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O que sentem as pessoas que traem seus parceiros constantemente

"Sempre tem uma emoção envolvida, uma sensação de perigo, de estar fazendo algo indevido" - iStock
"Sempre tem uma emoção envolvida, uma sensação de perigo, de estar fazendo algo indevido"
Imagem: iStock

Carolina Prado

Colaboração para Universa

02/05/2018 04h00

Nem sempre é só pelo sexo ou porque não há mais amor pelo par. Traições podem ter razões diferentes - e acontecerem em momentos diferentes do relacionamento.

Segundo a colunista de Universa Regina Navarro, é comum os estudiosos das relações amorosas repetirem o senso-comum: relações extraconjugais ocorrem por problemas na vida a dois - fim do amor, insatisfação, mágoas, ressentimentos, imaturidade, temor de aprofundar a relação, etc.

Ela, porém, diz que não ouviu nem leu em quase nenhum lugar o que lhe parece óbvio: "Embora haja insatisfação na maioria das relações estáveis, o sexo fora do casamento ocorre principalmente porque as pessoas gostam de variar".

Algumas mulheres, inclusive, gostam de variar bastante. Aqui, três delas dão seus relatos e motivos paras as traições em seus relacionamentos.

“Estar em busca de outras pessoas não significa querer desenvolver uma relação com elas”

“Dos cinco relacionamentos estáveis que tive, traí em quatro deles. No primeiro, traí apenas uma vez, já nos outros é mais difícil precisar. No meu relacionamento mais duradouro, de quatro anos, foram traições com mais de 20 pessoas, com muitas delas repetidas vezes.

Já houve situações de eu me envolver emocionalmente e seguir num relacionamento com os dois. As razões foram por tédio, falta de intimidade no namoro e desinteresse sexual do meu parceiro em mim. Algumas vezes foram motivadas por mágoa – em uma delas estava triste e tive amparo de um amigo que também era um caso antigo, e a proximidade reacendeu a chama.

Não foi premeditado para machucar meu então parceiro. Sempre tem uma emoção envolvida, uma sensação de perigo, de estar fazendo algo indevido. Dá uma certa ilusão de poder: poder de conquistar um outro além daquele que está com você, poder sobre a narrativa que você conta para se ‘safar’ de ser pega, o poder da própria possibilidade de algo novo.

Não é só variar o sexo, mas as experiências. Os desejos, intensidades e conexões que eu tenho com cada pessoa são diferentes, incomparáveis. É sobre sentir coisas novas, não necessariamente sexuais.

A traição, para mim, vem de desejos alimentados, por isso, a sensação que predomina é de êxtase, como quando tomamos um copo de água gelado e estávamos com muita sede. Muitas das experiências são prazerosas justamente pela brevidade que elas vão durar, e sabemos que será breve justamente porque outra relação já está posta.

Todos os namorados souberam de ao menos alguma traição. Me questionaram o porquê, mas num geral não houve grandes problemas nem quebra de confiança. Acho que é porque eu sempre deixo claro que tenho problemas com fidelidade, então eles não entram no relacionamento desavisados. Não sinto nenhum pingo de remorso.”

Julia, 26, historiadora

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“Cada um dos meus casos conseguiu me fazer ficar bem comigo de novo”

“Nos meus quatro relacionamentos eu traí. É uma sensação interessante, uma mistura de prazer, por estar com alguém que te quer, com um sentimento ruim de estar enganando quem se gosta.

Os casos aconteceram com pessoas que me encontraram em épocas em que estava vulnerável, me sentindo mal por alguma questão. Cada um conseguiu me fazer ficar bem comigo de novo. Um deles até ajudou a ‘dar um up’ no meu sentimento pelo namorado da época.

Eu gosto de namorar, gosto de ter uma pessoa que me conheça e que eu conheça bem, saiba as manias e os gostos. Alguém com quem posso ser autêntica. Nenhuma traição foi porque eu não gostava mais do meu parceiro, era sempre para mudar um pouco e, de certa forma, me sentir desejada de novo, aos olhos de uma pessoa nova.

Mas uma dessas vezes resultou no fim do meu casamento. Eu me envolvi emocionalmente – não era só sexo – com um homem de outra cidade, que conheci durante uma viagem, e passamos a trocar e-mails.

Na época, ainda não existia WhatsApp. Meu marido desconfiou de algo, entrou no meu e-mail e viu as conversas. Nos separamos e eu me arrependo muito do que fiz, mas meus sentimentos foram mais fortes. Também já me envolvi, várias vezes, com homens comprometidos, quando estava solteira. Mas aí minha consciência não pesa.”

Thais, 36, designer gráfica

“É uma sensação de que você está no controle, de que aquele é o seu momento”

“Traí nos meus dois relacionamentos, no fim de um e no início do outro. Foi por emoção do momento e, em um dos casos, por estar alcoolizada.

Eu gosto da adrenalina de ficar com outra pessoa, infelizmente. É uma sensação de que você está no controle, de que aquele é o seu momento, e você não pode perder a oportunidade, porque talvez não reapareça.

Não fiz para variar o parceiro, acho que foi falta de caráter mesmo. Cada pessoa tem suas motivações, que nem sempre fazem sentido, mas é uma decisão exclusiva, muitas vezes feita sem pensar nas consequências, boas ou ruins, que possam vir.

A carência influencia muito no fato de eu gostar de estar em um relacionamento estável, passa uma segurança saber que existe alguém ao meu lado com quem tenho afinidade. O fato de eu ter traído não quer dizer que não amava o namorado, eu ainda queria construir um futuro com ele.

Estar com outra pessoa foi uma tentativa, inútil, de ocupar um espaço vazio dentro de mim. Em uma das vezes também fiz para afrontar ele, só que me senti péssima depois. Nas duas vezes, os rapazes sabiam que eu era comprometida e queriam que eu terminasse para ficar com eles, o que não aconteceu.

Em uma das vezes fui pega e a reação foi desastrosa, ele ficou muito magoado, pois não enxergava que nosso relacionamento estava ruim a ponto de eu trair. Ao mesmo passo em que é emocionante e louco, é errado e frustrante. Quando acaba e tudo volta a seu lugar, chega a ser nojento. Ficava me perguntando o porquê de fazer aquilo.”

Alice, 20 anos, estudante