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Vítimas de abuso criam rede de apoio a mulheres que denunciam João de Deus

João de Deus - AFP
João de Deus Imagem: AFP

Priscila Mengue

do Estadão Conteúdo

13/12/2018 08h24

Uma rede de vítimas de abusos sexuais está envolvida no acolhimento das mulheres que teriam sido abusadas pelo médium João de Deus. Mais de 200 pessoas já denunciaram o líder espiritual no Ministério Público.

Um desses grupos de apoio é o Vítimas Unidas, criado por mulheres abusadas pelo ex-médico Roger Abdelmassih, enquanto, o outro, é liderado pela ativista Sabrina Bittencourt, que criou o movimento Combate ao Abuso no Meio Espiritual (Coame).

Sabrina diz ter recebido ao menos 185 denúncias contra 13 líderes espirituais brasileiros desde setembro. Ela começou a reunir os relatos após mulheres relatarem supostos abusos cometidos pelo guru Sri Prem Baba, conforme revelou a coluna da jornalista Mônica Bergamo. "Me impactou muito, porque tinha amigas que eram muito devotas dele."

Em contato com supostas vítimas do guru, Sabrina teria percebido que as mulheres estariam sofrendo ameaças, o que a motivou a criar um movimento organizado de denúncias. Em um mês, foram 103 relatos, que foram somados a cerca de 82 de domingo a terça-feira, 11. "Estamos começando com um dos mais conhecidos, mas vai ser um efeito cascata", diz.

Segundo ela, as revelações serão feitas conforme as supostas vítimas receberem apoio psicológico e jurídico do grupo. Dentre elas, estaria Dalva Teixeira, de 45 anos, uma das filhas de João de Deus, que teria sofrido abusos do pai dos 9 aos 14 anos. O Estado tentou contato com o advogado de Dalva, que não retornou às ligações.

A ativista também promove a campanha #OprahWeNeedYou para pedir que Oprah Winfrey se posicione sobre o caso após ter promovido o médium na televisão norte-americana. Por meio de nota, a apresentadora disse ter "empatia" pelas supostas vítimas do médium, além de ter retirado vídeos com o líder espiritual de seu site.

Já o grupo Vítimas Unidas recebeu a primeira denúncia contra João de Deus há cerca de três meses. Parte das integrantes se organiza para atender e dar apoio psicológico às mulheres à distância. "A pessoa, quando vem para a gente, vem muito fragilizada, muitas vezes cria perfil falso, para não ter a identidade revelada té ter confiança", conta Maria do Carmo Santos, presidente do Vitimas Unidas e psicóloga.

"O fato dela conversar com pessoas que foram vítimas também de pedófilos ou de estupradores, e terem sobrevivido, faz com que ela muitas vezes perceba que também vem fragilizada, em um momento que acha que não vai dar conta daquela situação."

Maria do Carmo costuma ressaltar às vítimas que a denúncia é uma forma de evitar novos abusos. Embora seja presidente do grupo, ela sofreu um abuso não relacionado a Abdelmassih. "Eu não posso modificar o meu passado, mas posso modificar o meu presente e o meu futuro, impedir que outros passem pelo que passei."

A psicóloga contra que a maioria das mulheres procura o grupo por e-mail ou pelo Facebook. "À medida que ganham confiança, a gente troca número de WhatsApp, de celular", conta. "É muito similar ao caso do Roger (Abdelmassih), tem uma fumacinha aqui, outra lá, aí vai juntando."

Outras vítimas do ex-médico criaram um grupo no Facebook chamado "Vítimas de Assédio de João de Deus", que reúne mais de 80 mulheres. Dentre as moderadoras, estão Teresa Cordioli e Ivany Serebrenic, que denunciaram publicamente Abdelmassih.