Topo

O escândalo de pornografia ilegal com câmeras escondidas na Coreia do Sul

Getty Images
Imagem: Getty Images

Da BBC

21/03/2019 18h01

Acusados gravaram sem consentimento cerca de 1,6 mil pessoas e venderam o material online.

As câmeras estavam escondidas na televisão, no suporte do secador de cabelo e até nas tomadas... e foram usadas para filmar sem consentimento quase 2 mil pessoas em quartos de diferentes hotéis da Coreia do Sul.

Este é o mais recente escândalo da chamada "epidemia" de câmeras escondidas no país asiático, um problema sério que causou inúmeros protestos nos últimos anos.

Embora a divulgação de pornografia seja considerada ilegal na Coreia do Sul, fotos e vídeos gravados sem permissão têm sido amplamente compartilhados na internet.

"Câmeras escondidas gravam mulheres, e às vezes homens, se despindo, indo ao banheiro, em academias e piscinas, ou experimentando roupas em lojas. Os vídeos são então publicados em sites pornográficos na internet", explica a correspondente da BBC em Seul, Laura Bicker, ao fazer uma análise sobre o tema.

No caso dos hotéis, as autoridades prenderam dois homens acusados de gravar secretamente cerca de 1,6 mil hóspedes e vender o material online - outras duas pessoas estão sendo investigadas.

Os acusados ganharam supostamente US$ 6,2 mil e, se forem considerados culpados, podem ser condenados a cumprir até 10 anos de prisão e pagar multa de 30 milhões de wons (cerca de US$ 100 mil).

Minicâmeras e assinantes

Os acusados usavam câmeras muito pequenas, com lentes de um milímetro, para evitar que fossem descobertas.

Elas foram instaladas em agosto do ano passado, em quartos de 30 hotéis de dez cidades do país, segundo informou a polícia à BBC.

Meses depois, em novembro, os responsáveis pelo esquema criaram um site que oferecia aos usuários assistir a transmissões ao vivo do que estava acontecendo nos quartos do hotel, afirmou a agência sul-coreana Yonhap.

De acordo com a polícia, os acusados conseguiram assinantes - e chegaram a vender 803 vídeos.

O site, hospedado em um servidor no exterior, contava com um total de 4.099 membros.

"A polícia trata de maneira muito dura os criminosos que publicam e compartilham vídeos ilegais, já que ferem seriamente a dignidade humana", disse um porta-voz da Agência de Polícia Metropolitana de Seul ao jornal local The Korea Herald.

'Minha vida não é sua pornografia'

O escândalo dos hotéis traz à tona a gravidade do problema no país, onde a cada ano são denunciados mais de 6 mil casos de pornografia com câmeras escondidas, sendo a maioria das vítimas mulheres.

Em 2017, foram registrados mais de 6 mil casos, em comparação a 2,4 mil em 2012, embora, segundo a correspondente da BBC, acredita-se que pode haver muito mais.

Neste ano, o mundo da música também foi alvo de um escândalo do gênero no país. O cantor e apresentador Jung Joon-Young foi acusado de gravar e compartilhar em um grupo de bate-papo cenas de sexo entre ele e mulheres a quem não pediu permissão para filmar.

Jung pediu desculpas recentemente aos fãs por tê-los "chocado" e às mulheres que tiveram a privacidade violada.

Mais de 5,4 mil pessoas foram detidas por crimes relacionados a essas práticas em 2017, mas menos de 2% foram presas.

No início deste ano, a cofundadora de um dos maiores sites de pornografia da Coreia do Sul foi condenada a quatro anos de prisão por um tribunal em Seul.

Soranet Song hospedava em seu site milhares de vídeos ilegais, muitos filmados com câmeras escondidas instaladas em banheiros e vestiários de lojas, ou publicados por ex-parceiros por vingança.

No ano passado, a questão gerou uma série de protestos na capital; manifestantes foram às ruas fazer um apelo ao governo para endurecer as penas contra pornografia ilegal.

"Minha vida não é sua pornografia" foi o slogan usado em uma das manifestações, que, segundo as estimativas, foi a maior mobilização de mulheres na história recente do país.