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#SóMulherSabe: "Fui criticada por deixar meus filhos pequenos com o pai"

Keiny Andrade/UOL
Imagem: Keiny Andrade/UOL

Bárbara Therrie

Colaboração com Universa

22/03/2018 04h00

Quando o casamento de Debora Oliveira, 33, chegou ao fim, ela decidiu sair de casa e deixar os dois filhos pequenos com o ex-marido. “Abri mão do meu orgulho de mãe, pelo bem-estar das crianças, e optei pela guarda compartilhada. Propus que elas ficassem com o pai durante a semana, e comigo nos finais de semana”.

Nesse relato, a gestora de comunidades digitais conta as críticas que recebeu e a pressão que a mulher sofre para ser uma mãe perfeita.

“Tive meus dois filhos muito jovem. Ganhei o primeiro com 21 anos e o segundo com 22. Os cuidados com os bebês eram divididos. Meu ex-marido era participativo e ajudava em tudo: trocava fralda, dava banho, levava na creche. Eu trabalhava longe e ficava 15 horas fora de casa. Apesar da colaboração dele, a sobrecarga maior era minha por ser mulher e mãe. Eu tinha de administrar as contas, fazer comida, limpar a casa, cuidar de dois filhos e ser esposa. Muitas vezes eu me sentia esgotada com tantas obrigações e acabava brigando com ele e com as crianças.

Retrato da Debora, que só fica com os filhos no fim de semana - Keiny Andrade/UOL - Keiny Andrade/UOL
Imagem: Keiny Andrade/UOL

Meu ex cobrava que eu fosse a mãe perfeita, mas nunca representei o estereótipo da ‘mãe pedagoga’, que abdica de si para dar atenção total ao filho. Quando íamos à brinquedoteca, eu deixava as crianças brincando sozinhas. Não participava das atividades. Ficava de olho, mas aproveitava para ler uma revista. Houve vezes em que eu pedi a ele para levá-las ao parque enquanto adiantava algum serviço. Isso o incomodava. Ele me criticava sutilmente por essa falta de interação e me estimulava a mudar, mas não era meu perfil.

Eu me culpava e sofria por estar longe

Nos separamos após sete anos de casados. Como a casa onde morávamos era da família do meu ex, voltei a morar com a minha mãe, em outra cidade. Eu não tinha condições financeiras de manter o padrão de vida dos meus filhos, não podia prejudicar a rotina escolar deles e também não queria que eles perdessem o contato com o pai. Abri mão do meu orgulho de mãe, pelo bem-estar das crianças, e optei pela guarda compartilhada. Propus que eles ficassem com o pai durante a semana e comigo nos finais de semana. Minha decisão foi prática e racional, mas me trouxe muito sofrimento.

Eles eram pequenos, meu menino tinha 6 anos e minha menina tinha 5. A conversa para anunciar minha mudança foi difícil. Chamei os dois e disse: ‘Eu e o papai estamos nos separando, não dá mais para a mamãe ficar aqui. Eu vou morar junto com a vovó. Durante a semana vocês vão ficar com o papai e no fim de semana comigo. Amo muito vocês’. Chorei bastante e fiquei com um aperto no coração de deixá-los. Meu consolo é que eu confiava muito no meu ex-marido como pai.

Minha decisão foi prática e racional, mas me trouxe muito sofrimento.

Eu me culpava e sofria por estar longe. Tinha medo de perder o amor deles e deles me perderem como o referencial de mãe. Pelo acordo, meu ex traz as crianças para mim na sexta-feira à noite e busca no domingo. A gente alterna os feriados. Eu ligava todos os dias para eles, às vezes, só para ouvir a voz. Perguntava se eles estavam bem, como tinha sido na escola. Era uma forma de me manter presente na vida deles.

Fui criticada: 'Coitada das crianças, elas precisam de você por perto’

Meus amigos e familiares ficaram indignados e inconformados com a minha decisão. Ouvi comentários do tipo: 'Coitada das crianças, elas precisam de você por perto’ ou ‘Não é certo o que você fez, o correto é os filhos ficarem com a mãe’. Isso me machucava bastante, pois eu esperava receber apoio. Teve uma vez que um parente me criticou e eu rebati: 'Meu salário é X, você vai me pagar esse valor? Não, né? Então infelizmente eu não tenho como largar meu emprego para ficar com meus filhos em casa. Se eu fizer isso, eles vão passar necessidade. Portanto, se você não tem como me ajudar, é melhor ficar quieto’.

Hoje, meus filhos têm 12 e 10 anos. Procuro aproveitar ao máximo no fim de semana com eles. Conversamos bastante, assistimos a filmes, vamos a shows. Eles dizem sentir minha falta e manifestam a vontade de morar comigo. É recíproco, mas sou honesta e explico que ainda não é possível, mas que estou batalhando para conseguir alugar uma casa e morarmos juntos.

Sou uma boa mãe justamente por ter colocado o bem-estar dos meus filhos em primeiro lugar em detrimento das minhas próprias vontades.

Coloquei o bem-estar dos meus filhos em primeiro lugar

Retrato da Debora, que só fica com os filhos no fim de semana - Keiny Andrade/UOL - Keiny Andrade/UOL
Imagem: Keiny Andrade/UOL

Nunca tive a pretensão de ser uma super-heroína. Mesmo longe, sempre cuidei muito bem dos meus filhos e como todo ser humano cometi erros. Vivemos numa sociedade patriarcal e machista que cobra que a mulher seja perfeita. Temos a obrigação moral de sermos boas mães, esposas, profissionais e donas de casa.

Não represento esse ideal materno por ter saído de casa e abdicado da guarda unilateral. Sou uma boa mãe justamente por ter colocado o bem-estar dos meus filhos em primeiro lugar em detrimento das minhas próprias vontades. Escolhi o que era melhor para eles”.