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Papo de vagina

A dor crônica na vagina fez essas mulheres chegarem a achar que eram loucas

Priscila Barbosa
Imagem: Priscila Barbosa

Helena Bertho

da Universa

09/07/2018 04h00

Desde a infância, Amanda Brites, 21, sofre com uma dor na vagina que nunca passava. Por anos, achou que era cistite (infecção de urina) de repetição e tratava com banhos de assento. "Fui para minha festa de 15 anos chorando de dor. Eu tomava remédio e não passava", lembra.

O início da sua vida sexual foi marcado pela dor. Ela começou a namorar pouco depois dessa festa e conta que sua primeira vez foi repleta de dor. "Eu não sentia prazer, só incômodo", diz sobre as relações que tinha com o então namorado.

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Amanda chegou a ouvir de uma médica que estava louca
Imagem: Arquivo Pessoal

Por volta dos 16 anos, suas dores pioraram e ela começou a procurar médicas para tentar se tratar. Fez muitos exames, mas nada parecia estar errado, tirando a dor. Testou pomadas, remédios e nada funcionava. Mas o pior era a sensação de inadequação. "Eu me sentia diferente das outras garotas. E uma médica chegou a dizer que eu era maluca".

Até que, um dia, ela decidiu pesquisar na internet o que sentia e se deparou com uma possibilidade: a vulvodínia. "Esse é o nome dado para a dor na região da vagina. Ela pode ter várias causas, mas acontece de algumas pacientes não terem nenhuma causa identificável e daí você precisa tratar diretamente a dor", explica Carla Ceres, neurocirurgiã funcional da Sociedade Brasileira de Estudos da Dor.

Sabendo disso, ela procurou uma ginecologista especializada e teve o diagnóstico. Começou um tratamento com antidepressivos e fisioterapia. A melhora não foi mágica, mas gradual. "Hoje, eu namoro e, finalmente, consigo sentir prazer", conta.

As pessoas não acreditam

Paula Guimarães levou dez anos para conseguir um diagnóstico da vulvodínia - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Paula Guimarães levou dez anos para conseguir um diagnóstico da vulvodínia
Imagem: Arquivo Pessoal

A história da dona de casa Paula Guimarães, 26, começou aos 16, quando perdeu a virgindade. "Eu sentia uma ardência constante, que não melhorava", conta ela, que tentou tratar infecção urinária, candidíase, e nada funcionava.

Além da dificuldade para ter diagnóstico, ela sofria na relação com o namorado. "Meu ex dizia que se eu não transasse, ele ia arrumar alguém na rua. Às vezes, eu estava chorando de dor e ele insistia", lembra.

A relação acabou, mas seu sofrimento, não. Passou por vários médicos, sem sucesso e chegou a ouvir que "para algumas mulheres, sentir dor é normal", de um especialista.
Nesse meio tempo, ainda se casou. "Contei para ele desde o começo que tinha um problema. E ele era muito compreensivo", diz. Mas, mesmo assim, o sexo era uma questão, pois ele vivia com medo de machucá-la.

Assim como Amanda, Paula descobriu sobre a vulvodínia na internet e buscou uma especialista para ter seu diagnóstico. "Foi como fechar um ciclo. Não ter um diagnóstico é muito difícil, ninguém acreditava em mim".

Tratamento varia de mulher para mulher

Paula hoje faz um tratamento multidisciplinar, desde fevereiro: toma antidepressivo, faz fisioterapia pélvica e psicoterapia. Mas o tratamento não é padrão.

A neurocirurgiã Carla Ceres explica que, como as causas da dor podem ser muitas, primeiro é preciso uma investigação intensa, para descartar fungos, bactérias e até tumores. "Se não tem uma causa identificável, começamos o tratamento com anti-inflamatórios e banhos de assento, que ajudam a aliviar.

"A gente usa também medicações para dor crônica de várias espécies. Muitas são controladas, como anticonvulsivantes, que agem na dor, e antidepressivos", diz a médica. Ela ainda explica que os antidepressivos têm ação analgésica e pode ser usado de maneira contínua, ao contrário de remédios para dor.

Além de medicamentos e fisioterapia, algumas soluções mais práticas, como anestesia local para a relação sexual, também podem ser indicadas. "É importante para a parte emocional que a mulher retome a atividade sexual. Na dor crônica, você precisa também ajudar a pessoa a voltar à vida normal", diz a especialista.

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