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United Airlines é acusada de tolerar caso de assédio sexual

Por mais de dez anos, piloto postou fotos explícitas da ex-namorada, uma comissária de bordo - Getty Images
Por mais de dez anos, piloto postou fotos explícitas da ex-namorada, uma comissária de bordo Imagem: Getty Images

Rebecca Greenfield

Da Bloomberg

15/08/2018 17h48

Durante mais de uma década, um piloto da United Airlines publicou na internet fotos sexualmente explícitas de sua ex-namorada, que era comissária de bordo da empresa aérea. Ela reclamou para as autoridades e para a United -- e agora a empresa é alvo de uma ação judicial federal porque, segundo o governo dos EUA, não reprimiu o comportamento do piloto.

Em queixa apresentada na semana passada, a Comissão de Oportunidades Iguais de Emprego dos EUA (EEOC, na sigla em inglês) afirma que, ao não tomar providências quando a comissária de bordo denunciou o comportamento do piloto, a United Airlines tolerou o assédio e criou um ambiente de trabalho hostil. A United discorda da descrição da EEOC para a situação e alegou em comunicado que "não tolera assédio sexual no ambiente de trabalho".

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Quase 40 por cento dos americanos já namoraram um colega de trabalho, e este caso sugere que os empregadores podem ser responsabilizados pelo que acontece durante o relacionamento -- ou depois que ele termina. "O significado disso não é apenas que tal pessoa fez algo contra mim, mas também que meu empregador tem a responsabilidade de fazer algo a respeito", disse Mary Anne Franks, professora de Direito da Universidade de Miami e presidente da Cyber Civil Rights Initiative (Iniciativa por Direitos Civis na Internet).

Publicação de fotos

O processo contra a United se centra no piloto Mark Uhlenbrock, que tirou fotos consensuais e não consensuais da namorada durante uma relação que durou quatro anos, segundo a queixa. Depois que eles terminaram, ele publicou as fotos na internet durante um período de 10 anos sem o consentimento dela.

Esse comportamento normalmente é descrito como "pornografia de vingança". Trata-se de delito criminal em 40 estados e no Distrito de Columbia, e a comissária de bordo acionou as autoridades. Uhlenbrock, 64, acabou se declarando culpado de "perseguição na internet" e cumpre pena de 41 meses de prisão.

Ela acionou também o empregador. As publicações, que a identificaram pelo nome e pelo empregador, tinham o objetivo de afetar as condições de trabalho da comissária de bordo, argumenta a EEOC. Em uma delas, Uhlenbrock recomendou aos passageiros "procurar por ela ao viajar de avião", dizendo que ela era "um novo motivo para 'voar em céus amigáveis'", uma referência ao lema da companhia.

A comissária de bordo foi à Justiça em busca de uma liminar para impedi-lo de publicar as fotos. Ela também recebeu indenização monetária. No entanto, apesar das reiteradas queixas à direção da United Airlines, o piloto conservou o emprego até ser preso, em 2016.

Responsabilidade da empresa

A EEOC argumenta que as empresas têm a responsabilidade de proteger os funcionários de assédio, mesmo que esse assédio ocorra na internet, e não na sala de descanso. Ao permitir, na prática, que Uhlenbrock continuasse publicando as imagens sem nenhuma consequência, alega o governo, a empresa não impediu a vitimização de outro funcionário.

"Este caso se encaixa muito bem nos princípios tradicionais de combate ao assédio sexual", disse David Lopez, ex-conselheiro geral da EEOC. "As leis de direitos civis são uma arma eficaz."