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O que você deve se perguntar antes se tornar dona de casa em tempo integral

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Imagem: Getty Images

Heloísa Noronha

Colaboração com Universa

24/06/2018 04h00

Não é uma decisão fácil, com certeza. "Justamente por isso, não deve ser tomada por impulso ou em um momento em que algo não está dando certo no trabalho, por exemplo", fala a terapeuta Valeria Ribeiro, coach familiar e fundadora do site Filhosofia.

A vontade de ficar em casa lambendo a cria está falando mais alto? Vem passando por um fase crucial na carreira e não quer parar nem por um tempo? Acha que trabalhar fora, ao colocar as contas na ponta do lápis, não é tão gratificante quanto deveria? Tudo bem. Você tem o direito de escolher o que é melhor nesse momento. E direito, sim, de voltar atrás se quiser.

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Antes de qualquer mudança drástica, no entanto, é importante fazer alguns questionamentos --sob o ponto de vista prático e emocional-- que a ajudarão a ter uma perspectiva melhor das coisas.

Qual é a minha prioridade no momento?

As prioridades variam de mulher para mulher. Algumas planejam empreender e colocar em prática algum sonho e não têm filhos. Outras querem ter mais tempo de qualidade com os filhos, mas com qualidade. Isso dependerá de cada uma, mas só cabe a você fazer um exercício honesto de autoconhecimento e concluir o que deseja de fato.

Nossa família consegue se manter com apenas uma renda?

Para a professora Milene Massucato, do blog sobre maternidade Diiirce, a questão financeira é, indiscutivelmente, um dos maiores assuntos. "Manter uma casa não é simples e, atualmente, muitos casais dividem as contas para poder ter um padrão. Colocar na ponta do lápis a falta que seu salário faria é uma boa estratégia para avaliar esse aspecto. E não esqueça de incluir o quanto a escolha traria em economia também --não gastar com combustível, transporte, alimentação fora de casa, escola em tempo integral etc", sugere.

Estou disposta a depender do dinheiro do meu marido?

Não podemos fechar os olhos para o fato de que vivemos em um mundo consumista. "Porém, cada família tem seu ritmo e seu estilo de vida. O que é essencial para uma pode ser indispensável para outra. Cada caso é um caso, por isso é importante refletir sobre os gastos pessoais, conversar com o par para repensarem e ajustarem juntos as contas ou até se existem outras possibilidades para auxiliar nas despesas de casa, se for necessário", fala Lívia Marques, coach e psicóloga organizacional do Rio de Janeiro (RJ).

Vou sofrer preconceito por largar minha carreira e virar dona de casa?

"Pode ser que sim, mas você é quem sabe o que é melhor para si. As pessoas sempre vão julgar as escolhas alheias, mesmo que não tenham a menor ideia sobre a realidade dos outros. Conscientize-se de que sua vontade precisa e deve ser respeitada. O importante é ser feliz, ter qualidade de vida conforme seus valores e, acima de tudo, saber que possui opções", afirma Lívia.

Eu gosto de afazeres domésticos?

Há mulheres que não gostam das tarefas rotineiras de casa, tarefas essas que não têm reconhecimento nem são remuneradas. "É preciso levar em consideração sua afinidade, pois é possível que, devido à diminuição nos ganhos da família, não seja possível contratar ou manter uma empregada, aí todas as atividades domésticas sobrarão para você", diz Valeria. Quando não há preparo e/ou vontade para encarar essas tarefas, com o tempo brigas entre o casal podem surgir, além de um sentimento de desvalorização.

A decisão é definitiva ou válida por um período de tempo?

Há mulheres que decidem ficar em casa por um tempo determinado, até que o filho complete certa idade, por motivos que vão desde acreditar ser importante estar com a criança nesse período ou não querer deixá-la numa escola em tempo integral. "A questão aqui é: se ela quer retomar a carreira um dia, o que ela pode fazer nesse tempo para se manter atualizada profissionalmente? Afinal, tudo muda tão rápido atualmente, que o pouco que deixamos para trás já nos torna desatualizados", fala Valeria. E atenção: não é errado, em algum momento, você perceber que quer mudar de ideia.

Como me sinto quando fico muito tempo em casa?

Uma coisa é ficar de férias em casa, aproveitando cada segundo. Outra coisa é fazer disso uma rotina, em que as tarefas nunca têm fim. "Ser dona de casa pode soar 'coisa de madame', mas necessita de muita organização e disciplina para ter tudo no controle. Conheço muita gente que enlouquece de ficar em casa, justamente porque é um trabalho repetitivo e cansativo. Se a mulher não é muito caseira, existe um alto risco de se arrepender da decisão", afirma Milene.

O quanto minha carreira é importante para mim?

Não se trata de pesar se o trabalho é ou não mais importante do que sua família, mas de avaliar o quanto sua profissão a faz feliz e a completa. "Se é um trabalho em que você se sente realizada, não há porquê abrir mão disso. Família e profissão são coisas distintas e você pode, sim, ser feliz fazendo ambas as coisas. Inclusive, há muitas pessoas que se realizam ao descobrir nas tarefas de casa uma oportunidade de transformação", diz Milene.