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5 desculpas esfarrapadas e machistas usadas para justificar uma traição

Nada de desculpa para justificar traição - iStock
Nada de desculpa para justificar traição Imagem: iStock

Heloísa Noronha

Colaboração para Universa

11/03/2018 04h00

Entre os tantos fatores que compõem ou destroem um relacionamento amoroso, é possível que a traição ainda seja o que mais carrega crenças, valores e conceitos ultrapassados. Dificilmente, independente do papel ocupado na questão, as pessoas atribuem o mesmo peso e a mesma responsabilidade para homens e mulheres, conforme mostram as “frases” a seguir, usadas muitas vezes apenas para perpetuar machismos e preconceitos.

“Homem é assim mesmo, não consegue se segurar”

Por quê? Por acaso os homens são selvagens e irracionais, dominados pelos instintos? Bastou ter vontade, vai lá e trai? Essa é uma desculpa esfarrapada que se apoia na biologia e na fisiologia para explicar um comportamento que é justificável em animais, não em seres humanos que têm o poder de escolha e devem assumir responsabilidade por seus atos. A frase ainda coloca a mulher numa posição submissa, pois, se o homem não é capaz de se controlar, cabe a ela aceitar e não esperar fidelidade nem lealdade. E, claro, se segurar quando tiver desejo, pois o machismo precisa sempre controlar a sexualidade feminina.

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“Não deu assistência, abriu pra concorrência”

É uma frase que joga a responsabilidade pela traição nas costas… da pessoa traída?! É também uma forma usada para colocar o desempenho na cama como fator primordial para o sucesso de uma relação. É claro que o sexo ocupa um papel importante, mas um relacionamento é feito de vários elementos. Um casal pode fazer de tudo entre quatro paredes, ter uma química sexual fodástica e, ainda assim, quando um dos dois quiser dar uma escapada, vai fazer. Nem sempre um relacionamento é completo. As pessoas são diferentes, têm expectativas e anseios distintos, e volta e meia é possível que um dos dois sinta que podia ser melhor, que há algo faltando. Se a relação está ruim, é preciso abrir o jogo e tentar se acertar. Isso cabe aos dois, embora o machismo arraigado na sociedade tente manter firme a ideia de que a mulher é a responsável pelo sucesso ou pelo fracasso da relação.

“Mulher que trai é vagabunda”

Se o homem é “incapaz” de se segurar, cabe à mulher se controlar. Afinal, ela é mulher, certo? Erradíssimo. Uma pessoa, independente do gênero, trai porque sentiu vontade e escolheu trair -- e, lógico, precisa arcar com as consequências da atitude, seja lá quais forem. Tratar uma mulher sexualmente ativa como “vagabunda” é uma herança história de uma cultura machista e patriarcal que reprimia a conduta feminina e que não faz o menor sentido.

“Mulher que sai com cara comprometido não presta”

Reflita: o compromisso é de quem, mesmo? Se a mulher é desimpedida, ela fica com quem quiser. Quem deve fidelidade e lealdade a alguém é o cara, não ela. Mesmo que ela seja comprometida também, isso não diminui o peso da responsabilidade que muita gente insiste em atenuar no caso de ombros masculinos. Nem sempre os homens são sinceros em relação ao seu status de relacionamento ou sobre como anda a sua relação. Ainda é comum demonizar a parceira na tentativa de sensibilizar a paquera.

“A outra deu tanto em cima que ele não aguentou”

Responda rápido: quantos homens você vê, diariamente, arrastados pelos cabelos ou pela gravata por mulheres sedentas de paixão e desejo? Amarrados e forçados a sucumbir à pressão feminina, alguns até com uma arma apontada para a cabeça? Nenhum, certo? Uma mulher pode dar em cima de um cara o quanto e como quiser, mas essa atitude não significa que ele precisa abrir espaço para que continue ou decidir ceder. Isso acontece porque, desde cedo, os meninos são ensinados que recusar uma cantada é sinônimo de “ser frouxo”, mesmo que isso signifique trair a parceira.

Fontes: Ellen Moraes Senra, psicóloga especialista em terapia cognitivo-comportamental, do Rio de Janeiro (RJ); Gisela Castanho, psicóloga e autora do livro “Psicodrama com casais” (Ed. Ágora); Lissandra Cristine Bassi, terapeuta e coaching, de São Paulo (SP) e Márcia Sando, psicóloga, coach de relacionamentos e terapeuta sexual, de São Paulo (SP).