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Homens estão começando a dividir a responsabilidade para evitar a gravidez

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Imagem: Getty Images

Helena Bertho

da Universa

06/07/2018 04h00

Todo dia, a enfermeira Ana Paula Medeiros, de 34 anos, e seu marido, Renan Evangelista, de 34 anos, sentam e verificam como está a fertilidade dela. No caso, usam o método Billings, que consiste em analisar a umidade da vagina, o muco vaginal e a temperatura e, com base nisso, entender em que fase do ciclo ela está.

"Como o homem é fértil o tempo todo, temos essa abertura para conhecer a nossa fertilidade através da percepção do meu ciclo. E, toda noite, a gente decide junto se é período favorável para ter ou não relações", explica ela. Os dois já têm duas filhas e, no momento, não querem engravidar.

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A forma como os dois encaram a questão da contracepção é parte de um movimento que vem crescendo aos poucos. Não só pelo para que a mulher possa parar de usar a pílula, mas, também, pela divisão da responsabilidade por não engravidar. "Minimamente, os homens estão mais sensíveis. Acho que é uma compreensão de que a contracepção é um dever do casal. O que inclui a decisão sobre o método, as responsabilidades que ele traz e os custos", explica a médica da família Thais Machado Dias, do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde.

Ela ressalta, porém, que esse movimento ainda é tímido e tem um recorte, sendo muito mais presente no público de classes mais altas que ela atende. Mas acredita que seja o início de um hábito que tende a crescer.

A ginecologista Desiree Encinas, do Núcleo Cuidar, concorda com ela. "Cada vez mais sinto que a responsabilidade está ficando dividida. Principalmente, porque as mulheres estão querendo se livrar do anticoncepcional".

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Divisão dos custos

Uma das primeiras formas de incluir os homens na prevenção da gravidez, mesmo por mulheres que tomam a pílula, está na divisão dos custos do remédio. Mas não só dele. Da camisinha, ao valor de colocar um DIU, tudo pode ser compartilhado.

É o caso da estudante Caroline Winkelman, de 27 anos, e seu companheiro Felipe Ferreira, de 30 anos. Desde o começo da relação, eles decidem juntos quais métodos usar e dividem os gastos. Antes, era pílula e camisinha. Depois, optaram pelo DIU.

"Rachamos os custos da colocação. Ele me acompanhou e cuidou de mim após o procedimento". Hoje, os dois moram juntos e, para não correr riscos, ainda usam camisinha, que é vista como uma das despesas da casa e incluída no orçamento compartilhado.

Vasectomia tem menos riscos do que a laqueadura

Quando se fala em prevenção à gravidez, camisinha e pílula são os principais métodos que vêm à cabeça. Mas existem muitos outros, e a maior parte deles está ligada, no entanto, ao corpo da mulher: DIU, diafragma, laqueadura e "tabelinha". Para eles, sobra a vasectomia.

"É importante falar, porém, que a vasectomia é menos invasiva do que a laqueadura. A trompa fica dentro do abdome. A vasectomia é feita pelo escroto, não é preciso abrir", diz Thais, explicando porque a cirurgia no homem é uma opção com menos risco para os casais que escolhem um método definitivo.

Foi esse o raciocínio da química Ani Marinho, de 35 anos, e de seu marido, quando decidiram que ele faria a cirurgia. "Depois que meu segundo filho nasceu, decidimos que não queríamos mais. Conversamos e, por vários motivos, decidimos que ia fazer a vasectomia. O primeiro foi porque a vasectomia é muito mais simples do que a laqueadura. Além disso, eu já tinha passado por dois partos. Nada mais justo do que ser a vez dele", conta ela.

Responsabilidade dividida no dia a dia

Quando o método não é definitivo ou a longo prazo, porém, a contracepção precisa ser uma preocupação constante. Seja lembrar de tomar a pílula, manter o estoque de camisinha ou acompanhar o ciclo para saber o período fértil, como Ana Paula e Renan. Nesses casos, a responsabilidade também pode ser dividida.

"O parceiro pode ajudar se informando, compreendendo o período fértil ou não fértil da parceira. E tem a discussão sobre o que vai fazer no período fértil, que é uma decisão compartilhada", diz Thais.

Para Ana Paula, "planejar as gestações não é só algo relacionado a mim como mulher, mas a ele, também. Então, a gente não trata o filho como um possível acidente, mas sempre como algo de responsabilidade de nós dois. E isso me traz segurança, um elo de parceria muito grande".