ 400 por semana para gastar com água, comida, combustível e pedágio.

Viajar de Kombi é estar de férias todos os dias

Estamos viajando há dois anos e não temos destino certo. A gente se guia por mapas e GPS e vamos para onde nos dá vontade. Já fomos para São Paulo, Espírito Santo, Bahia, Paraíba, Pará, Piauí, Minas Gerais, Sergipe, Goiás, Alagoas, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará e Maranhão. Paramos de cidade em cidade e visitamos praias, museus, centros históricos, feiras de artesanato. Viajar de Kombi é ser turista e estar de férias todos os dias.

No início, eu tinha medo de dormir no carro, por causa da segurança, mas já acostumei. Meu marido procura estacionar em lugares seguros, perto de hotel, da polícia, do bombeiro, em posto de gasolina. Nunca fomos assaltados, graças a Deus. A Kombi não tem seguro por causa do ano, ela é de 1979. O Claudinei está sempre de olho na manutenção.

A rotina de viver numa casa tradicional é estressante por causa da mesmice. Na estrada, somos muito companheiros e amigos. Cada dia é uma novidade, uma paisagem diferente, conhecemos pessoas, sempre temos assunto para conversar. A Kombi é o nosso lar, só vamos para nossa casa em Bragança para matar a saudade da família e já caímos no mundo de novo. 

Nosso amor nos renova e nos faz sentir jovens. Queremos viajar de Kombi até ficarmos bem velhinhos. Ainda temos uma longa estrada para aproveitar as nossas aventuras”.

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