Topo

#MeToo chega a década antes da crise do Lehman Brothers

Bertrand Guay/AFP
Imagem: Bertrand Guay/AFP

Claire Boston

Da Bloomberg

05/02/2019 20h10

Comentários sexistas, gestos obscenos -- e coisas piores.

Acusações como essas são muito comuns na era do #MeToo. Só que, desta vez, elas vêm do que parece ser a Idade das Trevas de Wall Street: a época em que o Lehman Brothers voava alto. Mais de uma década depois do colapso do Lehman, seis mulheres que trabalhavam na unidade de hipotecas subprime do banco continuam acusando um ex-colega de assédio sexual -- e ainda estão à espera de respostas.

A história dessas funcionárias que se tornaram denunciantes e depois demandantes chamou a atenção novamente com um documentário de 2018, "Inside Lehman Brothers", sobre supostas irregularidades financeiras no banco.

Mas em um momento em que o movimento #MeToo abala as estruturas de poder em algumas das arenas mais visíveis do país, a história também ressalta uma séria realidade para muitas mulheres nas finanças. O setor cultiva há muito tempo uma cultura que mantém as queixas por assédio fora dos tribunais e dos olhos do público -- e até agora evitou um megaescândalo como o que envolveu Harvey Weinstein.

Fraude e assédio

A história do Lehman começa em Sacramento, Califórnia, quando a grande bolha hipotecária dos EUA estava crescendo. As mulheres -- Coleen Colombo, Cheryl McNeil, Linda Howard-James, Sylvia Vega-Sutfin, Isabel Guajardo e Michelle Seymour -- trabalhavam na BNC Mortgage, a unidade de subprime do Lehman.

Colombo, que era corretora de seguros, informou a direção regional sobre sinais de empréstimos fraudulentos no início de 2005, dizendo que tinha visto pedidos de empréstimo com recibos de pagamento falsificados e números adulterados, de acordo com o processo.

A pressão para aprovar empréstimos com informações falsificadas estava afetando sua saúde física e emocional, e ela tirou uma licença para lidar com o estresse, afirma a ação judicial. Quando voltou, foi informada de que um dos gerentes da agência queria que ela fosse demitida por fazer o relatório. Mais tarde, Colombo pediu demissão.

Colombo disse na denúncia que um gerente de contas do escritório, Daniel Keenan, começou a assediá-la sexualmente depois que ela expressou preocupação com os empréstimos. Entre outras coisas, ela disse que ele entrou em seu escritório e esfregou o corpo contra o dela. Outras mulheres relataram que Keenan tocou-as de maneira inadequada, olhou de maneira indecorosa para as blusas delas e fez comentários racistas e sexuais.

Dinheiro

Um representante do Lehman não respondeu a pedidos de comentários. Tentativas da Bloomberg para entrar em contato com Keenan não tiveram sucesso e um aviso do tribunal publicado em 2012 mostrou que ele não recebeu a queixa porque não pôde ser localizado.

Gary Gwilliam, advogado das mulheres, disse que o dinheiro em um fideicomisso vinculado à BNC, estimado em cerca de US$ 10 milhões, representa o mínimo que elas deveriam receber com base em quase 15 anos de salários perdidos e problemas emocionais.

O Lehman está tentando preservar esse dinheiro para o caso de ele poder ser aplicado aos US$ 2,4 bilhões que o banco foi condenado a pagar no ano passado para resolver uma disputa sobre seus títulos com erros com garantia de hipotecas residenciais. Gwilliam argumenta que o dinheiro fiduciário não é aceitável para esse pagamento porque os representantes dos compradores de títulos hipotecários não conseguiram provar que houve violações em dezenas de milhares de empréstimos agrupados nos títulos.

"Estamos falando de seis mulheres que sofreram por muito mais de 10 anos", disse Gwilliam em entrevista. "Não há outros credores sérios nessa parte da falência. Elas deveriam receber esse dinheiro."

--Com a colaboração de Tiffany Kary.