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Livro fala da "masculinização obrigatória" às mulheres que chegam ao poder

A presidente Dilma, vendo a obra "Medusa Murtola" na abertura da mostra "Caravaggio" no Palácio do Planalto - Sergio Lima/Folhapress
A presidente Dilma, vendo a obra "Medusa Murtola" na abertura da mostra "Caravaggio" no Palácio do Planalto Imagem: Sergio Lima/Folhapress

Natacha Cortêz

Da Universa

11/04/2018 04h00

“No que diz respeito a silenciar as mulheres, a cultura ocidental tem milhares de anos de prática.” A frase é da historiadora britânica Mary Beard e está no livro “Mulheres e Poder: um manifesto”, do selo Crítica da Editora Planeta.

A professora da Universidade de Cambridge traça as origens da misoginia --começando pelo primeiro exemplo registrado de um homem mandando uma mulher calar a boca, em “Odisseia”, de Homero (século VIII a.C.)-- e mostra que o ódio contra as mulheres ganha força quando elas chegam às instâncias de poder, “dos comitês empresariais às sessões nos Parlamentos”, diz Mary, no livro.

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“Masculinização obrigatória"

A historiadora cita os obstáculos enfrentados por Margaret  Thatcher, Hillary Clinton, Dilma Rousseff e Angela Merkel na vida política. A primeira-ministra britânica, por exemplo, passou por aulas para falar com um tom mais grave e sisudo, características associadas à voz masculina.

As roupas usadas pelas mulheres que chegam ao poder no Ocidente também são apontadas por Mary como sintomas de uma “masculinização obrigatória". “Os terninhos regulamentares, ou pelo menos as calças compridas, usados por tantas líderes políticas (...), de Angela Merkel a Hillary Clinton, podem ser práticos (ou) um sinal da recusa em se tornar uma escrava da moda (...), que é o destino de tantas esposas de políticos; mas são também uma simples tática para fazer com que a mulher pareça mais masculina e adequada ao papel do poder.”

"Mulheres e Poder" - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

A "Medusa", Angela, Hillary e Dilma

Em tempos de linchamento virtual, Mary recorre a exemplos contemporâneos de quando fotos das três líderes foram associadas à “Medusa” de Caravaggio. A montagem das imagens sugeria a decapitação simbólica das políticas. Uma busca simples na internet traz essas fotos.

“O rosto de Angela Merkel foi superposto à imagem de Caravaggio. Dilma Rousseff teve sorte pior. Precisou inaugurar uma grande exposição de Caravaggio em São Paulo e a 'Medusa' estava lá, em frente à ex-presidenta. Revelou-se uma irresistível oportunidade de foto [que abre este texto].” Nos Estados Unidos, Donald Trump surgiu como Perseu decapitando Hillary Clinton.

"Mulheres e Poder" - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

A cena de Perseu-Trump brandindo a cabeça ensanguentada de Medusa-Clinton tornou-se parte do universo doméstico decorativo americano. Era possível comprá-la em sacolas, canecas e camisetas.

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