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Look de paetês das famosas leva 7 dias para ser feito e custa R$ 4 mil

Daniela Carasco

do UOL, em São Paulo

05/03/2018 04h00

“Sou a rainha do Bom Retiro”, diz orgulhoso o estilista Leandro Benites, fazendo referência a um dos bairros mais tradicionais de compras de tecido e de aviamento em São Paulo, onde garimpa matéria-prima para suas produções.

Por mais que o nome de Benites ainda não seja uma grife das mais reconhecidas, foi uma peça sua que brilhou no Carnaval das famosas. Natural da pequena Barra do Piraí, fronteira com o Uruguai e a Argentina, o gaúcho de 30 anos é o responsável pelos looks de paetês gigantes usados pela blogueira Camila Coutinho, que soma no Instagram mais de 2 milhões de seguidores, e pela cantora IZA, a voz do hit “Pesadão”.

Marina Ruy Barbosa será a próxima. A estrela de “Deus Salve o Rei” vestirá peça sob medida em um visual de sereia encomendado para uma campanha publicitária que está prestes a estrear. Os detalhes, porém, ainda são mantidos sob sigilo, com acordo de confidencialidade firmado em contrato. A sertaneja Marília Mendonça também entrou em contato.

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“Meu trabalho é muito especial”, afirma sem meias palavras Ben, como costuma ser chamado. Um casaco feito à mão pelo próprio estilista, que recorta cada uma das pétalas prateadas de uma grande placa bruta de paetê prateado, leva até duas semanas para ser confeccionado e não sai por menos de R$ 3.800. O look completo usado por Coutinho, no Carnaval, custa R$ 12 mil.

“Viro a noite trabalhando, não tenho equipe. Outro dia, fui copiado por um estudante de moda, que decidiu reproduzir o casaco com um material mais simples. Não sabia se ficava feliz ou com raiva da ‘homenagem’”, relembra entre risos. “Tive que escrever para ele gentilmente e pedir que não reproduzisse, nem divulgasse. Isso atrapalharia meu trabalho.” Para quem já vem sonhando com um item na mesma linha, só que menos chamativo e mais acessível, ele adianta que lançará, em breve, uma pochete de maxipaetês.

O rei do maxi-minimalismo

Com um ateliê fincado no centro de São Paulo, na avenida São João, uma das mais antigas da cidade, Ben é contraste puro. Desde 2015, as coleções da BEN, sua marca, têm como essência o minimalismo. São camisetas, camisas, vestidos fluidos e calças com modelagens nada óbvias, e quase tudo é branco ou preto.

Suas linhas são comercializadas na loja Cartel 011, multimarca em São Paulo. Por lá, foi descoberto pela jornalista Marília Gabriela, que há anos veste sua marca, e pela cantora Karol Conká. Pabllo Vittar também já circulou com look da BEN.

O famoso casaco de paetê contrasta com esse estilo básico. Ele surgiu pontualmente, em 2016, como uma “piração”, para fechar um de seus desfiles na Casa de Criadores, evento conhecido por lançar novos talentos da moda.

A peça mais vendida foi criada para não ser reproduzida. “Minha ideia não era nem comercializar”, revela. Hoje, a invenção é vista como um divisor de águas de sua carreira, que já contava com passagens por algumas marcas, como Canal Concept, SAAD, Fórum e Martha Medeiros.

“Ouvi, desde a adolescência, que eu tinha que trabalhar com Carnaval. Mas sempre torci o nariz”, conta ele, que começou a costurar aos 13 anos para produzir figurino de peças de teatro. “Eu achava que tinha que ser minimalista para vender e fazer meu nome na moda. A relação com o Carnaval me ofendia. Agora, acho um elogio.” Passava pela sua cabeça que um estilista respeitado não poderia investir em uma estética lúdica. Engano seu. “só que o que eu tentava ‘esconder’ se tornou o mais legal do meu trabalho.” Apesar da ligação intrínseca entre paetê e Carnaval, ele conta que já vendeu o tal casaco até para um noivo realizar o sonho de chegar brilhando no altar.

Sem estrelismo

Ainda que tenha sido alçado a estilista das famosas, após o “Efeito Coutinho”, como gosta de chamar o acontecimento que lhe rendeu milhares de novos seguidores no Instagram e uma leva de encomendas, Ben afirma não ter a menor vontade de sair por aí com uma celebridade a tiracolo.

Por isso, se dá o direito de escolher até seu cliente mais famoso. “Não visto quem não me representa só para ter fama, não me serve como cartão de visitas”, diz. Não revela os nomes, mas admite já ter recusado vestir duas cantoras muito conhecidas. E para quem acha que ele aceita um post no Insta em troca de uma peça, esqueça. “As famosas também pagam”, anuncia.

Uma artista que Ben ainda sonha em vestir é Xuxa. “Cresci tendo ela como referência. Essa coisa espetaculosa vem dela também. Sou fã e não tenho a menor vergonha disso”, diz já se esquivando de qualquer julgamento que possa vir do mundo fashion. "Esse povo da moda é muito blasé."