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Luiza Brunet: "Escolhi a violência doméstica como bandeira da minha vida"

04.dez.2013 - Luiza Brunet posa com os filhos Antônio e Yasmin - Alex Palarea e Felipe Assumpção / AgNews - Alex Palarea e Felipe Assumpção / AgNews
Luiza Brunet posa com os filhos Antônio e Yasmin em foto de 2013
Imagem: Alex Palarea e Felipe Assumpção / AgNews

Amanda Serra

Do UOL, em São Paulo

24/11/2017 18h58

Dois anos após denunciar por agressão o ex-companheiro, o empresário Lírio Parisotto -- condenado a um ano de detenção em regime aberto --, Luiza Brunet, 55, reconstruiu sua vida e fez da luta contra a violência doméstica sua causa pessoal.

“Me tornei uma pessoa completamente engajada nos direitos das mulheres. É a bandeira que escolhi para a minha vida daqui para frente. Não sinto vergonha, de jeito nenhum, não me sinto por baixo. Me sinto íntegra e corajosa de ter colocado isso para fora e contribuir para que as mulheres tenham acesso à informação”, diz Luiza, citando sua história ao UOL.

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Embaixadora do Instituto Avon há oito anos na luta contra a violência e o câncer de mama, Luiza será a primeira a contar sua história em uma websérie da marca feita em parceria com a ONU Mulheres -- “Quando Existe Voz”, que estreia na terça (28). Ao todo, serão cinco depoimentos, incluído o da modelo e da farmacêutica Maria da Penha (que dá nome à lei 11.340, que há 11 anos pune agressores de mulheres). A iniciativa faz parte do Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher comemorado no próximo sábado (25).

“Passei seis, sete anos ouvindo relatos de várias mulheres e agora dou o meu depoimento. É doloroso? Claro que é, mas falo com convicção, sei o que cada uma sentiu na pele. Hoje, é mais fácil falar, dar conselho, dizer 'você irá passar por isso, mas se recuperará'. Me sinto tão, mas tão forte, tão preparada para falar sobre esse assunto, sem vergonha. Verbalizar foi importante, valeu a pena. Recebo muitos relatos, muitas mensagens no Instagram, até por isso estou sempre postando sobre o assunto”, conta a modelo.

Além da agressão física, Luiza conta que conviveu com diferentes fases da violência doméstica, como a patrimonial, a psicológica, a moral e até a sexual. “A cartilha de um agressor costumar rezar todos os tipos de agressão. Em algum momento passei por todos essas. Após me libertar disso, comecei a ler muito mais sobre o assunto, a participar de congressos; isso me deu uma fortaleza.”

Sua história retratada na TV   

Fã de “O Outro Lado do Paraíso”, de Walcyr Carrasco, Luiza se viu muitas vezes imersa nas situações vividas por Clara (Bianca Bin) e Gael (Sérgio Guizé). Além da violência doméstica, o folhetim da Globo também fez questão de abordar o estupro marital, outra situação, infelizmente, comum e pouco discutida socialmente.

“O tabu de falarmos sobre violência doméstica no Brasil caiu recentemente, mas isso acontece há muito tempo. Acredito que ao expor minha história contribuí para tirar essa venda que a sociedade tem quando se fala sobre o assunto. O fato de a novela expor isso faz com que muitas pessoas sejam atingidas pela história da Clara e dá oportunidade para outras mulheres saírem desse círculo vicioso. A história da personagem traz um conforto, pois mostra que a mulher pode sair disso, a violência não é uma sina. A mensagem é: 'olha, passei por isso, mas sairei inteira e vou recomeçar’.”

Luiza Brunet sofreu fratura em quatro costelas e afirma ter levado socos e chutes durante o espancamento - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
Luiza Brunet sofreu fratura em quatro costelas e afirma ter levado socos e chutes durante o espancamento
Imagem: Reprodução/TV Globo

Luiza ainda faz questão de desmitificar a premissa de que apenas mulheres humildes e de baixa renda estão suscetíveis aos abusos. Só no primeiro semestre de 2016, o Ligue 180, conhecido como Central de Atendimento à Mulher, recebeu cerca de 58 mil relatos de violência doméstica. O número representa aumento de 133% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Mesmo em sua posição privilegiada, a modelo precisou lidar com o machismo enraizado da sociedade que tende a culpar o mártir. Recentemente, ela precisou registrar um boletim de ocorrência por conta de ataques que vinha sofrendo na web, contra sua honra e imagem.

“Contei minha história, partindo do viés de ser uma pessoa independente, bem-sucedida, madura, uma mulher que poderia tomar atitudes... mas é muito difícil você sair do ciclo da violência doméstica, o que acontece na novela é real. Em algum momento, você sai e se reintegra, fica inteira, sem o estigma de mulher que sofreu violência nem vergonha... Aliás, não tem que ter vergonha, quanto mais você fala, mais ajuda outras mulheres. E é isso que eu faço. Qualquer mulher que é agredida se identifica com a Clara, isso aconteceu comigo”, conta.

Musa é musa 

As tragédias não foram as únicas responsáveis pelo amadurecimento da mãe de Yasmin, 29, e Antônio, 20, -- frutos do casamento com o empresário Armando Fernandez. Luiza diz que aprendeu a ter mais simplicidade e a fazer escolhas certeiras. "Depois de tudo que passei, a maneira como me expus, me sinto muito plena. Ter podido me encontrar novamente, me sentir bonita, pronta para me apaixonar novamente, viver minha vida sozinha ou acompanhada. Ou seja, tive grandes conquistas de dois anos para cá”, analisa.

Parceira da Avon há 20 anos e com seu nome em quatro perfumes, Luiza fala com entusiasmo sobre ser considerada um ícone de beleza e sensualidade desde a década de 80, quando se tornou uma sex symbol.

“Ser considerada uma mulher bela, com beleza madura, que começou supercedo, mas conseguiu se tornar conhecida por meio do trabalho, além de toda transformação que passei agrega muito valor. A gente precisa construir uma história e precisa ser verdadeira, não pode ser mentirosa, os valores precisam ser definidos. Então, acho que consegui levar isso na minha vida inteira, construí uma família, tive filhos maravilhosos, como a Yasmin, que está superengajada em movimentos sociais. É muito bom a forma como consegui me educar e educar meus filhos”, comemora.

Solteira e “bem sossegada”, a modelo garante que o amor nunca foi uma grande prioridade em sua vida. “Tive poucos casamentos, com Gumercindo fiquei seis anos, com o Armando, 24, e com o Lírio, cinco. Não é uma busca constante de relacionamento, sexo rápido. Sempre fui uma mulher de relacionamentos longos, com uma vida mais tranquila. Minha prioridade é estar bem comigo, com a minha família. Bem estruturada, de bem com a vida. Se conhecer alguém e me apaixonar, será maravilhoso recomeçar tudo. Não estou buscando, nunca busquei, aconteceram”, afirma.