Topo

Ela percebeu que lavanderia não é só para rico e fatura R$ 700 mil por ano

Tatiane Lobato começou com sua máquina de seis quilos e hoje tem uma rede de lavanderias - Arquivo Pessoal
Tatiane Lobato começou com sua máquina de seis quilos e hoje tem uma rede de lavanderias Imagem: Arquivo Pessoal

Helena Bertho

da Universa

20/06/2018 04h00

Lavar roupa sempre fez parte do cotidiano de Tatiane Lobato, 41, que desde pequena ajudava nas tarefas de casa enquanto sua mãe trabalhava fora. Mas, aos 30 anos, quando precisou de uma lavanderia e percebeu que não havia nenhuma perto de onde vive, em Carapicuíba (SP), foi que veio a sacada de transformar a tarefa doméstica em empreendedorismo.

"Existe um mito de que só rico usa lavanderia, mas rico tem casa grande, máquina e gente para lavar roupa. Aqui é que precisa. As casas são pequenas, não têm máquinas e as mulheres são arrimo de família", conta ela, que abriu a primeira lavanderia em 2007 e, hoje, tem quatro unidades e mudou completamente de vida.

Veja também:

Primeiro emprego aos 13

Foi a avó de Tatiane que a ensinou a lavar roupa. Seu pai morreu quando tinha cinco anos e ela e os quatro irmãos passaram a ficar aos cuidados da avó, enquanto a mãe trabalhava. "Ela achava que, para eu ser uma mulher ideal, precisava lavar e passar".  Então, no segundo ano do fundamental, a menina já era responsável por parte dos afazeres da casa.

Aos 13 anos, começou a trabalhar fora de casa, em uma barraca de pastel, para ter dinheiro para suas roupas e sapatos. A partir daí, nunca mais saiu do mercado. "Tinha o sonho de fazer faculdade, mas era caro e eu não conseguia me dedicar aos estudos, com o trabalho".

Trabalhou no comércio a maior parte da vida e não tinha planos de mudar. Mas, em 2004, um divórcio complicado abalou sua vida e a fez repensar tudo. "Eu me sentia desperdiçada no que fazia", lembra. Ela sabia que precisava mudar, mas não sabia o que faria. "Eu não tinha dinheiro e não sabia por onde começar".

Com um empréstimo e uma ideia, pediu demissão

Em 2006, foi convidada para um casamento muito chique e precisou pegar um vestido emprestado. Na hora de devolver, quis levar em uma lavanderia, mas não encontrou nenhuma na periferia. "Isso me chamou atenção e me veio o pensamento: eu sei fazer isso, por que não?".

Com a ideia de que existia ali um nicho de mercado e sabendo que os custos iniciais seriam baixos, decidiu investir. Pegou um empréstimo de R$ 7 mil, pediu demissão e alugou um ponto para abrir sua lavanderia.

Mas como a grana era curta, começou o negócio sem equipamentos: fechou parcerias com outras lavanderias e seu trabalho consistia em receber as roupas, levar para lavar, buscar e devolver. "Mas, às vezes, demorava ou a lavagem vinha malfeita. Então, decidi fazer isso eu mesma".

Tatiane pegou a máquina de lavar da sua casa, levou para a loja e decidiu resolver tudo sozinha, com mais cuidado e atenção à qualidade do serviço. Desde então, começou a formar seu público.

"A gente cresceu muito e quase faliu"

Em 2008, ela engravidou e precisou contratar sua primeira funcionária. Em 2010, abriu sua primeira filial, em outro bairro de Carapicuíba. Em 2011, já eram três lojas e o novo marido decidiu fechar seu bar para se tornar sócio.

Tudo parecia ir muito bem, mas, em 2012, o negócio quase faliu. "A gente cresceu muito e eu não estava dando conta de fazer aumentar o faturamento em proporção", lembra. Tatiane decidiu, então, que precisava estudar.

Ela se inscreveu para um curso para mulheres empreendedoras na FGV e foi selecionada. O trabalho para ter o certificado era fazer um plano de negócios que dobrasse seu faturamento. "Eu comecei a aplicar tudo que via nas aulas. Negociação com fornecedor, contabilidade, marketing... Assim fui conseguindo profissionalizar a lavanderia".

No fim do curso, ainda ganhou uma consultoria profissional para ajudar nas ações para colocar seu plano em pé. O resultado: o faturamento foi de R$ 147 mil, no ano anterior, para R$ 340 mil.

"Foi o primeiro ano que não precisei pegar empréstimo para pagar o 13º dos funcionários e até pudemos fazer uma viagem de fim de ano em família".

Faturamento chega a R$ 700 mil

Desde então, o crescimento da rede se manteve e a qualidade de vida de Tatiane só aumentou. A viagem no fim de ano virou tradição. "Todo ano fazemos um cruzeiro". Também comprou sua casa própria e faz de tudo para dar aos filhos os confortos que não teve. "Sempre dividi quarto, eles têm cada um o seu".

Em 2014, Tatiane pode realizar o sonho de fazer faculdade e começou a estudar administração. Ela se forma no final do ano.

Atualmente, as quatro lojas da Magic Clean têm 10 empregados e, em 2017, o faturamento chegou a R$ 707 mil. O plano era crescer ainda mais em 2018, mas "a crise, a política, a Copa, tudo está deixando mais difícil. Espero ao menos manter o faturamento do ano passado".