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Escravas sexuais fizeram São Francisco e Osaka não serem mais cidades-irmãs

O polêmico monumento representa mulheres que foram forçadas a trabalhar em prostíbulos controlados por militares durante a Segunda Guerra - Getty Images
O polêmico monumento representa mulheres que foram forçadas a trabalhar em prostíbulos controlados por militares durante a Segunda Guerra Imagem: Getty Images

07/10/2018 09h28

Quatro mulheres imóveis. Três delas de mãos dadas formando um círculo e viradas para o lado de fora.

Uma é da Coreia, outra da China e a terceira é filipina. A última, também coreana, está de pé, poucos metros à frente, olhando em direção ao grupo.

Além das expressões de tristeza e desânimo que exibem, não há nada nelas que chame muita atenção.

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São estátuas de bronze, erguidas em São Francisco (EUA).

Mas por causa delas, a cidade japonesa de Osaka pôs fim à chamada "geminação de cidades", um acordo de cooperação mútua que por mais de 60 anos a ligou à São Francisco, nos Estados Unidos - fazendo das duas espécies de "cidades-irmãs".

Mas qual foi o motivo?

Escravas sexuais

As figuras retratadas pelas estátuas representam as chamadas "mulheres de conforto", jovens procedentes desses três países asiáticos que foram obrigadas a atuar como escravas sexuais para soldados japoneses durante a Segunda Guerra Mundial.

Estima-se que cerca de 200 mil mulheres tenham sido confinadas com esses fins em espécies de bordeis militares.

Mas os japoneses contestam essa versão e o fim do acordo com a cidade americana é anunciado como um protesto.

Relação abalada

O prefeito de Osaka, Hirofumi Yoshimura, disse que o monumento "destruiu a relação de confiança entre as duas cidades".

Ele explicou as razões de sua decisão em uma carta de dez páginas na qual assegura que parte do "problema" está na inscrição do monumento, a qual, diz ele, "apresenta afirmações imprecisas e parciais como fatos históricos".

"Também há divergências entre os historiadores em relação aos dados, como o número de 'mulheres de conforto', até que ponto o exército japonês estava envolvido no que aconteceu e a extensão dos danos causados durante a guerra", acrescenta no texto.

A escultura que remete ao episódio, chamada de "Coluna de força das mulheres", estava exibida de forma reservada em São Francisco, mas foi oficialmente aceita e exposta pela cidade em novembro do ano passado.

A obra representa as mulheres escravizadas, incluindo algumas que - de acordo com um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) - foram levadas para tais locais enganadas com a promessa de que iriam trabalhar como cozinheiras ou faxineiras.

Decisão unilateral

O prefeito de Osaka havia decidido romper com o acordo de cooperação entre as cidades em novembro do ano passado, mas adiou esse passo devido à morte do prefeito de São Francisco Ed Lee, ocorrida em dezembro.

Lee foi então substituído por London Breed, a primeira prefeita afro-americana da cidade, a quem coube se pronunciar sobre o conflito diplomático.

Breed divulgou um comunicado em que afirmou ser impossível romper os laços que unem as duas cidades, em um relacionamento que existe há 60 anos.

"Um prefeito não pode romper de forma unilateral a relação que existe entre os habitantes de nossas duas cidades", disse ela.

A inscrição colocada junto à escultura diz: "Este monumento atesta o sofrimento de centenas de milhares de mulheres e meninas, eufemisticamente chamadas de 'mulheres de conforto', que foram transformadas em escravas sexuais pelas forças armadas imperiais japonesas em 13 países da Ásia-Pacífico entre 1931 e 1945. "

A quarta figura da escultura retrata uma mulher mais velha, Kim Hak-sun, a primeira mulher a falar sobre sua experiência durante a ocupação japonesa da Coreia na guerra.

De acordo com a declaração da prefeita de São Francisco, este monumento é "um símbolo da luta enfrentada por todas as mulheres que foram e são atualmente forçadas a suportar os horrores da escravidão e do tráfico sexual".

"Essas vítimas merecem nosso respeito e este memorial lembra a todos sobre acontecimentos e lições que nunca devemos esquecer", concluiu.