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"Buscando minha mãe biológica, encontrei irmão gêmeo que não conhecia"

Kiran e os pais adotivos: Apesar de infância descrita como feliz, indiana sentia que faltava algo em sua vida - Kiran Gustafsson
Kiran e os pais adotivos: Apesar de infância descrita como feliz, indiana sentia que faltava algo em sua vida Imagem: Kiran Gustafsson

Shaili Bhatt

da BBC News, em Gujarati

05/06/2018 12h08

"A primeira vez que vi meu irmão, eu simplesmente congelei. Não pude dizer nada. Nós nos sentamos no sofá da casa dele. Houve silêncio. E comecei a chorar."

"As primeiras palavras que ele me disse foram 'não chore'. E pegou minha mão. Todos que estavam lá também choraram. Foi um momento mágico."

Kiran Gustafsson tinha 33 anos quando encontrou seu irmão gêmeo pela primeira vez.

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Foi uma reviravolta inesperada em uma jornada bastante emocionante.

Kiran tinha voltado à Índia para procurar sua mãe biológica. A última coisa que esperava encontrar era um gêmeo desaparecido.

Criada na Suécia por sua família adotiva, ela diz que teve pais calorosos e amorosos que lhe deram tudo o que uma criança poderia querer.

Seus pais, a professora aposentada Maria Wernant e o empresário Kjell-Ake, sempre foram abertos sobre o fato de ela ter sido adotada aos três anos de idade de um orfanato em Surat, no Estado de Gujarat, no oeste da Índia - um período do qual diz não ter recordações.

'Havia algo faltando'

"Meus pais nunca me fizeram sentir diferente (por ser adotada). Eles sempre disseram para eu me orgulhar do que sou. Eu não poderia pedir mais nada em minha criação", disse ela à BBC.

No entanto, ela diz que sempre sentiu que havia algo faltando. Ela tinha ciúmes da ligação que existia entre seus dois irmãos mais novos, por exemplo. Sentia que eles eram próximos um do outro de um jeito que nunca seriam dela.

Com o passar do tempo, ela diz ter sentido uma sensação de vazio cada vez mais intensa.

Finalmente, se abriu para sua família sobre isso. Ela recebeu apoio, e, no ano 2000, todos embarcaram juntos para Surat, sua cidade de origem.

Em 2005, Kiran retornou à cidade, desta vez, com sua turma da faculdade, de um curso sobre sociologia e direitos humanos.

Mas essas viagens que a deixaram com uma série de dúvidas.

De volta para casa, na Suécia, ela pesquisou mais sobre sua adoção, foi atrás de mais detalhes sobre o orfanato e, em 2010, decidiu procurar a mãe biológica - só não estava certa de como deveria proceder.

"Meus pais estavam bem com a minha decisão. Eles me disseram que estavam orgulhosos de mim e que me amavam", disse ela.

Mas ela levou a ideia adiante somente seis anos depois.

Em 2016, Kiran, agora consultora de carreira, assistiu a uma palestra de Arun Dohle, co-fundador da ONG holandesa Against Child Trafficking (contra o tráfico de crianças, em tradução literal). Assim como ela, ele era de origem indiana. Assim como ela, ele havia sido adotado.

Durante a palestra, Dohle descreveu sua própria batalha legal para obter informações sobre sua mãe biológica na Índia.

Inspirada, Kiran começou a se comunicar com Dohle. Ele a pôs em contato com Anjali Pawar, que trabalhava na área de proteção infantil e concordou em ajudar.

Através de suas investigações, Pawar conseguiu descobrir a identidade da mãe de Kiran. Seu nome era Sindhu Goswami e ela trabalhava como empregada doméstica em Surat.

Ela também descobriu que Kiran tinha quase dois anos quando sua mãe a deixou no orfanato. Que fez, no entanto, visitas frequentes para vê-la e que deixou seu endereço de trabalho no local.

Munida com estas informações, Kiran retornou à Índia em abril, acompanhada por um amigo. Ela conheceu os ex-empregadores de sua mãe, mas a informação que eles lhe deram não foi suficiente para que prosseguisse. Eles não sabiam onde Sindhu estava, nem mesmo se estava viva. Mas lhe deram uma fotografia, Sindhu segurando uma criança.

"Nós somos parecidas", diz Kiran.

Foram dias emocionais para Kiran. Mas o maior choque ainda estava por vir.

Pawar conseguiu encontrar sua certidão de nascimento. Foi quando Kiran descobriu que tinha um irmão gêmeo.

"Foi inacreditável. As perguntas que eu tinha sobre sentimentos de conexão e pertencimento foram respondidas. Fiquei chocada. Foi incrível", disse Kiran.

Ela decidiu começar a procurar pelo irmão.

Esta, felizmente, não foi uma busca difícil. Ele havia sido adotado por uma família de Surat e, atualmente, era empresário.

Encontrá-lo pessoalmente, porém, não foi fácil. Sua família nunca havia lhe dito que ele era adotado. Estavam relutantes. E foi preciso muita persuasão para que concordassem em lhe contar a verdade.

Finalmente, os gêmeos se encontraram em uma reunião emocionante.

"Nós nos descobrimos, mas ainda temos tantas perguntas. Ainda há tristeza", diz Kiran.

Ela diz que seu irmão, que pediu para não ser identificado na mídia por enquanto, disse a ela "que tinha exatamente a mesma sensação de que estava faltando algo em sua vida".

"Quando nos despedimos naquele dia ainda era surreal, então não falamos muita coisa."

Os irmãos decidiram se encontrar no dia seguinte para conversar mais, no hotel em que Kiran estava hospedada.

"Ele me disse que estava com medo de me perder de novo. Não quis me ver indo para o aeroporto, então saiu antes", disse Kiran.

"Quando nos separamos, ele me deu um abraço e saiu com o pai dele. Naquele momento eu me senti tão vazia. Mas ele me prometeu que iríamos comemorar nosso próximo aniversário juntos na Suécia."