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Jovens da geração Y transam menos, mas têm vida sexual de melhor qualidade

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Imagem: Getty Images

da RFI

20/06/2018 08h32

Eles estão na faixa dos 20 anos, são saudáveis, descomplexados e têm toda a liberdade para viver como desejam sua vida sexual.

A média da idade da primeira relação sexual continua a mesma há décadas: 17 anos. Mas, segundo vários estudos americanos, a atividade sexual dos “millenials” ou da famosa geração Y – pessoas nascidas a partir dos meados dos anos 90 – vem diminuindo em relação aos jovens das décadas anteriores.

Segundo um estudo das universidades de São Francisco, na Califórnia, e de Widener, na Pensilvânia, em média, jovens americanos têm hoje 53 relações sexuais por ano, no lugar de 65 relações sexuais por ano, na década de 90.

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Já a revista "Archives of Sexual Behavior" aponta que 15% dos jovens americanos com idades entre 20 e 24 anos não tiveram nenhum parceiro sexual desde os 18 anos – situação que na década de 60 era registrada com apenas 6% das pessoas nesta mesma faixa etária.

Essa baixa da atividade sexual é preocupante? O sexólogo Philippe Arlin é cético quanto à queda da atividade sexual da geração Y.

Para ele, mesmo que também haja registro sobre esse fenômeno na França, a vida sexual dos jovens pode ter perdido em termos de quantidade, mas está cada vez melhor.

“Há mais qualidade, menos obrigações a serem cumpridas, mais respeito entre os parceiros – digo isso principalmente sobre as relações entre homens e mulheres -, e sem dúvida, há mais liberdade”, afirma.

Estudos franceses apresentam resultados similares aos dos americanos, embora, como lembra a sexóloga e psicoterapeuta Mari-Line Lassagne, seja impossível fazer uma análise geral do comportamento dos jovens ocidentais. “A cultura americana não é a mesma que a francesa, por exemplo.

Mesmo que todos esses jovens sejam ocidentais, há diferenças sociais nesses países que levam a experiências distintas na descoberta da sexualidade”, sublinha.

Para a especialista, no entanto, é inegável que todas as transformações vividas pela sociedade implicam em mudanças comportamentais e, consequentemente, na vida sexual dos indivíduos.

Por outro lado, Lassagne recusa a tratar essas mudanças como um problema. Para ela, esses são fenômenos relacionados à evolução do modelo de família, à luta pela igualdade entre os sexos e pela maior liberdade de expressão e à emergência das novas tecnologias.

Sexo não é mais objetivo de vida

Para o estudante franco-brasileiro Guilherme, de 21 anos, há menos tabus hoje em relação ao sexo, tema que conversa abertamente com os amigos, embora, ressalte: “não frequentemente”.

“As proibições e obrigações em torno da sexualidade, antigamente, talvez tornassem a prática sexual em um objetivo de vida dos jovens, mas hoje a situação é outra”, observa.

De fato, como lembra Lassagne, o sexo tinha outro significado para as gerações anteriores, quando as pessoas se casavam, formavam família e tinham filhos mais cedo.

A sexóloga lembra que os jovens de hoje também estudam por mais tempo e a pressão por uma carreira profissional de sucesso é maior, o que leva os jovens a focalizarem sua energia em outras prioridades além das relações afetivas e sexuais.

A situação não é menos complexa, no entanto. Guilherme nota, por exemplo, que as relações de amizade entre as pessoas do sexo oposto são muito mais comuns e menos sexualizadas hoje.

“O problema é que, às vezes, as pessoas não se dão conta que nessas relações pode existir uma atração”, reitera. Segundo o estudante, embora exista hoje uma maior facilidade para o sexo, há uma certa dificuldade de identificar potenciais parceiros.

A influência das novas tecnologias

A vida sexual dos jovens também não escapa da influência das novas tecnologias. Das plataformas e aplicativos online de encontros à facilidade de acessar conteúdos pornográficos, eles têm acesso a um outro universo inexistente para as gerações anteriores e que nem sempre tem consequências positivas.

Guilherme conta que é comum adolescentes acessarem facilmente conteúdos pornográficos online e, posteriormente, se decepcionarem com a experiência na vida real.

Ao mesmo tempo, “fala-se tanto de sexo hoje e insiste-se tanto na ideia de que pornografia não é real que essa influência até pode prejudicar os mais jovens durante um determinado período da vida deles, mas eles acabam por perder o interesse nesse tipo de conteúdo mais tarde”, ressalta.

Já a estudante Fanny, de 22 anos, reclama da falsa facilidade de encontrar parceiros em plataformas de encontro “com apenas um clique”. “Não sou fã desse conceito virtual que julga o físico como se nós fôssemos uma espécie de supermercado. Mas quando não estou namorando, acontece de eu utilizar alguns aplicativos para conhecer e encontrar pessoas”, diz.

A garota reconhece que os jovens perdem muito tempo online e nas redes sociais, mas não acredita que isso possa influenciar a quantidade de relações sexuais.

“É verdade que encontramos menos facilmente potenciais parceiros de maneira real, muito ocupados que somos por nossos celulares. Mas, ao mesmo tempo, passamos muito mais templo nos aplicativos de encontro conversando com as pessoas. O sexo se tornou menos natural ou espontâneo, eu diria. No sentido de que, como o encontro é menos natural, prevemos que ele pode evoluir mais facilmente ao sexo. Mas, enfim, nunca transei com alguém que conheci em um bar, por exemplo”, conta.

O depoimento de Fanny se enquadra nas avaliações dos sexólogos sobre uma preocupação da Geração Y por uma vida sexual mais baseada na qualidade do que na quantidade.

“Não dou uma importância absurda ao sexo. Depois que rompi o relacionamento com meu último namorado, minha vida sexual virou um deserto (8 meses sem relações sexuais, para ser honesta). Tinha vontade, mas não queria que fosse de qualquer jeito, com qualquer um. Dou muita importância ao sexo quando estou com alguém, ele é essencial para que tudo se passe bem no casal. Ele é extremamente importante para o estado da relação”, reitera.

Mas nem tudo são flores. Sem rodeios e com muita sinceridade, ela não esconde certas decepções com suas primeiras experiências, a pressão do círculo de amigos sobre a perda da virgindade – que escondeu do namorado por insegurança – e o pudor que ainda reina em algumas famílias sobre o sexo.

“Vejo que as mentalidades começam a evoluir, talvez porque eu evoluo junto a outros jovens que também são abertos sobre essas questões”, diz.

A quantificação da vida sexual

Embora não descarte a seriedade das pesquisas sobre a questão, Lassagne não acredita que a evolução dos comportamentos sexuais possa ser medidas com estatísticas. "Cada um desses jovens é um ser humano e tem um ritmo próprio", sublinha.

A estudante Ana, de 22 anos, tem, por exemplo, uma concepção muito mais ampla do sexo do que as abordadas nas pesquisas. Ela lembra, por exemplo, que a vida sexual não se limita à penetração vaginal, e se diz incapaz de hierarquizá-la em relação aos estudos ou à carreira profissional.

“Eu considero o sexo bem importante, sobretudo na vida de um casal, mas também não coloco a vida sexual acima de outras coisas.”

Para ela, que nos últimos anos teve relacionamentos monógamos e estáveis, tudo ocorre “de modo muito livre e natural, agradável e sem muita neura”. “Eu me sinto totalmente livre de viver minha vida sexual como eu bem entender”, reitera.

Ela lembra que a frequência de suas relações sexuais oscila em relação a outros incidentes e acontecimentos em sua vida.

“Nesse último ano certos eventos marcaram minha relação com meu companheiro de forma que minha vida sexual é, no momento, bem menos ativa do que antes. Então hoje em dia eu diria que essa frequência não é satisfatória e se limita à poucas vezes por mês, mas antes era de uma a várias vezes por semana”, revela, sem nenhum pudor.

Lassagne acredita que a baixa quantidade ou a ausência das relações sexuais em determinados períodos da vida não significa uma ausência de desejo sexual.

"O desejo pode sempre existir, mas, por inúmeros motivos, pode não ser concretizado", salienta.

Além disso, acredita que é apenas devido à liberdade que existe hoje para abordar abertamente questões relacionadas ao sexo que, como Ana, as pessoas podem falar sinceramente sobre a questão.

Arlin não esconde seu otimismo em relação à vivência sexual da geração Y.

"Estamos em uma época de transformação. Efetivamente, a sexualidade dos jovens, seja ela mais ou menos abundante, se diferencia das décadas passadas. Há mais igualdade e liberdade entre os sexos, ainda que haja um longo caminho a percorrer. Mas, apesar de tudo, vejo que a sexualidade está melhorando e precisamos saber enxergar essa evolução", conclui.