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Cresce número de mulheres russas grávidas em Miami

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Imagem: iStock

Elena Popina

Da Bloomberg

17/12/2018 18h28

A Matryoshka estava movimentada como sempre, vendendo blinis, caviar e borscht. Nem todos os clientes eram mulheres grávidas. Apenas parecia que a maioria sim.

A loja de conveniência em Sunny Isles Beach, uma pequena cidade em uma ilha ao norte do centro de Miami, é há muito tempo um ponto de encontro para estrangeiras que falam russo e ficam na região enquanto esperam para dar à luz.

Elas vão para lá por causa dos hospitais, dos médicos, do clima, da praia -- e não, afirmam com certa exasperação, para conseguir a cidadania americana para seus filhos.

O privilégio de ter um passaporte americano era "a última coisa na minha lista de objetivos, literalmente", disse Viktoriia Solomentseva, 23, ex-frequentadora assídua da Matryoshka que teve uma filha há sete semanas e recentemente voltou para Moscou com a pequena Emily, uma nova cidadã dos EUA. "Por que Trump acha que todo mundo morre de vontade de ter um?"

O assunto é um pouco delicado para mulheres como Solomentseva, que estão provocando um baby boom no sul da Flórida.

Elas foram arrastadas para o debate sobre o direito à cidadania por nascença, reacendido quando o presidente dos EUA, Donald Trump, prometeu recentemente acabar com isso para os filhos de estrangeiros. Embora seu alvo fosse os imigrantes ilegais, ele também reclamou que o privilégio concedido na 14ª Emenda "criou toda uma indústria de turismo do nascimento".

Isso, de fato, é verdade. Os dados são escassos, mas o Centro de Estudos sobre Imigração estimou que mais de 30.000 mulheres desfrutam desse privilégio a cada ano.

Algumas nacionalidades preferem certas regiões metropolitanas, como os chineses, por exemplo, que preferem Los Angeles, enquanto os nigerianos tendem a escolher cidades no nordeste e no Texas.

Para mulheres com raízes na antiga União Soviética, o lugar favorito é Miami; se forem ricas, é Sunny Isles Beach, apelidada de Pequena Rússia porque muitos dos seus 22.000 residentes são oriundos daquela parte do mundo.

E os números dessas mulheres, de acordo com todos os indicadores, estão crescendo. A desvalorização do rublo, as relações tensas entre a Rússia e os EUA, os obstáculos que precisam ser superados para conseguir um visto - nada disso está desacelerando o fluxo.

Em todos os voos de Moscou para Miami, tem pelo menos uma mulher grávida, disse Konstantin Lubnevskiy, proprietário de uma agência chamada Miami-mama, cujo logotipo é a silhueta de uma grávida diante de uma grande bandeira dos EUA. Em alguns voos, tem mais de cinco, disse ele. "O que elas estão fazendo é totalmente legal."

Sim, é verdade. Mas, honestamente, é por causa dos passaportes? De jeito nenhum, disse Solomentseva no saguão cheio de mármore de uma das Trump Towers em Sunny Isles Beach, onde ela alugou uma unidade no 39º andar por alguns meses.

"Eu queria dar à luz no lugar que tem o melhor atendimento médico, onde é confortável e relaxante", disse ela enquanto o marido, que é dono de uma empresa na Rússia, cuidava do bebê no quarto. O clima é muito mais agradável em Miami do que em Moscou no inverno. "Mas eu mal posso esperar para voltar para a Rússia."

Como todo mundo, ela, é claro, preencheu a papelada necessária para Emily. Não é que a cidadania não seja vista como algo que poderia ser útil algum dia.

Talvez possa ajudar a conseguir uma vaga em uma faculdade nos EUA, ou abrir uma empresa em Nova York, ou comprar uma casa em Sunny Isles Beach, disse Anna Bessolnova, 42, que teve uma filha em Miami em 2014, dias antes da Rússia anexar a Crimeia, o que desencadeou ondas de sanções internacionais.

"Não sei se minha filha algum dia usará o passaporte ou não, mas é bom ter opções distintas", disse ela.