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'Já era atuante', diz ex-professor de Marielle Franco em cursinho na Maré

O diretor Edson Diniz - Fabíola Loureiro/Reprodução Redes da Maré
O diretor Edson Diniz Imagem: Fabíola Loureiro/Reprodução Redes da Maré

Marcos Candido

Da Universa, em São Paulo

16/03/2018 14h28

A vereadora Marielle Franco, assassinada na quarta-feira (14) ,no Rio de Janeiro, conquistou uma bolsa para estudar na PUC (Pontifícia Universidade Católica), em 2002, graças ao curso pré-vestibular comunitário que atende a moradores do complexo da Maré, comunidade da zona norte do Rio. Marielle fez parte da primeira turma do curso, em 1998.

Hoje, o diretor da instituição Edson Diniz, 47, relembra quando ainda ministrava aulas de história do Brasil para a vereadora, na instituição Redes da Maré. “A Marielle já era comunicativa, atuante. O que mais tarde ela conquistou pode ter raiz por aqui.”

Na quinta (15), Edson e os demais professores, alunos e funcionários do curso foram em direção à Cinelândia, região central da cidade, para protestar e homenagear a memória da ex-aluna.

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Com as demais liderança da comunidade, Edson colocou em prática o curso que hoje atende a 300 alunos em Nova Holanda, umas das comunidades no complexo. As aulas acontecem em período noturno.

“Até tentamos promover aulas de manhã, mas 90% dos alunos são trabalhadores e não conseguem estudar de dia”, diz. O objetivo é levar alunos para as principais universidades fluminenses, públicas ou privadas.

“Sem o apoio desses cursos universitários, fica muito difícil alguém que vem de escolas e contextos problemáticos entrar em um curso de qualidade. Muita gente que entra no pré-vestibular também acaba indo pela primeira vez ao teatro, ao cinema e a centros culturais”, diz. “Marielle é fruto dessa experiência que vai para além só do cursinho."

Como é crescer e estudar na Maré

Edson nasceu e cresceu em uma quitinete de cerca de 20 metros quadrados na Maré. “Era uma casa muito simples, pois minha família era muito pobre. Minha infância tinha um grau de violência, mas sinto que as crianças da Maré hoje ficam ainda mais próximas desses contextos agressivos”, fala. Com a ajuda da comunidade, conseguiu se formar em história pela PUC -Rio.

Em 2014, o professor acompanhou a ocupação das Forças Armadas no complexo, em uma operação que durou 14 meses. Em fevereiro, as forças militares retornaram à cidade para a intervenção militar ordenada pelo governo federal.

Marielle era a relatora da comissão da Câmara Municipal que vai acompanhar a intervenção no Estado. “Faz um mês, e a gente não tem noção do que, de fato, vai acontecer [com a intervenção]. Qual o plano? Não tem.”

“A gente fica paralisado, triste [quando lembra da morte de Marielle]. Mas, por outro lado, está todo mundo junto se fortalecendo. E tem o momento feliz para continuar a luta e não recuar”, diz.