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ONG britânica oferece apoio a pessoas que perderam irmãos gêmeos

Em estudo, psicoterapeuta diz que gêmeo sozinho passa o resto da vida buscando vivenciar aquele tipo de proximidade que sentiu com o irmão - Thinkstock
Em estudo, psicoterapeuta diz que gêmeo sozinho passa o resto da vida buscando vivenciar aquele tipo de proximidade que sentiu com o irmão Imagem: Thinkstock

25/10/2011 08h16

Para uma psicoterapeuta britânica, o luto vivenciado por uma pessoa que perdeu um irmão gêmeo é muito particular. Tanto que, para apoiar pessoas que sofrem com esse problema, Joan Woodward criou uma organização que oferece apoio psicológico a elas.

A ONG Lone Twin Network foi fundada depois que Woodward, que perdeu a irmã gêmea aos 3 anos, convidou pessoas que haviam passado pela mesma experiência a responder um questionário relatando suas experiências.

Com base em depoimentos de 216 pessoas, coletados nos anos 80, ela publicou um estudo sobre o tema. Joan também é autora de um livro sobre o assunto:"The Lone Twin: Understanding Twin Bereavement and Loss" (em tradução livre, o gêmeo solitário: entendendo o luto e a perde de um gêmeo).

Incompletude

Em entrevista à BBC, a psicoterapeuta disse acreditar que no seu próprio caso, por exemplo, a perda da irmã, apesar da pouca idade, teve um efeito profundo e duradouro. "Não há dúvida de que isso produziu níveis extremos de ansiedade, e de que eu me sentia muito solitária."

Joan disse que essas pessoas passam o resto de suas vidas buscando vivenciar novamente aquele tipo de proximidade que sentiram com o gêmeo. "E o mais difícil é que você anseia por achar aquela proximidade de novo, mas ela nunca está disponível."

Em suas entrevistas, Joan conversou com pessoas que perderam gêmeos em diferentes fases da vida: ao nascer, na infância e na idade adulta. "Muitos se surpreendem com o quanto uma pessoa que perdeu o gêmeo ao nascer pode ser afetada pela experiência", explicou.

Segundo a psicóloga, as evidências demonstram que o que realmente importa para os gêmeos é a resposta dos pais àquela perda.

"Para as mães, essa experiência agonizante de ter dois filhos, um morto e o outro vivo, é muito traumática e dolorosa. Uma parte de você adora (um dos bebês) e se sente feliz, outra está de luto e desesperadamente triste."

Depoimentos

Depois de ouvir as experiências de outros gêmeos, Joan decidiu criar um grupo de ajuda a pessoas na mesma situação. No site da organização, alguns dos membros tentam colocar em palavras - muitos, pela primeira vez - o que significa a perda de um irmão ou irmã gêmea.

Em um deles, um homem com cerca de 60 anos cuja irmã gêmea morreu ao nascer diz:

"Durante aqueles dois primeiros anos, eu chorei - assim me contam - mantendo todos à minha volta acordados". (...) "46 anos, 157 dias, duas horas e meia mais tarde, a morte de minha irmã gêmea ainda me consome. (...) Fiz a minha estreia no mundo como um assassino - diz a lenda. Isso eu sei não ser verdade. O corpo físico de minha irmâ morreu no nascimento, mas ela sempre foi parte de mim. Brincamos juntos quando crianças, falamos e compartilhamos muitas coisas. Vivemos como (se fôssemos) um".

Outra integrante do grupo fala da morte do irmão Arnold, já adulto. "Faz 15 anos desde que Arnie morreu e ainda me sinto tão machucada. (...) Ele era meu amigo, minha alma gêmea, parte de mim. (...) Quando você tem um gêmeo, de certa forma há uma aceitação completa de que ele é uma parte de você. E essa parte hoje está faltando".

A ONG Lone Twin Network conta hoje com cerca de 600 membros. Eles se reúnem duas vezes por ano para compartilhar suas experiências e também podem contactar uns aos outros, se tiverem interesse.

"Não é um grupo de terapia", explicou Joan. "É o que os gêmeos podem oferecer uns aos outros, ouvindo e compreendendo as experiências uns dos outros."