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Sobrevivente de violência, mãe de Luiza Brunet diz que luta da filha é dela

Luiza Brunet e a mãe, Alzira Botelho - Reprodução/Instagram
Luiza Brunet e a mãe, Alzira Botelho Imagem: Reprodução/Instagram

Amanda Serra

do UOL, em São Paulo

29/11/2017 12h34

Sobrevivente da violência doméstica que sofreu por 17 anos, Alzira Botelho, 72, não esconde o orgulho de ver a filha Luiza Brunet como defensora do direito das mulheres quando o assunto é agressão. “Ela foi muito corajosa de expor a história. Quando vi a foto dela estampada no ‘Fantástico’ me vi nela, retratada ali. Ela estava ali lutando por mim também, a causa dela é minha”, afirma ela, que se casou aos 19 anos e teve oito filhos.

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A primeira agressão, um tapa no rosto, ocorreu na primeira semana de casada. "Na hora, não entendi, cheguei a achar que fosse uma brincadeira. E tudo isso porque tinha ido ao Correio enviar uma carta para minha mãe”, relembra a carioca. 

As agressões continuaram, assim como a vergonha e a obrigação social de achar que tudo estava dentro da normalidade como diziam — "isso ocorre mesmo, não pode dar motivo". "Minha mãe morreu sem saber o que acontecia comigo”, conta a carioca, que desde o divórcio não fez questão de ter um novo relacionamento. "Deus me livre! Já tive uns namorados, mas casar não.”

Experiente e com conhecimento de causa, Alzira foi a primeira a sair em defesa da filha quando soube que o namorado, o empresário Lírio Parisotto, havia a agredido. "Ela disse: 'se ele te bater novamente, eu mato ele, mas mato você se você voltar", lembra Luíza. A matriarca ri e confirma a história.

"Na minha época, existia muita submissão, as mulheres aceitavam, tinham que aceitar. Hoje não, as mulheres não aceitam nem sequer um tapa e é isso mesmo", diz Alzira.

Durante o lançamento da websérie do Instituto Avon em parceria com a ONU Mulheres — "Quando Existe Voz" —, na última terça-feira (28), Luiza reafirmou seu ativismo e relembrou os ataques que sofreu e ainda sofre, principalmente na internet, por ter vindo a público denunciar seu agressor.

"Essa surra foi ótima para mim, óbvio que não gostei de apanhar, mas hoje, me sinto muito mais poderosa. No final, me tornei uma pessoa melhor do que eu era. Pude dar visibilidade para uma causa importante. No fim, tudo tem um por quê. Você ter coragem de fazer uma denúncia e impulsionar outras mulheres é gratificante".

Embaixadora do Instituto Avon há oito anos na luta contra a violência e o câncer de mama, a modelo temeu que a sua foto com o olho roxo pudesse prejudicar sua parceria com a marca. "Assim que as imagens foram divulgadas, liguei para eles e ouvi que todos da empresa estavam do meu lado e que a causa era deles também".

"Sofri um bullying absurdo, várias pessoas questionando a veracidade dos fatos ou ainda falando que fiz a denúncia porque queria dinheiro. Mesmo, eu, uma mulher madura, me senti insegura ao denunciar, meninas mais jovens, sobrevivente de revenge porn (pornografia de vingança), por exemplo, temem mais ainda", afirma Luiza, que também teve uma de suas conversas íntimas divulgada pelo ex.

Por fim, otimista, Luiza acredita na recuperação dos agressores, mas ressalta que para isso o trabalho necessita ser conjunto. “É possível sim, mas é preciso educar desde a base, orientar as crianças nas escolas. Mostrando que a agressão contra mulher precisa ser combatida e não é normal".

Abusos na moda

Além da violência física que sofreu em 2015, a modelo também enfrentou casos de abuso no início da carreira. "Já tinha posado nua três vezes para 'Playboy' e quatro para 'Ele e Ela', quando recebi uma proposta para estrelar um catálogo de moda praia. O cliente marcou a prova em um hotel em São Paulo e viajei acompanhada do meu primeiro marido na época, não existia agente. Assim que entrei no quarto, o tal empresário estava com champanhe e umas revistas masculinas na cama. Comecei a gritar, fiz um escândalo e não sei se a história correu, mas depois isso não aconteceu mais. É preciso se posicionar, mesmo no trabalho onde essas situações se tornam comuns. A mulher não pode deixar passar".

E foi justamente isso que a musa dos anos 80 passou para filha Yasmin, que acabou seguindo os passos da mãe. "Ela é engajada e muito mais incisiva que eu. Se posiciona mesmo e sempre conversei abertamente com ela sobre os possíveis abusos que poderiam ocorrer", conta. 

Modelo desde a adolescência, Brunet iniciou sua carreira na década de 80, início da luta feminina em prol de sua independência feminina. E mesmo se casando jovem (ao todo ela teve três relacionamentos sérios), ela conta que os ex-maridos nunca foram contra sua profissão. "Sempre me admiraram profissionalmente, nunca me proibiram de trabalhar e isso foi importante. Me respeitavam. O Lírio, por exemplo, via que ele tinha admiração pela mulher que eu era, pela profissional e pelas minhas conquistas".