A herdeira das Arábias

Bruna Saraiva, primogênita do dono do Habib's, conta seu caminho na "maior rede de fast food árabe do mundo'

Dinalva Fernandes Colaboração para Universa
Carine Wallauer/Universa

“Sempre soube que queria fazer parte desse mundo. Cresci indo para eventos gastronômicos e restaurantes e, quando fui para a faculdade, escolhi Administração”. O caminho para se tornar uma das diretoras da empresa fundada pelo pai, o médico português Antônio Alberto Saraiva, há 30 anos, não foi repleto de dificuldades. O que não significa que Bruna Saraiva, de apenas 29 anos e diretora de Assuntos Estratégicos do Habib's, não teve que trabalhar muito. 

Bruna entrou na empresa como trainee, passou pelas áreas de Operações, RH e Marketing e foi gerente de Projetos Corporativos até chegar à diretoria. Nesses postos, participou de mudanças e processos importantes da empresa que, hoje é a maior rede de fast food árabe do mundo, segundo Bruna.

Nascida apenas um ano depois que seu pai criou o Habib's, Bruna, que é a primogênita de cinco filhos, alterna seus dias na empresa nos papéis de diretora, herdeira e acionista. Já enfrentou perrengues: "Às vezes, as pessoas conversam comigo sem me dar tanta importância". Mas aprendeu a lidar com o caso: "Sempre me portei de acordo com o cargo que exerço, e não como filha do dono".

Casada há poucos meses, ela diz que o marido “se orgulha de ter uma mulher executiva” – que trabalha de sábado e nem sempre pode viajar com ele - e, para relaxar, Bruna desenha, adora ir a museus e faz ginástica: às seis da manhã ou dez da noite.

Quais foram os seus principais feitos como chefe?
Participei de grandes projetos que profissionalizaram a empresa, como a parceira com a Deloitte (uma das maiores empresas de consultoria do mundo), que estabeleceu um planejamento estratégico e preparou a empresa para a sucessão. Nosso fundador vai passar o bastão para o CEO, o que é um processo delicado, ainda mais em uma empresa familiar, como a nossa, que cresceu muito rápido: o Habib’s é hoje a maior rede de fast food árabe do mundo. A empresa tem cerca de 500 lojas e vende R$ 680 milhões de esfirras por ano. 

Comecei no Habib's como trainee e, por dois anos, passei por quase todas as áreas da empresa, como Operações, RH, Marketing e fui também gerente de Projetos Corporativos. Essa experiência fez com que eu crescesse bem rápido na carreira e, hoje, me ajuda neste cargo de diretoria. 

Quais erros cometeu como chefe? E o que aprendeu com eles?
Acho que o principal foi não saber delegar. Gosto de botar a mão na massa e terminava acumulando tarefas. Aprendi não só a passar responsabilidades, mas também, que é necessário acompanhar o trabalho da equipe para que ele seja finalizado num tempo hábil.

Em uma empresa de fast food, com ritmo tão acelerado, é importante olhar o resultado do dia anterior, para saber se a estratégia está correta e seguir com ela no dia seguinte.

Enfrentou preconceito por ser mulher? E por ser filha do chefe?
Tem muitas “brincadeiras”. Nas reuniões, normalmente, os homens são 80% da sala e acontece de perguntarem se meu marido não fica chateado por eu trabalhar tanto. Em relação a ser filha do fundador, às vezes, as pessoas conversam comigo sem me dar tanta importância. Mas sempre me portei de acordo com o cargo que exerço, e não como filha do dono. Nunca senti pressão para trabalhar aqui; pelo contrário, sempre soube que queria fazer parte desse mundo.

Cresci indo para eventos, restaurantes, convenções e, na faculdade, fiz Administração. Desde cedo, me preparo para chegar onde quero, seja na cadeira de presidente ou em um cargo de liderança que ajude a tornar a marca maior do que ela já é.

Na sua área, quais as vantagens que uma chefe mulher leva?
De forma geral, a mulher é perfeccionista. Ela tem cuidado com a entrega do trabalho, o que cria um padrão superior. Além disso, costuma ter mais de empatia. Em uma posição de liderança, saber ouvir e entender os anseios dos colaboradores gera uma relação de confiança com a chefia e, consequentemente, com a empresa.

Bruna com Alberto Saraiva, (Gabo Morales/Folhapress, 2013)

Com quem uma chefe mulher normalmente pode contar dentro da empresa?
Acho importante ter uma figura que te inspire como mulher, tanto pessoal quanto profissionalmente. Desde que entrei aqui só tive chefes mulheres e isso me ajudou muito.

Na sua experiência, mostrar fraquezas ajuda ou atrapalha?
Mostrar fraqueza nunca é bom. Mas você precisa demonstrar que também erra, que cansa, que se estressa. Isso não é sinônimo de fraqueza, mas de humanidade; e cria laços com os funcionários, o que ajuda na qualidade do serviço. É claro que tem que ser na hora certa; não durante uma reunião, por exemplo.

Qual a sua estratégia para curtir o marido e manter hobbies?
Sou casada há menos de um ano e meu marido entende quando chego tarde e se preciso trabalhar no sábado. E ele tem orgulho de ter uma mulher executiva. Quero ter filhos, mas não cinco, como meu pai teve. Adoro correr. Às vezes, vou às seis da manhã. Se não der, vou às dez da noite.

Acho importante me sentir bonita. Faz diferença na atuação profissional porque me sinto mais confiante. Tenho uma conexão com a arte desde pequena, desenho, pinto, leio livros de arte e vou a museus. Isso me relaxa.

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