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"Quem aprendeu fui eu": Elas contam como é casar com homens mais novos

O amor é livre, apenas aceite! - Montagem UOL
O amor é livre, apenas aceite! Imagem: Montagem UOL

Amanda Serra

Do UOL, em São Paulo

08/11/2017 08h31

Fátima Bernardes, Tatá Werneck e Emmanuel Macron. Além de serem pessoas públicas, eles têm em comum o fato de se relacionarem amorosamente com pessoas de faixas etárias distintas. No caso do presidente da França, por exemplo, ele se casou com uma mulher 24 anos mais velha, quando socialmente esperavam que aparecesse publicamente com alguém da mesma idade. Independentemente da importância de suas posições, os julgamentos não foram amenos. O preconceito e o machismo por causa de suas escolhas pessoais continuam sendo reproduzidos verbalmente, nos meios digitais ou através de olhares desconfiados.

Especialista em casamentos e relacionamentos no Brasil há mais de 30 anos e autora do livro “Por que os homens preferem as mulheres mais velhas?”, a antropóloga Mirian Goldenberg explica que a sociedade vive e acredita na lógica da dominação masculina (termo cunhado pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu), em que o homem deve ser superior à mulher em todos os aspectos, inclusive, na altura.

“Ou seja, quando um casal diz ‘não acredito nisso e ninguém precisa ser superior’ e inverte essa lógica, isso incomoda demais. Em vez de joguinhos de dominação, esses casais estão preocupados em lutar pela escolha que fizeram e posso garantir que eles são mais felizes que os outros casais. A leveza e a falta de expectativa iniciais contribuem para que a relação seja boa ao longo dos anos. Eles aprendem a valorizar outras características, como o companheirismo, a compreensão, o reconhecimento de que o valor da pessoa não está no rótulo da idade”, defende a doutora em Antropologia Social.

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E foi seguindo essa premissa que a professora de artes visuais e plásticas Simone Almeida, 43, engatou um romance com seu ex-aluno, Matheus de Souza, 23. “Ele me adicionou no Facebook e começamos a conversar. Ele disse que me admirava desde a época em que eu dava aula para ele”, conta a goiana, que ficou casada por 18 anos com seu primeiro marido e é mãe de dois meninos, um de 16 e outro de 10.

Simone Almeida é 20 anos mais velha que Matheus de Souza, mas isso não importa para o casal - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Simone é 20 anos mais velha que Matheus, mas isso não importa para o casal
Imagem: Arquivo Pessoal
“Será que ele te ama?”; “Será que não é só interesse?”; “O que será que ele quer com você?”; “Como você teve coragem de pegar um menino?”; “Você quer ele só para aproveitar, né?”; “Parece até um filho seu”. Esses foram alguns dos comentários que Simone ouviu quando decidiu assumir seu romance com Matheus. 

“Minha irmã custou a aceitar, falou um monte para mim... disse que ele me largaria assim que enjoasse, sem dó. No começo, me incomodava muito com as críticas, mas aprendi a não me importar mais com isso. No início, eu mesma estranhei, não pelo fato de ser um ex-aluno, mas pela questão da idade mesmo”, relembra.

De acordo com Mirian, o maior preconceito com relação a este tipo de casamento vem justamente das mulheres. “Elas são as mais contrárias a este arranjo conjugal, não os homens. São elas que ficam inseguras, envergonhadas e constrangidas por casarem com um homem mais jovem. Apesar de serem as que mais sofrem com as acusações, são elas que mais resistem a combater os preconceitos e acusações de desvio.”

“As pessoas não querem ver as outras felizes, parece que têm inveja. Só o fato de você estar feliz incomoda. Além do machismo, claro. A sociedade não lida bem com o fato de a mulher atualmente ser tão independente, moderna, saber o que quer, reconhecer suas vontades e desejos”, ressalta Simone.

Há dois anos juntos, a professora destaca a importância de não ter medo de ser feliz e nem se preocupar com contratos sociais. “Temos uma vida bem divertida, pois ele é muito animado e me faz ser animada também. Foi um ponto que amei nele, a alegria de viver. Adoramos sair para comer, ir ao cinema, passear com meus filhos juntos, viajar. Hoje, me sinto mais feliz, mais amada”, finaliza ela, que diz ter sido bem aceita pela família do rapaz.

"O nosso maior trunfo: amor e respeito mútuo"

Sioma conheceu Felipe quando ele tinha 17 anos; o casal oficializou a união no dia 12 de junho de 2016 - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Sioma conheceu Felipe quando ele tinha 17 anos; o casal oficializou a união no dia 12 de junho de 2016
Imagem: Arquivo Pessoal

Há oito anos ao lado de Felipe Aguiar, 26, Sioma Silva Aguiar, 36, conheceu o amado quando ele tinha 17. Além dos “tradicionais xingamentos”, a curitibana também teve que ouvir que era pedófila.

“Fui caluniada horrores por ter um filho de outro relacionamento. A família da mãe dele não me apoia, até hoje não nos 'bicamos'. No fundo, me odeiam porque não sou nada do que elas fizeram. Depois de anos de relacionamento, decepções e conquistas, sinto orgulho do casal que somos. Não brigamos, temos nossa casa, carro, nossa empresa e nos completamos”, diz a empresária.

Para ela, a principal diferença de namorar um homem mais novo está no ensinar e ser ensinada. “A troca de experiência com alguém mais jovem é fantástica. O Felipe me trouxe paz novamente e eu dei a ele a experiência de erros passados. Na cama, foi o melhor homem que já tive. Ele me ouve, presta atenção, é extremamente carinhoso e visual, neste momento sou o centro de tudo. No fim, achei que ia ensinar, mas quem aprendeu no final fui eu. Aprendi o que era prazer de verdade. Alegria alheia incomoda e vai incomodar sempre, o importante é libertar-se do próprio preconceito sem medo de ser feliz”, garante.

A antropóloga Mirian Goldenberg faz coro por essa emancipação de padrões. “A verdadeira libertação é a de comportamento, quando, na prática, vivemos plenamente a liberdade e reconhecemos que nós temos vários valores que ultrapassam o corpo jovem. A idade não é uma questão. Se ficarmos olhando muito para o que os outros vão pensar, não damos um passo. Porque está todo mundo policiando todo mundo sobre o que deveria ser, sobre o que não deveria. A questão não é o que deveria ser, mas o que é”, conclui.