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Tirar licença-paternidade ainda causa incômodo em Wall Street

Licença paternidade - Getty Images
Licença paternidade Imagem: Getty Images

Max Abelson e Rebecca Greenfield

13/06/2019 14h37

Quando o JPMorgan Chase fechou um acordo para pagar uma indenização de US$ 5 milhões em um processo de discriminação aberto por um funcionário que acabara de ter um filho, a impressão era de que algo começava a mudar em Wall Street. Homens que trabalham no maior banco dos Estados Unidos podem tirar até 16 semanas de licença-paternidade, destacou o banco, que se comprometeu em divulgar melhor a informação.

Mas banqueiros do setor dizem que é mais fácil ajustar a política - ou pagar o equivalente a 70 minutos de lucro - do que mudar a cultura da empresa que dita a forma como as pessoas pensam e agem.

Embora grandes bancos e outras firmas de Wall Street tenham aumentado o tempo de licença para os níveis mais altos oferecidos nos Estados Unidos, os homens ainda têm receio de ficar em casa por vários meses, segundo entrevistas com funcionários atuais e antigos. Eles temem o que poderia acontecer quando se separam de uma cultura que valoriza o cara a cara e o vínculo dos relacionamentos. Os sinais são sutis e a tradição pesa.

Khe Hy, que deixou seu cargo como diretor administrativo na BlackRock em 2015, disse que observou duas piscadinhas quando tirou 10 dias de licença-paternidade. "Uma significava: 'Podemos entrar em contato se precisarmos?' e a outra: 'Ainda podemos incluí-lo em todas as teleconferências, certo?'", disse Hy, que agora presta assessoria financeira a executivos e escreve sobre produtividade.

"É como se estivessem dizendo: 'Convenhamos, o que você vai fazer nos primeiros 10 dias de vida do seu filho? Você não é a mãe'."

Um gestor de hedge fund que já trabalhou para o JPMorgan lembrou do dia em que sua filha nasceu há uma década - ele voltou para o trabalho naquela tarde. Um operador que trabalhou no Goldman Sachs Group e Citigroup disse que os homens que pedem para tirar a licença-paternidade oferecida pelas empresas estão praticamente pedindo para serem demitidos.

A mudança precisa ser mais profunda, disse Elizabeth Gulliver, que foi vice-presidente do Citigroup até 2016. "Quando algo vem como um privilégio, você vê a licença remunerada ou uma jornada flexível como descontos da Equinox", disse Gulliver, em referência à rede de academias de ginástica americana. Gulliver cofundou a Kunik, uma comunidade de pais que trabalham. "Isso precisa ser visto como uma mudança cultural, de mentalidade."

Isso não significa que, em Wall Street, pais com novos bebês não estejam passando tempo com os filhos. Mais de 8 mil homens da força de trabalho do Wells Fargo tiraram licença-paternidade nos últimos dois anos, pouco mais da metade dos cuidadores primários.