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'Venci R$ 80 mil em dívida e, aos 31, estou perto de me tornar milionária'

Júlia Mendonça youtuber - Divulgação
Júlia Mendonça youtuber Imagem: Divulgação

Daniela Carasco

da Universa, em São Paulo

05/04/2018 04h00

"Minha avó me acostumou a ter gostos refinados." É assim que a youtuber Júlia Mendonça, 31, descreve sua relação com o dinheiro na infância. Os pais nunca fizeram todas as suas vontades, já a avó era a grande responsável por abastecer seus desejos, uma prática que virou hábito e gerou uma dívida de R$ 80 mil.

Quem vê a curitibana discorrendo sobre finanças em seus vídeos - no canal, ela já soma 83 mil inscritos - deve imaginar que educação financeira sempre foi seu forte. Mas até alcançar o nível de conhecimento que tem hoje, Júlia enfrentou momentos difíceis.

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Formada em Comércio Exterior, ela teve sua carteira assinada pela primeira vez na empresa do sogro. Era uma espécie de "faz tudo" do administrativo. Para compensar a frustração por não atuar em uma área que de fato a satisfazia, descontava no dinheiro.

"Quando comecei a trabalhar, comecei a gastar", recorda. "Na minha cabeça, eu gastava o que tinha. Só que todo mês eu entrava no cheque especial. Comprei tudo o que se pode imaginar, até roupa especial para mergulhar no gelo algum dia e uma bateria, já que um dos meus sonhos era aprender a tocar. Além disso, viajava para o exterior a cada seis meses."

Na lista de aquisições entrou também um carro, único bem quitado até hoje, e o financiamento de um apartamento. Rapidamente, os custos começaram a ultrapassar os ganhos. "Eu sabia que a situação estava começando a ficar feia, só não imaginava o quanto", diz. "A nossa renda mensal era de R$ 7.000, mas só caía R$ 1.000 na conta. O resto era todo tomado pelo banco, de tanta dívida."

Em um ano e meio, Julia devia cerca de R$ 16 mil em cheque especial para cada um dos dois bancos dos quais ela era correntista, acumulava dois empréstimos e juros altíssimos de cartão de crédito depois de tanto pagar o mínimo, e estava com mensalidades pendentes na faculdade. Ela tinha, no total, R$ 80 mil em dívidas.

Júlia só se deu conta da gravidade da situação quando recebeu um telefonema da construtora do futuro apartamento comprado na planta. "Eu tinha sete parcelas atrasadas e fui informada de que poderia perdê-lo se não pagasse imediatamente", conta.

Júlia Mendonça - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

"Cheguei a tomar banho na casa de parente"

De uma vida sem freios, Júlia embarcou em uma rotina cheia de restrições. Para tentar sair do vermelho, montou um plano de guerra. "Hoje, reconheço que não seja a melhor opção, mas influenciada pelo gerente do banco, peguei um novo empréstimo para quitar a maior dívida. Os juros neste caso eram menores do que os do cheque especial", conta ela, que conseguiu, assim, pagar a dívida mais alta.

Para compensar o restante, estabeleceu cortes de custo radicais. "Só comíamos fora quando alguém da família convidava e se propunha a pagar. Cancelamos a academia e passamos a frequentar um parque do bairro. Lá, para usar os equipamentos, o pagamento mensal era levar um pote de álcool em gel para a administração. Cheguei ao ponto de ir jantar na casa de parentes e pedir para tomar banho, assim economizava em casa."

Do desespero "nasceu" uma consultora financeira

Ao todo, o casal levou dois anos para se reestabelecer financeiramente. Feliz com a nova condição, Júlia achou que poderia voltar a gastar sem fazer contas. Só mudou de comportamento quando o marido a inscreveu em cursos de finanças e investimento. Na sala de aula, viu despertar seu interesse pelo assunto, que acabou virando profissão.

"Passei a oferecer serviços de planejamento financeiro gratuitos. Depois, quando me dei conta que tinha nascido para a coisa, comecei a cobrar. Já atendi até gerente de banco."

O canal no Youtube nasceu como espécie de vitrine, no meio de 2016. Deu tão certo que virou sua principal fonte de sustento. Todo o processo de superação das dívidas gerou um certo trauma em Júlia, que precisou entrar na terapia. "Cheguei a chorar de tanto medo de me endividar de novo", conta.

Hoje, Júlia se considera "pão dura", por questionar o devido valor de tudo o que compra. "Eu me tornei uma pessoa mais consciente, negocio tudo e sempre peço desconto", diz. A youtuber também não se priva de nada, mas não se dá ao luxo de ter tudo na hora. Planejamento é sua regra número um para qualquer aquisição. "Às vezes, levo meses para ter aquilo que desejo. A única coisa que não abro mão é de comer fora em bons restaurantes." Seu maior sonho de consumo hoje é comprar um apartamento maior.

"Ainda não sou milionária, mas estou perto"

Pensar grande talvez seja o único hábito da infância que a acompanha até hoje. Por isso, Júlia não pretende comemorar o primeiro milhão, que deve ser alcançado até no próximo ano. "Um milhão me gera uma renda extra muito baixa, apenas R$ 4 mil por mês. Não vivo com isso. Só vou ficar feliz quando tiver 6 milhões. Quem sabe daqui a uns dez anos", diz a ex-endividada e, hoje, investidora. Para isso, investe todo mês de 10% a 70% da sua renda.

Os segredos de Júlia para virar o jogo contra as dívidas

  • Não use as mesmas desculpas de comer mal para as finanças pessoais. Um dos maiores erros é usar dinheiro como recompensa para a tristeza ou alegria. Isso afunda muita gente.
  • Evite o "achismo". Coloque no papel o quanto você ganha e quais são seus gastos fixos mensais. Só então reserve uma parte do salário para gastos extras. Fazer contas é fundamental.
  • Desconfie do gerente do banco. Eles nem sempre entendem de finanças pessoais e muitos estão ali só para vender produtos. Consultá-lo é como ir a um açougue procurar comida vegana. Prefira livros e fóruns de investimento.
  • Na hora de começar a investir, opte primeiro pelas opções de renda fixa. Isso ajuda a ter confiança para, depois de uns dois anos, partir para os de renda variável. E atenção: segundo ela, investimentos como poupança, CDB de grandes bancos e títulos de capitalização são os piores investimentos do Brasil.
  • Negocie tudo e sempre peça desconto. "Eu já tive vergonha de pechinchar, queria parecer rica. Hoje, pago muito mais barato."
  • Reavalie sempre as despesas do mês. Você usa mesmo a TV a cabo? Será que não tem um plano de internet mais barato? Telefone fixo: precisa mesmo?
  • Reserve um valor fixo para o lazer.
  • Procure sempre uma renda extra. Criatividade é tudo neste momento!