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A "Almodóvar tailandesa", transexual e candidata ao parlamento

Reprodução/Facebook
Imagem: Reprodução/Facebook

Da EFE

16/03/2019 11h06

Conhecida como a "Almodóvar tailandesa" pela temática e o colorido de seus filmes, a cineasta Tawarin Sukkhapisit se transformou na primeira transexual a se registrar como candidata para concorrer a uma cadeira no parlamento da Tailândia, que realizará eleições em 24 de março.

Tawarin, nascida em 1973 na província de Nakhon Ratchasima, figura na lista eleitoral do partido emergente Anakot Mai ("Novo Futuro"), fundado há apenas um ano como uma força progressista frente ao poder dos militares que governam o país desde o golpe de Estado de 2014 e cuja popularidade está em ascensão, sobretudo entre o eleitorado mais jovem.

"O lema do partido é 'todos somos iguais' e isso me atraiu, depois fui conversar com as pessoas e acabei ficando entre os dez primeiros candidatos na lista do partido, o que garante que estarei no parlamento," contou Tawarin à Agência Efe.

A cineasta foi a primeira transexual a se registrar como candidata, mas não é a única que concorre nessas eleições, nas quais há inclusive uma candidata à primeira-ministra, Pauline Ngarmpring, do minoritário partido Mahachon.

Entre os planos de Tawarin e seu partido está a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, depois que a junta militar que governa o país aprovou as uniões como casais 'de fato' entre homossexuais em dezembro, uma medida que a candidata considera insuficiente.

"A lei de casais 'de fato' não é igualitária, quero mudar a lei que define o casamento como 'a união entre um homem e uma mulher' pela 'união entre duas pessoas. Antes de mudar qualquer lei é preciso consultar o povo, mas que problema pode haver se o casamento igualitário não tira nenhum direito de ninguém?", questionou a cineasta.

Tawarin ganhou fama em 2010 quando seu filme "Insects in the Backyard", que relata a história de uma transexual - interpretada pela própria Tawarin - e seus dois filhos, foi proibido pela censura e só obteve permissão para ser exibido sete anos depois, após cortar uma breve cena.

"Não abandonei minha carreira como produtora e diretora e não a separo da política, que sempre me interessou; meus filmes sempre foram políticos, porque falam de diversidade sexual e esse é um tema político", comentou Tawarin.

A Tailândia é conhecida por sua relativa tolerância com a transexualidade e a comunidade LGBT, mas, segundo Tawarin, a sociedade de seu país não está livre de preconceitos.

"É certo que na Tailândia não há violência contra a comunidade LGBT, mas as pessoas não conseguem entender ou aceitar a igualdade; só são aceitas as pessoas LGBT que não são integrantes de sua família", explicou.

"Minha luta não se limita a chegar ao parlamento, meu objetivo é que a sigla LGBT não seja necessária, que todo mundo veja a diversidade sexual como algo normal e ninguém seja julgado por sua orientação sexual", afirmou Tawarin.

O país está imerso há mais de uma década em um conflito político entre os partidários do ex-primeiro-ministro exilado Thaksin Shinawatra, deposto em um golpe de Estado em 2006, que ganharam todas as eleições convocadas desde 2001, e as elites monárquicas da capital, que contam com o apoio do exército.

Tawarin considera que nenhum dos dois lados apoiou a comunidade LGBT, mas acredita que isso pode mudar nas próximas eleições, já que todos os partidos querem seus votos.

A cineasta tem consciência das limitações do sistema eleitoral e político projetado pelos militares, já que os 250 membros do Senado, que vão nomear o primeiro-ministro junto com os 500 membros eleitos do parlamento, foram escolhidos a dedo pelos militares, e o poder do exército paira sobre todo o processo.

"Estas eleições não são totalmente democráticas, mas nos oferecem a oportunidade de mostrar que a sociedade tailandesa já não aguenta mais a opressão, são a única oportunidade que temos," frisou Tawarin.