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A mulher que ajuda a melhorar a comunicação no BC da Argentina

Banco Central da Argentina - Reprodução/Banco Central da Argentina
Banco Central da Argentina Imagem: Reprodução/Banco Central da Argentina

Patrick Gillespie e Ignacio Olivera Doll

Da Bloomberg

14/02/2019 10h28

Veronica Rappoport desembarcou em Buenos Aires em setembro com uma missão: ajudar a acabar com a crise cambial que se criou durante meses de equívocos de comunicação e políticas erráticas do Banco Central.

A tarefa não era fácil. O peso argentino caía descontroladamente e o Fundo Monetário Internacional havia acabado de pedir que o Banco Central melhorasse sua comunicação. A Argentina enfrentava uma grande crise de confiança cujas sementes podem ter sido plantadas nove meses antes, quando a autoridade monetária inesperadamente relaxou as metas de inflação, gerando a especulação de que o presidente Mauricio Macri estava pressionando por juros menores para estimular o crescimento econômico.

Desde aquela mudança fatídica, dois presidentes do BC pediram demissão. Guido Sandleris, o atual, assumiu o cargo em setembro, quando a Argentina renegociava um pacote de resgate de US$ 56 bilhões com o FMI. Ele convocou Rappoport, professora associada da London School of Economics e antiga amiga de faculdade, para ajudá-lo a estancar a hemorragia cambial. Ela ingressou no banco como um de seus dois vice-presidentes, juntamente com Gustavo Cañonero, que havia chegado em junho, e se tornou a mulher de cargo mais elevado na instituição durante a era Macri.

Rappoport rapidamente deu início a uma ofensiva, reunindo-se com investidores e formadores de opinião para explicar o complexo pacote de medidas -- como congelar a base monetária e impor uma faixa cambial -- que acabava de ser lançado para enfrentar a crise. Três semanas após a nomeação, ela foi enviada para a reunião do quarto trimestre do FMI, em Bali, para ser o rosto do Banco Central argentino. Agora, ela ajuda a supervisionar a estratégia de comunicação do banco, da redação dos comunicados à imprensa a reuniões informativas com os investidores, e também uma reformulação geral do website e do banco de dados da instituição, segundo uma pessoa com conhecimento direto do trabalho dela.

A crise da Argentina tem raízes mais profundas, mas a incapacidade do Banco Central de transmitir claramente sua mensagem estava piorando os problemas. Por enquanto, as novas políticas do Banco Central e a melhora da comunicação estabilizaram a moeda. Após a queda de mais de 50 por cento em relação ao dólar americano até o fim de setembro, o peso subiu quase 10 por cento. A inflação esfriou por três meses consecutivos. O risco soberano da Argentina caiu significativamente.

"A comunicação melhorou e a política monetária ficou mais realista desde que Sandleris, Cañonero e Rappoport assumiram, considerando as limitações do banco", disse Fausto Spotorno, economista-chefe da consultoria local Orlando Ferreres & Asociados. "Rappoport é muito boa economista."

O FMI também percebeu. Elogiando a "mente analítica afiada" de Rappoport, um porta-voz do fundo afirmou que as comunicações desde então se tornaram mais "oportunas e transparentes, e, com isso, ajudaram a melhorar a credibilidade do banco central". Ele acrescentou que "ela representa uma forte adição ao muito competente grupo de profissionais do Banco Central argentino."

Déficit de mulheres

Rappoport, 46, ingressou no conselho do Banco Central quatro meses depois de a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, repreender publicamente a equipe de negociação exclusivamente masculina da Argentina, dizendo que havia um "déficit de mulheres". O Banco Central e o FMI afirmaram que o comentário de Lagarde não teve nenhuma relação com a nomeação. Rappoport preferiu não conceder entrevista para esta reportagem.

Criada em Buenos Aires, ela fez doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e depois lecionou na Universidade de Columbia e na LSE. Apesar de ter passado boa parte das últimas duas décadas no exterior, Rappoport manteve o envolvimento com os círculos políticos da Argentina. Ela atuou como conselheira do Ministério da Economia em 2000 e seu pai é um alto funcionário do Ministério do Interior.