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Mulheres protagonizam um mundo em evolução


Líder da Uber, sul-coreana diz às chefes mulheres: peçam desculpas e ajuda

Bo Young Lee encabeça campanhas de diversidade na Uber  - Divulgação
Bo Young Lee encabeça campanhas de diversidade na Uber Imagem: Divulgação

Talyta Vespa

Da Universa

26/05/2018 04h00

A sul-coreana Bo Young Lee, líder global de Diversidade e Inclusão da Uber, contou a seguinte história à Universa, em uma entrevista exclusiva: 

"Outro dia, em um trabalho da escola da minha filha, as crianças tinham que desenhar uma pessoa que, para elas, era a representação de um líder. A minha menina foi a única a desenhar uma mulher. Ela chegou em casa perguntando: 'Mãe, eu dei a resposta errada?' E eu respondi: 'Não! Você foi a única que deu a resposta certa!'".

Há apenas dois meses na Uber, Bo é a responsável por políticas que viam melhorar a vida de mulheres, pessoas da comunidade LGBTQ, com alguma deficiência e integrantes de religiões minoritárias. Sejam elas passageiros ou motoristas. 

Aos 42 anos, mãe de duas filhas e no comando de seis mil funcionários, Bo fala nesta reportagem de liderança feminina, educação de meninas e respeito às diferenças. 

Iniciativas de diversidade

Bo comanda grupos de funcionários que se voluntariam para discutir iniciativas de diversidade e inclusão das minorias. Cada grupo é responsável por um tema: Mulheres, LGBTQ+, Pessoas com Deficiência, Pais, Minorias Étnicas e Minorias Religiosas. “Um terço dos nossos funcionários faz parte dessas minorias. Esse número altíssimo mostra que as pessoas precisam ter espaço para compartilhar ideias. Elas são as únicas que realmente sabem o que pode ser eficaz para mudar o quadro de preconceito dentro e fora da empresa”, diz Bo.

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A empresa investe em iniciativas de conscientização. “Foram mesas de conversa com representantes LGBTQ+, cartilhas para os motoristas e muitas discussões”, conta a executiva. No Brasil, a mesa de debate contou com artistas como Liniker e Pedro HMC.

uber pride - Divulgação - Divulgação
Campanhas de conscientização LGBTQ+ foram encabeçadas por Bo
Imagem: Divulgação

Segredo do sucesso

Bo Young Lee, de 42 anos, chefia 6 mil pessoas — o que equivale a um terço do quadro de funcionários da empresa. Ela fala sobre o que considera ser um caminho do sucesso para uma chefe mulher. “As pessoas nos seguirão como líderes se mostrarmos que somos humanos, que temos emoções e que elas não precisam ser escondidas ou mudadas. Subestimar os sentimentos é um erro. Um bom líder é aquele que assume suas vulnerabilidades e permite que os outros façam o mesmo. Isso estabelece relacionamentos de verdade”.

O fim da Síndrome do Impostor 

O autoboicote é um dos principais problemas que mulheres enfrentam quando assumem lideranças de grandes empresas, de acordo com a executiva. “Não pode! Nunca, jamais assuma a postura de “Síndrome do Impostor”, que é quando as mulheres caem na cilada de duvidarem que são capazes de ocupar uma função de liderança e começam a questionar se merecem aquele cargo", explica. "Não alimente esse monstro".  

Bo é mãe de duas meninas. E conta que os ensinamentos sobre feminismo, em casa, são diários. “Num trabalho da escola de uma das minhas filhas, as crianças tinham que desenhar uma pessoa que, para elas, era a representação de um líder. A minha menina foi a única a desenhar uma mulher. Ela chegou em casa, perguntando: 'Mãe, eu dei a resposta errada?' E eu respondi: 'Não! Você foi a única que deu a resposta certa!'.

"É isso que as meninas aprendem desde a infância: que não existem líderes mulheres. Então, se uma mulher se questiona: 'Eu mereço essa posição?'. Temos que responder enfaticamente: 'Sim, você merece!'. Essa confiança é algo que precisa ser construído”.

Erros

Rindo, a diretora diz que não consegue mensurar quantas vezes cometeu erros enquanto chefe. “O tempo que reservei para essa entrevista não será suficiente para falar de todos. Já cometi muitos, mas o pior foi não reconhecer que errei, não pedir desculpas. Essa história de que chefes não devem se redimir é uma bobagem. Só assim podemos aprender com os erros".

A Direção de Diversidade e Inclusão

Ser líder de Diversidade e Inclusão de uma grande empresa soa diferente quando você é um homem e quando você é uma mulher. “Quando as pessoas veem uma mulher e ainda asiática como Líder Global de Diversidade e Inclusão, elas pensam que estou me beneficiando das iniciativas. Quando um homem assume essa mesma função, acham que ele está lá porque é generoso, porque gosta de ajudar os outros", analisa.

A executiva afirma estar no cargo porque tem capacidade de educar e também de aprender com as pessoas. 

Chefe precisa de ajuda

Ainda na universidade, Bo desempenhava papéis de liderança. “Fui presidente do coral da faculdade. Era a responsável por administrar a agenda de apresentações e selecionar nosso repertório. Foi a primeira posição de liderança que exerci na vida. O presidente anterior a mim, deu um dos melhores conselhos que já recebi na carreira: 'não tentar fazer tudo sozinha. Se você tem um bom time executivo, peça ajuda a ele'". 

O conselho ecoa nos ouvidos da executiva até hoje. “Sempre lembro desse conselho nos momentos em que preciso de ajuda. E, por diversas vezes, eu precisei. Aprendi a confiar nos meus colegas, no meu time e repassar responsabilidades". 

Ter uma boa equipe permite a Bo desfrutar de momentos pessoais.

“Fico com a minha família pelas manhãs e à noite. Ajudo minhas filhas com a lição de casa, leio histórias e as ponho para dormir. Nos fins de semana, não agendo nada. Só consigo ter esse calendário porque não faço nada sozinha”. 

Violência no Brasil

Segundo dados do GGB (Grupo Gay da Bahia), de 2016 para 2017, houve um aumento de 30% nos homicídios de LGBTQ+ — o número de assassinatos passou de 343 para 445. O levantamento, divulgado em janeiro, apontou que, a cada 19 horas, uma pessoa é morta por LGBTQfobia.

As campanhas de conscientização da Uber em relação ao movimento LGBTQ+ no Brasil focam na educação dos motoristas. “Elas são voltadas para o respeito que eles têm de ter em relação aos passageiros", diz a diretora jurídica da Uber no Brasil, Ana Pellegrini. "Produzimos cartilhas e vídeos e os distrubuimos aos motoristas". 

“Se um motorista age de forma preconceituosa ou desrespeitosa, é banido da plataforma. Isso também acontece com passageiros. Por isso, é necessário denunciar os casos pelo aplicativo”.