Ser mulher em países da Copa

Poder, aborto, voto e direitos básicos: descubra a situação feminina nos 32 países do Mundial da Rússia

Paulo Cesar Martin e Matheus Souza (colaboração) Da Universa

Islândia melhor do mundo? Brasil numa modesta colocação na tabela atrás até da vizinha e rival Argentina? 

Além de evento esportivo mais popular do planeta, a Copa de futebol que começa hoje na Rússia é a grande chance de conhecer como 32 sociedades diferentes entre si tratam as questões dos Direitos da Mulher. Ou, às vezes, a falta deles.

A Universa mostra como estes países do Mundial se saem com temas recorrentes do cotidiano feminino como a igualdade com os homens, aborto, voto e mortalidade materna. Mesmo com grandes conquistas e a evolução no protagonismo, a disparidade segue como uma grande barreira.

Na Arábia Saudita, as mulheres conseguiram o direito ao voto somente a partir de 2015. Na Suécia, por exemplo, elas exercem esse direito desde 1862. E apenas três países dos 32 têm uma mulher na chefia do governo: Alemanha, Inglaterra e Croácia.

Confira abaixo outros dados importantes e até chocantes! A discussão está aberta.

Brasil ocupa "meio de tabela para baixo" na igualdade entre homens e mulheres

Imagine juntar num ranking só quatro grandes assuntos que mexem diretamente com a vida da mulher no mundo?

1) Participação e oportunidade na economia; 2) Acesso à educação; 3) Saúde e condições de vida; 4) Empoderamento político. É isso que o relatório "Global Gender Gap Report", do Fórum Econômico Mundial, faz desde 2006 para medir a igualdade entre homens e mulheres de 144 países.

É aqui que a Islândia, estreante em Mundiais de futebol, é campeã absoluta desde 2009. Na outra ponta está o Irã, onde a presença feminina no parlamento é só de 6%.

O Brasil não tem muito o que comemorar. O país está ?do meio da tabela pra baixo? no último relatório, na 90ª colocação (23º, se contarmos apenas as nações da Copa). Na América Latina, o Brasil está atrás de México (81º), Venezuela (60ª), Uruguai (56º), Argentina (34º) e Bolívia (17ª), líder da região no ranking e que nem na Copa está.

Islândia: a greve que mudou tudo

Uma greve geral de mulheres em outubro de 1975 parou 90% das atividades islandesas e iniciou a transformação que acabou levando o pequeno país europeu de 350 mil habitantes à liderança da igualdade de gêneros do Fórum Econômico em 2009.

Rússia: país-sede mal no ranking

A sede da Copa teve na Revolução Russa de 1917 a liberação do voto feminino. Mas hoje é um país com só 16% de mulheres no parlamento e com uma legislação branda contra a violência doméstica. Ocupa a 71ª posição em igualdade (21º entre países do Mundial).

Brasil: aborto com restrições

Com índice alto de mortalidade materna (56 mães morrem em cada 100 mil bebês nascidos --na Suécia são quatro mortas), o aborto liberado com restrições e 11% de mulheres no parlamento, país está bem longe do título de campeão de igualdade.

Irã: "lanterna" em igualdade

Autoritarismo político e extremismo religioso resultam em 6% de mulheres no parlamento com maioria das leis para elas barradas pelos radicais. No Irã, 140º lugar no ranking do Fórum (32º e último entre os países da Copa), as mulheres são 19% da força de trabalho.

Metade dos países da Copa do Mundo tem o aborto legalizado

O aborto é liberado sem qualquer tipo de restrição em 16 dos 32 países que estarão na Rússia, aliás, o primeiro do mundo a legalizar o procedimento em 1920.

A maioria que libera o aborto está na Europa. Nas demais nações, incluindo o Brasil, o aborto é permitido, mas com regras rígidas baseadas no risco de morte à mãe, estupro, incesto ou comprometimento do feto.

Nesta metade que restringe as condições, os debates morais e da legitimidade das leis entre grupos "pró-vida" e "pró-escolha" têm registros no longínquo Código do Rei Hamurabi, da Mesopotâmia, século 18 Antes de Cristo, que já falava em reparação a mulheres que sofreram aborto por violência. E atravessa a história em batalhas intermináveis e condições peculiares. No México, por exemplo, cada estado tem sua lei. Alguns permitem, outros não.

E a discussão mais recente acontece na Argentina, onde o congresso acabou de aprovar a descriminalização do aborto. Uma série de marchas e protestos aconteceram no país vizinho até a votação dos deputados no dia 14 de junho. Agora, a lei precisa passar pela aprovação do Senado e ser sancionada pelo presidente. 

O número de países que não restringem pode subir para 17 em breve. Mas o debate ainda vai longe.

Suecas votaram pela 1ª vez no século 19 e as sauditas há três anos

A busca pelo simples direito de votar é uma briga que acompanha a mulher desde a Grécia Antiga, onde a democracia deu os primeiros passos, mas era vetada a participação feminina nas decisões.

O final do século 19 é um marco para mudar esse quadro com as "suffragettes", ativistas feministas pioneiras no Reino Unido. Elas ganharam as ruas, foram massacradas numa batalha que se arrastou até a conquista do voto em 1918. Entre as nações da Copa da Rússia, a Suécia é campeã do voto, com a liberação em 1862.

O poder de decisão na escolha de seus representantes na política é uma reivindicação que atravessou todo o século 20 e chega de maneira irregular aos dias de hoje. A Austrália, por exemplo, permitiu o voto das mulheres em 1902, mas só em 1962 abriu as eleições para os aborígenes.

Na abertura da Copa do Mundo hoje, a Rússia enfrenta a Arábia Saudita, país onde as mulheres puderam votar e se candidatar pela primeira vez há três anos!

Por conta de um regime político ultraconservador, a Arábia foi a última nação do mundo a conceder o direito. Em junho de 2015, as sauditas votaram numa eleição de vereadores. Mesmo assim, questões burocráticas, candidatas ativistas barradas e dificuldades de locomoção (as mulheres só conseguiram o direito de dirigir carros neste ano) atrapalharam a votação.

Entre os 32 países do Mundial, apenas três têm mulheres no poder

Angela Merkel (Alemanha)

Ligada à política alemã desde a década de 80, a chanceler de 63 anos é considerada a mulher mais poderosa do mundo, liderando a superpotência europeia desde 2005. Nasceu em Hamburgo e é formada em Física.

Kolinda Grabar-Kitarovi (Croácia)

Eleita em 2015, a ex-diplomata de 50 anos é a 1ª mulher a presidir a Croácia. Fala inglês, espanhol e até português, além de sua língua natal. Vem de origem humilde, nasceu numa aldeia perto do mar Adriático.

Theresa May (Inglaterra, Reino Unido)

A primeira-ministra é a 2ª mulher a governar o Reino Unido (a outra foi Margaret Thatcher). Aos 61 anos, está no cargo desde 2016, após a renúncia de David Cameron no referendo que tirou a nação da União Europeia.

Países africanos lideram estatística de grávidas mortas

Segundo a Organização Mundial da Saúde, este tema refere-se às mortes de mulheres durante a gravidez ou em até 42 dias após o término do período gestacional. É calculada a cada 100 mil nascimentos. É um importante referencial de análise da existência e condições de políticas públicas que assegurem a saúde da mãe durante o período gestacional.

Dos 32 participantes da Copa de futebol, a Nigéria tem números que chocam: 630 mães morrem em seu período de gravidez em 100 mil crianças nascidas, segundo os indicadores sociais da ONU. No Senegal, são 370 mulheres. No Marrocos, cem.

Alguns países latino-americanos também escancaram precariedade. Colômbia e Panamá registram 92 mortes cada um e a Argentina registra 77. No Brasil, o número não é bom: 56 grávidas morrem em cada 100 mil bebês que nascem. Registro distante dos melhores neste quesito: Suécia (4), Polônia, Japão e Islândia (5), Espanha (6) e Austrália (7).

Melhorar as condições das grávidas é o novo foco da US Women, setor da ONU que acompanha diretamente a situação da mulher no mundo.

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