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Cadeirante fala dos desafios do sexo: "Tive medo de não poder mais transar"

Ademar Munin e a esposa, Michele - Arquivo pessoal
Ademar Munin e a esposa, Michele Imagem: Arquivo pessoal

Barbara Therrie

Colaboração para o UOL

16/06/2017 04h00

Vítima de bala perdida, Ademar Munin ficou paraplégico aos 18 anos. Hoje, aos 39, o jogador de basquete conta ao UOL os desafios da sexualidade após o acidente e como mantém uma vida sexual ativa com sua mulher, Michele Munin, 29.

“Fiquei paraplégico no dia 3 de agosto de 1996. Estava num bar com amigos quando começou uma briga. Saiu um tiroteio e uma bala perdida atingiu minha coluna. Fui levado ao hospital e fiquei em choque quando o médico falou que eu tinha perdido o movimento das pernas. Acostumado a andar para todo canto, não foi fácil saber que passaria o resto da vida em cima de uma cadeira de rodas.

Assim que sofri a lesão, fiquei inseguro porque não sentia o meu corpo. Pra ser sincero, não fiquei nem tão preocupado de não voltar a andar, minha preocupação maior era saber se eu conseguiria ter relações sexuais. Com dúvidas de como as coisas seriam dali pra frente, cheguei a pensar que tinha perdido a minha masculinidade.

Demorei um ano para transar após ficar paraplégico

O primeiro ano foi bastante difícil, cheguei a terminar com uma namorada da época, porque eu não aceitava a minha condição. Depois, vi que era besteira, coisa da minha cabeça. Com o tempo fui me conhecendo, algumas sensibilidades foram voltando e minha vida voltou ao normal; percebi que podia fazer qualquer coisa que quisesse. 

Ademar Munin e a esposa, Michele - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Ademar já ficou com mais mulheres usando cadeira de rodas do que quando podia andar
Imagem: Arquivo pessoal

Demorei um ano até ter minha primeira relação sexual como paraplégico. Me preparei durante um período, conversei com médicos, com pessoas que já tinham passado pela mesma situação, tomei alguns remédios... até que aconteceu com uma amiga. Não fiquei com medo de falhar. Pelo contrário, me senti bem à vontade e o sexo rolou normalmente.

A partir daí, comecei a sair, a me socializar e a ir para a balada com os meus amigos, como qualquer jovem da minha idade.

Fiquei com mais mulheres estando na cadeira de rodas do que na época em que andava. Em parte, acho que isso se deu pela própria curiosidade delas, que me questionavam se eu era capaz de transar.

Era pecado, mas com o tesão à flor da pele, caímos em perdição

A fase de baladas e curtição ficou para trás em 2001, quando um amigo me convidou para ir a uma igreja evangélica e eu conheci a Michele, hoje minha esposa. Ficamos amigos e começamos a namorar. Ela era virgem e na época tinha 16 anos. Sabíamos que era pecado transar antes do casamento, mas com o tesão à flor da pele, caímos várias vezes em perdição.

Mesmo após ter sido batizado e me tornado membro da igreja, foi uma luta resistir à tentação, em especial para mim. O tempo máximo que conseguimos ficar sem sexo foi por cinco meses. A gente sempre contava para o pastor quando nos desviávamos e ele dizia: ‘já até sei o que aconteceu, vocês não podem continuar assim, não podem fornicar, vocês precisam casar’.

A gente resolveu casar, mas só depois de seis anos. No início, a família da Michele teve um pouco de preconceito. A mãe dela dizia: 'é isso mesmo que você quer, minha filha? Ele é paraplégico'. A minha situação assustava um pouco os familiares dela, até que eles me conheceram melhor, se certificaram de que eu poderia trabalhar e ter as mesmas condições de uma pessoa que anda.

Com a Michele passando por cima da desconfiança de todos e declarando que eu era o homem da vida dela, selamos nossa união no civil e numa cerimônia religiosa em 2007. Depois que casamos, não sentíamos mais culpa ao transar.

Sinto prazer, mas ejacular é um problema

Ademar tornou-se atleta profissional e hoje joga basquete na cadeira de rodas - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Ademar tornou-se atleta profissional e hoje joga basquete na cadeira de rodas
Imagem: Arquivo pessoal
Hoje, com 10 anos de matrimônio, tenho uma vida sexual ativa com a minha mulher, mas com algumas limitações. Não consigo ficar em posições que exigem que eu fique de pé ou de joelhos, mas variamos bastante. O que a imaginação permite fazer, fazemos.

Normalmente quando eu e a Michele fazemos amor, não tomo remédio para impotência sexual, embora já tenha precisado usar Viagra. Só uso esses remédios quando quero dar uma fortalecida e prolongar o sexo. Nessas situações, os remédios são sempre bem-vindos.

Esse ano pretendemos ter um filho, vamos fazer inseminação artificial, já que não posso engravidá-la do modo tradicional. Sinto prazer, meu pênis fica ereto, mas tenho ejaculação retrógrada. O que isso significa? Não tenho força para ejacular por causa da paraplegia; o esperma ejaculado fica dentro da minha bexiga e em vez de sair pelo pênis, ele é eliminado na urina.

Basquete sobre rodas

Aprendi muito nesses quase 21 anos em que sou paraplégico. Desde 2001, sou atleta da Associação Desportiva para Deficientes e jogo profissionalmente basquete na cadeira de rodas.

Para aqueles que estão na mesma situação que eu, aconselho a pessoa a praticar esporte, estudar e buscar interação social. O apoio dos amigos e familiares é fundamental para esse processo”.