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3 veganas respondem as 3 perguntas que mais ouvem no dia a dia

Thais Carvalho Diniz

Do UOL, em São Paulo

01/11/2017 04h00

O veganismo é um estilo de vida que busca acabar com qualquer forma de exploração animal, não apenas da alimentação, mas, também, do vestuário e entretenimento, por exemplo. Neste 1º de novembro, dia de comemoração para os veganos, o UOL conversou com três mulheres que não consomem nada de origem animal para saber o motivo da mudança e se enfrentam dificuldades no dia a dia.

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1. Por que me tornei vegana?

Natália Coutinho, 34, jornalista - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Problemas de saúde na família fizeram Natália investigar os efeitos dos alimentos no organismo
Imagem: Arquivo pessoal

"No final do ano passado, minha mãe descobriu um câncer de mama. Pouco depois, minha avó foi internada com câncer no fígado. Por isso, comecei a pesquisar medicinas alternativas que pudessem auxiliá-las. Foi quando descobri um médico higienista, que fazia um tratamento por meio da alimentação. Minha intenção era levar informação para elas, mas acabei descobrindo sobre como os alimentos agem no nosso organismo e no nosso psicológico. Então, há quatro meses, não como proteína animal e tento manter os alimentos crus", Natália Coutinho, 34, jornalista.

"Nunca fui de muita carne vermelha. Na minha casa, o frango era mais presente. Mas eu não gostava, ficava pensando nas galinhas. Minha família é do interior e eu chorava quando meu pai me colocava para montar cavalo. Tinha dó do bicho. Em 2015, fui morar na Irlanda e conheci um vegetariano. Eu não conhecia nada sobre o assunto e fiz a famosa pergunta: 'o que você come?' E ele falou: 'tudo'. Aquilo ficou na minha cabeça. Comecei a pensar na minha cachorra, que eu tanto amo, e o quanto eu era hipócrita por protegê-la e comer a carne de outros animais. Foi aí que cortei a carne, mas as continuei firme e forte no chocolate e no queijo que, de tanto comer, engordei 12 kg e desenvolvi intolerância à lactose. No primeiro semestre de 2016, parei de consumir qualquer proteína animal", Lucy Evans, 25, maquiadora

"Comprei um coelho em uma dessas lojas que vende animais, pois ele estava doente. Trouxe-o para casa, cuidei e passeava com ele pelo condomínio de prédios onde morava, em São Paulo. Levei uma multa por isso. Fiquei chocada. Tive um surto furioso, escrevi um texto e disse a todos que se aquele coelho estivesse morto e a pele dele na minha blusa, ninguém me proibiria de nada. Foi aí que conheci o veganismo. Procurei na internet e mergulhei no assunto. Embora eu sempre tenha sido avessa ao consumo de carne, na minha infância não existia referência sobre o veganismo ou coisa parecida. Sempre tive uma afinidade profunda com a natureza e há quatro anos formalizei esse selo depois de entender que vai além de uma dieta", Nana Indigo, 46, artista e ativista.

2. O que foi mais difícil? 

"O que mais sinto falta é de comida quente, cozida, porque, além de tudo, tento manter os alimentos crus. Tenho saudade de comer um bolo caseiro, mas consigo fazer uma versão sem ovos e manteiga. Confesso que era uma pessoa que comia muito doce, gostava de massas, mas abri minha cabeça --e o paladar-- para outros sabores. Passei a me emocionar com os alimentos. Sou mãe de duas meninas, de 5 e 7 anos --que não são veganas--, e casada. Sem meu marido, que entrou nessa comigo, certamente não conseguiria. O preparo dos alimentos demanda tempo e às 4h50 estamos de pé cozinhando, esterilizando tudo. Mudamos nosso estilo de vida. Sempre fui uma pessoa de muita festa, mas a diferença na alimentação diminuiu minha ansiedade e necessidade de estar em movimento". Natália emagreceu 11kg desde o início da nova alimentação. 

Lucy Evans, 25, maquiadora - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Primeiro, a cearense Lucy deixou de comer as carnes. Só depois cortou as outras proteínas de origem animal
Imagem: Arquivo pessoal

"Sofri muito para deixar de comer queijo e chocolate. Deixar de comer pizza, por exemplo, foi muito complicado. Comer é viciante. Espinafre, abacate, couve-flor... coisas que eu não comia, sem motivo, se tornaram essenciais. No começo, sentia muita vontade de comer sushi, por exemplo, mas descobri a versão vegana e comi até enjoar. Não deixei de sair ou estar com as pessoas, eu me adapto fácil. Se eu for a algum lugar e só tiver arroz, estou feliz. O que não gosto é de ter que dar satisfações. Não sou pior nem melhor do que ninguém pelo que eu como.Tentarem me convencer que leite faz bem e que se eu não comer carne vou morrer é o que me deixa insatisfeita". Quando quer comer brigadeiro, Lucy usa leite de amendoim para substituir o tradicional, condensado. 

"A vida se torna menos prática nos primeiros seis meses, um ano. Os valores dos produtos prontos para consumo são altos e é preciso organizar a mente, desenvolver um novo paladar. Por isso, digo que a motivação precisa vir 'de dentro', da vontade de preservar a natureza. Passamos a fazer mais comida em casa e descobrimos o prazer das frutas. Todo lugar tem uma quitandinha na esquina. Ando com uma faquinha e guardanapo na bolsa e pronto, não encontro problemas. Sobre renúncias não sou boa referência, pois não era de comer muitas coisas industrializadas. Mas a pizza sem queijo foi difícil. Para o meu marido, que também se tornou vegano, assim como meus filhos [um menino de 13 e uma adolescente de 15], largar o chocolate foi complicado, ele era chocólatra. Mas todos sentimos muito alívio. O corpo agradece". Nana saiu daquele condomínio onde sofreu a multa por conta do coelho. Hoje vive com a família em uma casa no interior de São Paulo.

3. O que mais consomem? 

"90% da minha alimentação é fruta. Por dia, como de um a dois mamões, duas maçãs, bananas, três a quatro folhas de couve, meia cabeça de brócolis, dez folhas de alface. Alguns amigos apoiam muito, embora falem da questão da proteína, o ferro, se nos sentimos fracos... Pelo contrário! Sinto uma disposição inacreditável. Outras pessoas criticam, mesmo, mas o que a gente diz que a decisão é nossa. Tomamos sol todos os dias, 15 minutos pelo menos, e as únicas vitaminas que precisamos repor são a D e a B12, algo que muitas pessoas que comem carne também têm que fazer". Natália anda com uma marmita de fruta na bolsa para emergências.

"Eu digo que como de tudo: feijão e banana todos os dias. Espinafre, abacate e grão-de-bico também estão bastante presentes na minha dieta. Já passei por alguns episódios desagradáveis em restaurantes por pedir para adaptarem algum prato. Na última semana, saí com as minhas amigas e a única coisa que dava para comer no lugar era tapioca de coco com leite de coco. Só porque eu pedi ao garçom para não passar manteiga na tapioca, a minha comida demorou 30 minutos a mais para chegar do que as outras. Eu perguntei e ele disse 'porque a sua é diferente, então demora'. Eu tento ser muito simpática e vou levando. E também tenho medo que cuspam na minha comida". Lucy conseguiu influenciar a mãe, que também não come mais nenhuma proteína animal desde abril. 

Nana Indigo, 46, artista e ativista - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Quando Nana decidiu cortar a proteína animal do cardápio, o marido e os dois filhos embarcaram com ela na nova alimentação
Imagem: Arquivo pessoal

"Aqui é muito arroz, feijão, salada e banana. Meu marido gostava de hambúrguer, então às vezes fazemos de feijão. Como somos ativistas, as pessoas nos encaram de um modo grotesco, com críticas pesadas às vezes. Mas tirando essa parte, a recompensa é muito boa. Nos recebem muito bem em todos os lugares. Seria leviana se dissesse que já fui maltratada. Uma vez estava em um restaurante no Rio Grande do Sul e disse ao garçom que não gostaria de me sentar naquelas cadeiras com assento de couro. Ele trouxe uma de palha para mim". Para Nana, as críticas acontecem porque as pessoas têm dificuldade de entrar em contato com o que é ruim em si mesmo.