Topo

Prefeitura no Nepal tenta acabar com exílio de mulheres durante menstruação

Kusum Thapa, 17, faz lição de casa na Chhaupadi de sua família, na aldeia de Dhungani, Nepal - Tara Todras-Whitehill/The New York Times
Kusum Thapa, 17, faz lição de casa na Chhaupadi de sua família, na aldeia de Dhungani, Nepal Imagem: Tara Todras-Whitehill/The New York Times

Sangam Prasain

da EFE, em Katmandu

27/01/2019 08h27

Shristi Regmi, vice-prefeita do município de Budhinanda, no noroeste do Nepal, tem a missão de percorrer remotas aldeias da região para acabar com o "Chhaupadi", a antiga prática de manter mulheres em um abrigo rudimentar enquanto estão menstruadas.

Aos 26 anos, ela tenta salvar a vida de pessoas inocentes e eliminar um costume que por séculos levou meninas e mulheres a se isolarem fora de casa durante o período menstrual e que mesmo proibido há mais de dez anos continua a ser feito em comunidades tradicionais.

Amba Bohara, de 35 anos, e seus dois filhos, de 12 e 9 anos, foram as vítimas mais recentes dessa tradição hindu muito presente no Nepal. Foi justamente esse caso que levou Regmi a criar uma campanha que já conseguiu fechar 80 espaços em diferentes aldeias.

Foi na gelada noite de 8 de janeiro quando Amba fez uma fogueira para se manter aquecida em um alpendre sem janelas ao qual foi levada durante o seu período menstrual acompanhada de seus filhos.

Na manhã seguinte, quando sua sogra abriu a porta da cabana, os três foram achados mortos. A polícia suspeita que morreram de asfixia enquanto dormiam devido à fogueira no interior da cabana.

"Esta é uma prática religiosa negativa que matou muitas mulheres. Esta crença profundamente enraizada deveria terminar agora", disse à Agência Efe Regmi.

Durante o período menstrual e no pós-parto, a tradição hindu considera que as mulheres são impuras, por isso tradicionalmente são proibidas de entrar até mesmo nas próprias casas e templos. Durante a menstruação, elas também não podem tocar em outras pessoas, em animais, na comida ou nas plantas.

O acesso à água e poços também é limitado. As mulheres que praticam o Chhaupadi tem uma torneira separada para tomar banho e lavar a roupa. Entre algumas comunidades, acredita-se que se uma mulher menstruada encosta em uma fruta, elas cairão antes de estarem maduras ou se ela busca água, o poço secará.

Embora o governo e várias organizações sociais tenham trabalhado e investido fortunas para acabar com o Chhaupadi, o resultado não foi satisfatório.

"É um desafio acabar com uma crença de séculos em um curto período. Mas não é impossível", defendeu.

A morte da Amba e dos filhos fez com que as autoridades locais pedissem, duas semanas depois da tragédia, a demolição dos Chhaugoth, como são conhecidas as casinhas para esta finalidade.

As famílias que continuarem mantendo o hábito poderão deixar de receber benefícios do governo - incluindo a aposentadoria -, ter o pedido de passaporte negado e serem impedidas de concorrer a cargos públicos.

"Estamos reunindo dados de quem demoliu seus Chhaugoth e quem não. Aqueles que não fizeram o pedido terão o nome publicado e não poderão acessar instalações do governo", avisou Regmi.

O trabalho de Regmi mudou a dinâmica da população, e agora policiais estão patrulhando as aldeias e monitorando as famílias. Embora não existam dados do número de abrigos no distrito, Regmi estimou que poderia chegar a 120.

O Comitê de Audiências Parlamentares do Nepal emitiu orientações para o Ministério de Mulheres, Crianças e Pessoas da Terceira Idade registrar famílias que estão obrigando meninas e mulheres a praticarem o Chhaupadi.

O costume ocorre em todo o Nepal, mas em diferentes estilos. Algumas regiões têm Chhaupadi construídos em colinas e lugares remotos. Nos distritos de Doti, Baitadi e Darchula, a maioria das mulheres fica no mesmo abrigo dos animais.

Nas áreas urbanas, as mulheres ficam em um quarto separado e não podem cozinhar e encostar nos demais.

"É uma prática amplamente aceita em todo o Nepal. Dos mais estudados aos analfabetos, da elite aos mais pobres, todos seguem esta crença da menstruação", declarou à Efe Chet Raj Baral, principal oficial de distrito de Baixura, que acrescentou que, embora o costume não possa ser facilmente erradicado, é possível conscientizar as pessoas.