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Moda vegana se torna desafio e é questionada por alguns especialistas

Palomo Spain - Reprodução/Instagram
Palomo Spain Imagem: Reprodução/Instagram

10/06/2019 09h19

Desde que estrelas de Hollywood abraçaram o veganismo, esta filosofia de vida não se limitou apenas à alimentação e foi ganhando outras esferas até chegar ao desenvolvimento de roupas, mas será que a moda pode ser vegana?

"A moda vegana é uma hipocrisia, não acredito", disse à Agência Efe Alejandro Gómez Palomo, estilista e criador da marca Palomo Spain, que desde o começo utiliza tecidos de origem animal porque considera ser mais ecológicos.

A Palomo Spain utiliza penas, couro e lã na confecção das peças de roupa, e, de acordo com ele, isso não significa que não ame os animais ou que seja desrespeitoso com o meio ambiente. Como ressaltou, a pele artificial e o poliéster são mais poluentes e costumam parar nos oceanos, um problema que é lembrado neste sábado, no Dia Mundial dos Oceanos.

"O veganismo é um luxo de milionários", disse a responsável de desenvolvimento de materiais da Fashion Business School da Universidade de Navarra (ISEM), Silvia Soler González, que afirmou que se vestir com fibras naturais de origem vegetal é complicado e muito caro.

Um vegano exclui do seu armário, por exemplo, peças de couro, pele, lã de ovelha, mohair, seda, pena, pérola e madreperóla. Ou seja, tudo o que venha de animais. Mas o que aconteceria se as ovelhas não tivessem o pelo aparado?

"Seria um animal maltratado e de saúde seria frágil", explicou a veterinária Rebeca Abascal Guzón, que lembrou que a ovelha não perde pelo naturalmente.

De acordo com ela, se não fossem aparadas, poderiam sofrer infecções, deixar de enxergar e ter dificuldade para se movimentar, dado o volume e peso da lã sobre seu corpo.

"Se pegar piolho, você deixa viver ou elimina? Se seu animal de estimação tiver pulgas, você as matas ou permite que sejam suas melhores amigas?", questionou Silvia, que disse acreditar ser mais perigoso consumir recursos naturais, que são finitos como os minerais, do que os animais que se reproduzem.

Para ela, o não consumo de animais conduz a um duplo problema: extinção e superpopulação com todas as consequências.

"O consumo animal está dentro do círculo da vida, e isso é regenerar a nossa própria essência, nos mantém em equilíbrio", acrescentou Silvia.

Quando um animal é sacrificado para se tornar alimento, seu couro, penas ou pelo pode ser utilizado para a fabricação de roupa ou outros objetos. "São materiais residuais", disse.

Ela, no entanto, é a favor do consumo responsável. "Não é necessário consumir proteína todos os dias", afirmou.

Quem pretende ser um vegano rigoroso também não pode utilizar cera de abelha e tinturas de origem animal, como a cochonilha, inseto usado para tingimento e coloração de peças de roupas, em cosméticos e em alimentos.

Há um tempo, o veganismo abriu um debate sobre a exploração animal, os problemas éticos, sociais e também ambientais.

"Não consigo entender um bom tratamento animal sem levar em conta os direitos trabalhistas e a sustentabilidade do planeta", argumentou a especialista da Universidade de Navarra, para quem é importante o consumo animal desde que seja bem feito, ou seja "evitando a crueldade, controlando a quantidade e a poluição".

Para ela, não se deve confundir o veganismo com o respeito ao meio ambiente. "Uma marca ser vegana não significa que seja sustentável", especificou.

A estilista Stella McCartney, por exemplo, decidiu não utilizar materiais de origem animal em suas coleções. Ela, no entanto, utiliza fibras sintéticas que, em algumas ocasiões, são prejudiciais ao meio ambiente, especialmente ao hábitat dos animais.

"É muito mais ecológico um casaco de pele de raposa do que um de couro sintético, que é super contaminante", disse Palomo.

Atualmente, 60% das peças de roupa consumidas no mundo são feitas a partir de poliéster, que leva, em média, 500 anos para se degradar totalmente. Além disso, durante sua vida útil, nas lavagens, essa fibra solta microplásticos que acabam em rios e mares destruindo a cadeia alimentar.

A recomendação é ler detalhadamente a etiqueta que antes de adquirir uma peça, já que nem todas as alternativas respeitam o planeta ou são responsáveis com a mão de obra utilizada. E as mãos são o maior valor para preservar os ofícios e o artesanato, que muitas vezes "são feitos com materiais de origem animal", concluiu Soler. EFE